domingo, 31 de janeiro de 2010

O IMPÉRIO DO AMOR 5 X 3 O JARDIM DE INFÂNCIA DA FELICIDADE


ESCRITO A MILÉNIOS

Quando eu me dispus a escrever estas crônicas, achei que a melhor coisa a fazer, era não tocar em religião, futebol e política, mas o Brasil é uma coisa tão sui-generis que não dá para simplesmente deixar de lado a política. O presidente Lula e o PT cometem tantas gafes e pisam tanto na jaca, que se tornam a nova versão do samba do crioulo doido.

Mas hoje acho que tenho que fazer outra exceção, pois o FLA-FLU deste domingo foi épico. E como só os épicos se tornam irritantes, o FLA-FLU é a mais irritante das situações tanto para  botafoguenses quanto para cruz-maltinos, pois, eles nunca poderão participar de um FLA-FLU.

Nelson Rodrigues uma vez disse que a multidão nasceu do FLA-FLU. Ontem eram não mais de 60,000. Muitos tricolores sentiram que o genocídio poderia ser o maior desde a guerra do Paraguai. Afinal de um lado o Império do Amor, do outro um Jardim de Infância da felicidade! 


O que era de se esperar? Evidentemente que genocídio culposo. Pois bem, acredito que o placar de 5x3 foi até ameno, pois, quando um hexacampeão brasileiro e tri campeão carioca, enfrenta um time que suou sangue para se manter na primeira divisão do futebol brasileiro, com um homem a menos e de virada, em apenas 45 minutos, este 5x3 estava de muito bom tamanho. Foi a meu ver barato.

Evidente que a discussão sobre futebol é um covil de discórdias e divergências. Qualquer piada mal colocada o pode levar ao necrotério. Mas no primeiro tempo a gurizada fez os experientes jogadores do Flamengo de gato e sapato. Faziam piruetas inadmissíveis. Firulas indescritíveis. Três gols que poderiam ter sido 5 ou 6. A torcida tricolor delirava, subindo pelas laterais do estádio como lagartixas profissionais (Nelson Rodrigues me mandou esta mensagem, no intervalo da peleja). Bismark, por muito menos, teria pedido cidadania francesa. Napoleão teria pedido uma patente inferior no exército de Wellington. 

O Flamengo teve sorte. E para aqueles que pensam ser a sorte um dom abominável, lembro que ninguém é campeão sem uma grande dose de sorte. Mas a verdade é que tive ímpetos de mudar de canal e assistir Genova e Nápoles com locutores mexicanos. Mas, imbuí-me do espírito que se houvesse uma queda que o Flamengo caísse qual Cesar nas escadarias do senado: com classe e pompa.

Na virada do segundo tempo, o Fluminense parecia absoluto. Tinha em suas entranhas o absolutismo do juízo final. Os meninos entraram em campo sorrindo abaixo de suas meleixas de santinho barrocos. Só que quiseram manter a supremacia usando sapatos altos, como aquilo fosse um piléria. Esqueceram-se que há quase de dois anos não sabiam o que é ganhar do Flamengo. Desde 10 de Fevereiro de 2008. Dois carnavais. Quase três. Foi o primeiro passo para que a escrita fosse mantida.

Mas até aí nada. Sempre haveria a chance do empate. E o Flamengo, agradeceu a lancinante candura ofertada por seu adversário e aproveitou a oportunidade. Em 8 minutos empatou o jogo.

O impossível se tornou realidade deixando até o juiz perplexo. Foi quando então ele resolveu equilibrar as coisas. Expulsou o beque central rubro negro. 11 contra 10 era o número que manteria a igualdade naquela conjuntura. A expulsão foi justa? Creio que sim. Mas houve excessos do outro lado não coibidos.

Confesso que não senti firmeza em uma vitória, pois, o Sobrenatural de Almeida poderia a qualquer minuto ressuscitar e arrumar outro penalty para o tricolor das laranjeiras. Outrossim, aprendi depois de anos de observações futebolísticas, que não se derruba uma bastilha, se conquista a lua, ou mesmo um campeonato carioca sem sentimento, sem coração. E isto sobra para todo aqueles que joga sob o manto sagrado rubro negro. O Flamengo é o único time que não usa uma camisa. Usa um manto, e que é sagrado. 


Agora quando estava 3x3 e o Cuca - que sempre primou por desastrosas modificações - trocou um beque por um atacante, simplesmente assinou o atestado de óbito de seu time. Acabava de mandar seu recado. Menosprezava seu adversário e partiria para a degola. Adriano não era nada! Um beque de várzea seria o suficiente para pará-lo. Ledo engano. Doce ilusão. Obrigado tio cuca, você continua o mesmo...

Adriano e Vagner Love, se sentiram feridos em seus brios e a sucessão de gols veio. Depois do 2 e 3, vieram o 4 e o 5. O último, de autoria de Adriano foi sublime. Foi um gol em câmara lenta, o que deixou a torcida tricolor em total desespero. Adriano, olhou para trás e caminhou sozinho tendo a sua frente apenas o goleiro, para executar seu adversário bem devagarinho. Não era suficiente apenas fazer o gol. Era necessário que aquelas crianças tivessem o doloroso e moroso conhecimento que a morte estava próxima. Só assim a lição poderia ser aprendida.


Mas como 5 goals em uma defesa até então nunca vazada. O profeta Vagner Love, antes do inicio do jogo, ao ser entrevistado, predisse: sempre há uma primeira vez. E a defesa virgem, imaculada foi deflorada em um estupro inevitável. O placar não estava apenas justo. Estava escrito nas tábuas de Moisés, bem lá no cantinho abaixo do décimo mandamento. Flamengo 5 x Fluminense 3, 31 de janeiro de 2010. Moisés que não acreditava até então que aquele mundo durasse tanto, ficou ainda mais perplexo ao saber daquele placar e de como ele se constituiria, já que era profeta e teve toda a visão do que iria acontecer. 


Desde aquele dia se tornou fervoroso torcedor do Flamengo, assim como seu Senhor.