quarta-feira, 30 de setembro de 2009

EXERCICIO AO ASCETISMO

EXERCICIO AO ASCETISMO






Uma característica humana é a de temer aquilo que não se conhece. 
Isto é o inicio de um exercício ascético. 
Então, ao invés de se tentar compreender o que realmente está acontecendo, simplesmente  apela-se para o caminho mais fácil sempre que possível: 
os fatores circunstanciais.

Existe coisa mais subjetiva que os fatores circunstanciais? Ou quem sabe teríamos que nos abster de uma física quântica regressiva? Como entender? Basta apelar como fizeram outros presidentes.

Jânio Quadros apelou para as forças ocultas, para tentar justificar um golpe demagógico com sua pseudo renuncia. Esperava que o povo o trouxesse de volta e ficou esperando que isto acontecesse, até o final de seus dias. Ou Getulio que apelou para o tiro que tinha direção a seu coração e não ao major Vaz, que protegia Lacerda. O primeiro tiro saiu pela culatra e ele teve que se utilizar um segundo, de sua própria arma e com isto deixou os militares e a UDN mais uma vez sem chance de assumir o poder, num golpe de mestre. Ou quem sabe Collor que pediu que o povo fosse para a rua defender seu mandato e ao contrário viu muita gente de cara pintada de verde e amarelo, exigindo sim, por seu impeachment?

Será que fatores circunstanciais como estes, validariam algumas opiniões emitidas por nosso presidente. Ou estaríamos presenciando outro exercício ao ascetismo?

O Brasil, apesar de todos os pesares está vivendo um momento de calmarias. São 15 anos de uma travessia sem tsunamis e maremotos, logo, quanto menos se falar, melhor. Em boca fechada não entra mosca. Mas a discrição não parece ser o forte da atual administração. Viaja-se muito! Fala-se muito! Aparece-se muito!

Acredito que não devamos nos comprometer, da maneira que o fanfarrão Hugo Chaves - a melhor coisa que aconteceu na America do Sul, juntamente com Evo Morales”, segundo palavras textuais de nosso presidente - o vem fazendo e comprometendo a imagem de seu pais. Isto seria uma regra básica de diplomacia, a ser levada a sério.

Na verdade regras no nosso Brasil varonil, de céu cor de anil são erigidas com a plena consciência que não deverão ser cumpridas, apenas compridas. Quanto mais extensas, mais importantes o são. Coisa para inglês ver. Observem a diferença de números de páginas entre as constituições norte-americana e a brasileira. Um simples adendo levado a efeito por um parlamentar na constituição brasileira, possuí o dobro de volume que toda a constituição norte-americana.

A verborragia parlamentar tupiniquim é críptica, estonteante, repleta de adjetivos e citações históricas, mas no frigir dos ovos, altamente inócua. Repleta de lacunas, onde oportunidades têm seu espaço garantido se houver necessidade de uma distorção estratégica. Tudo feito conforme a necessidade para tal. Garanto que seus zigomas irão enrubescer ao ouvi-las atentamente. Porém, o verdadeiro teor, muitas vezes está invisível e certamente inaudível.

O político brasileiro não tem o dom da síntese. Ao contrario quando se apega a um microfone, nunca mais o quer deixar. Ver o presidente do senado discursar é um ato de contrição e penitencia. O que pode ser dito em duas linhas, leva vinte e duas. Neste ponto prefiro ouvir nosso presidente, mesmo levando-se em consideração que a concordância entre os verbos não seja o seu forte.

Recebi de uma amiga Facebook uma opinião bastante forte em relação aos dotes do presidente Lula, atribuída ao ex-governador de Santa Catarina, Esperedião Amim:

“O pior atentado que se pode cometer contra Lula, além de alvejá-lo com um mortífero dicionário, é atirar-lhe um carteira de trabalho”.

Não acredito que seja esta a forma correta de se dirigir ou emitir uma opinião sobre um presidente da república. Qualquer que seja a republica. Pois, na verdade, independentemente quem esteja exercendo o cargo, a presidência de um pais é uma instituição, que deve ser respeitada como a bandeira, a moeda e o hino. Houveram brasileiros, que nele votaram e a maioria o levou ao poder. Se o seu português não agrada ou se ele deixou de exercer a sua profissão há mais de duas décadas, isto é um outro problema.

Mas o que vamos fazer? Nascemos  crescemos assim ao som de gritos de independência fajutos, mirando impérios passados de pai para filho, vivendo republicas café com leite e outras de valor político nulo. Seguiram-se Novas Republicas, duas ditaduras duradouras e uma democracia que parece facilitar escândalos e a transformação de tudo em grandes pizzas.

Somos brasileiros e nossa miscigenação acredito que tornou-nos mais complicados. Somos a prova viva que o exercício do ascetismo existe.
albatrozusa@yahoo.com

A NECESSIDADE DO DETALHISTA

A NECESSIDADE DO DETALHISTA




Sempre tive um grande respeito pela arte russa.
Respeito não. Veneração.
Seja na música clássica, na ópera, como também na pintura,
no balé e principalmente na literatura.

Neste último setor li alguma coisa de Dostoeivski, Tolstoi, Gorki e muito de Tchekhov. Eu diria que quase tudo que tenha sido traduzido. Anton Tchekhov se tornou de longe, o meu favorito. Era objetivo, romântico e muitas vezes letal. Aí um dia lendo Rubem Fonseca, pelo qual como Nelson Rodrigues sou igualmente viciado, descobri Bábel. Nunca ouvira falar dele e descobri logo a seguir porque. Porque ele pouco escreveu.

Como Otto Lara Resende, ele deixou muito pouca coisa publicada. Porém, no livro de Rubem Fonseca, um de seus personagens afirma que: “Babel buscava padrões de excelência impossíveis de serem alcançados por qualquer artista. Por isto escreveu tão pouco, com uma exatidão, uma concisão esplendente”. Eu, que até ali, nunca imaginei que alguém poderia escrever com esta tal concisão esplendente, extasiei-me. E saí atrás do que podia colocar em minhas mãos sobre Bábel. Hoje o admiro.

Isaac Emmanuilovich Babel, era e descendência judia, nasceu no final do século passado em Odessa, num período em que o Império russo incentivava o êxodo do povo do qual descendia, para qualquer lugar fora de seus domínios. Em um levantamento para o livro que escrevo sobre uma família que passou pela Grande guerra, a segunda Guerra Mundial, a guerra fria e a queda das torres gêmeas chegou a meu conhecimento uma carta de Lavrenty Beria para Joseph Stalin pedindo permissão para executar 346 inimigos do povo. O elemento de número 12 era Babel, Isaac Emmanuilovich. Não se sabe se por suas posições jornalísticas, por sua grande amizade com Gorki, que já havia sido mandado para o espaço pelo regime em 1936, ou mesmo por ter tido um caso amoroso com a espevitada esposa de Nikolai Yezhov, o People’s Commissar for Internal Affairs da predecessora a KGB, a NKVD, Babel estava na lista negra, aquela que fazia de qualquer pessoal indejesável um virtual inimigo do povo.

Quando Yezhov entrou em desgraça (e todos sem exceção, um dia o outro, entravam na era Stalin) seguiram-no para o brejo, sua esposa e todos os seus namorados. Isto era o que representava um expurgo na época de Stalin. Quando ele fazia uma limpeza, levava a coisa a sério. Não sobrava um para contar a história. E assim se foi Babel.

Pois bem, Babel era um detalhista nas letras, como Rubens o era na pintura, Dustin Hoffman no cinema e Beethoven na música. No tocante ao último até hoje não consigo aceitar o fato que tenha ficado surdo e escrito mais duas sinfonias. Criar uma sinfonia já é difícil. Imaginem sem ouvi-la. Para mim, esta era a forma de Beethoven se livrar dos chatos - que em sua época eram inúmeros. Se fazia de surdo e não escutava ninguém.

Precisamos de um detalhista em nossa política. Alguém que observe, entenda, detecte e faça as coisas acontecerem de uma forma racional. Outro dia ouvi um comentário de alguém que afirma ter ouvido o presidente Lula afirmar que quer fazer deste seu segundo mandato algo que o faça ser reconhecido como um estadista da altura de Getulio Vargas. Não sei se é verdade ou mentira, pois, uma das características do brasileiro é fantasiar situações e colocar palavras na boca dos outros. Se assim o for, existe já muita gente esperando pela data do suicídio.

Fazer a ministra Dilma sua sucessora, talvez seja a formula de nosso presidente garantir que sentiremos, logo, logo, falta dele, da mesma forma que com dois anos na presidência, Sarney, já incitava em muita gente, uma saudade profunda dos governos militares.

Não tenho dúvidas que tanto o governo Lula, assim como o governo FHC, colocaram o Brasil finalmente nos trilhos. Estão sendo 15 anos, que o Brasil, pelo menos andou para a frente. O que se plantou nos primeiros 8 anos, foi colhido e replantado nos 7 anos seguintes. O problema, é o que vem por ai. Centralizador como sempre foi, Lula quer colocar alguém que possa ser manipulado. Clinton tentou fazer o mesmo com Gore, uma figura humana sensacional, mas sem o carisma de criar a sua própria ala. Errou o pulo, e deu Little George, que deixou os Estados Unidos na situação que ora se encontra.

Deveríamos deixar de lado, os gostos pessoais e colocar no poder alguém que possa fazer o Brasil seguir em frente. Sei que é utópico. O poder é algo que o escraviza. É duro se afastar das mordomias e entrar, de uma hora para outra, no ostracismo. Ainda mais que diferentemente da Argentina e dos Estados Unidos fica difícil para Lula fazer de sua esposa, uma seqüência natural de seu domínio político. Mas fico torcendo daqui...
albatrozusa@yahoo.com

terça-feira, 29 de setembro de 2009

TERROR E ÊXTASE

Os 1001, os Tatuzinhos,
os Boca Torta, os Minhoquinhas estão aí.



Existem livros que ficam marcados em sua memória.
Terror e Êxtase de José Carlos Oliveira é certamente um deles.
O li pela primeira vez no final dos anos 70 e creio que o reli em três ou quatro oportunidades.
Guardei em minha mente algumas de suas passagens e seus inesquecíveis personagens, 1001, Tatuzinho, Boca Torta e Heleninha a riquinha de Ipanema, que se entrega ao marginal da favela.

Foi uma forma distinta que o grande cronista do dia a dia (ou melhor da noite a noite) encontrou de revelar-se também como um grande escritor, na tessitura de uma surpreendente partitura. Como diria alguém, uma samba-enredo escrito por Hitchcock e filmado por Fellini.

Tudo uma questão de uma época. Tudo um clarão de sensibilidade daquele que é capaz de captar o momento e consegue transmitir no papel, em todos os seus detalhes.

As épocas são distintas. Se modificam com as gerações e os costumes. E com ela a literatura. Gosto de ler textos antigos não só de autores internacionais, como mesmo os nacionais e vejo quão distintas são as formas de se tratar um mesmo assunto. Descrições que parecem de outro mundo, o que determina que a sensibilidade de ver e transmitir igualmente se modifica nos seres humanos.

Vou repassar aqui alguns textos descritivos para que se possa avaliar as diferenças de uma época. Afinal descrever uma pessoa, é descrever uma pessoa. Mas como vê-la e senti-la depende de quem assim o faz e da época em que vive.

Vamos retroagir no tempo. Digamos 1916. No prefácio do Livro do Amor de Nilo Bruzzi, Valfredo Martins assim descreve o autor:

“Era um menino. Tinha a beleza das mulheres e a volúpia dos homens. Seus cabelos esvoaçantes dir-se-iam alvoroçados por caricias femininas. Nos olhos tinha o brilho inquieto das vitrinas de joalherias. Na olheiras, o violáceo dos crepúsculos e nas faces duas rosas encarnadas. Sua boca era uma papoula enfarfalhada. Depois, este Dorian Gray de Oscar Wilde surgia no luxo imprevisto das suas cigarreiras, tauxiadas de madrepérolas , dos seus anéis egípcios de lápis-lázuli, das suas cadeias de platina e ouro, das suas camisas rajadas e bizarras abrochando-lhe a gravata um esmalte veneziano, onde sonhava a figura de um pierrô melancólico...”

Bizzaro digo eu! Muito estranho, mas talvez fosse a época e os costumes, que assim o exigiam. Vamos dar um salto no tempo. Vejam a forma de José Carlos Oliveira descreve uma situação 60 anos depois:

"... Ali me tornei mocinha... janeleira, eu, tinha um namorado chamado Alcebíades, imaginem... ‘Nossa filhinha se chamará Alcelina’, prometia ele, ‘Alcelina - Alce/bíades e Ade/lina’… Pobre vingança... Pobre Alcebíades, ele não entendeu quão era fundo o meu amor, e que jóia tão sem valor a pequenina membrana que separa a mocinha da mulher... Levou a jóia. Arrancada brutalmente de minha carne, eu esmagada entre o seu corpo e o portão, ele sussurrando obscenidades na minha orelha, e nunca mais... Nunca mais Alcibíades, nunca mais Alcelina arrancada três meses depois por uma abortadeira sanguinária do Estácio... Nem mais a casa azul da Vila Feliz, derrubada a marreta e em seu lugar erguido o edifício Vila Feliz, 10 andares, 8 apartamentos por andar. Roubaram até o nome da minha infância, imaginem: Vila Feliz...Mas eu me vingo na repartição. E algo superior às minhas forças. Quanto mais humilde o requerente, mais o maltrato. Depois me envergonho de mim mesma, de minha impiedade. Mas que diabo, Deus também não faz aqui conosco?...”

Terror e Êxtase é uma aula de vivência. Um esboço traçado a um paralelo de um mundo que existe, mas que nós procuramos evitar, embora ele esteja a nossa frente e seja comentado todos os dias pela mídia.

Escrito no final dos anos 70, quando a violência no Rio de Janeiro era ainda tolerável, se é que qualquer tipo de violência possa ser tolerada, Terror e Êxtase foi qual uma profecia em que o Rio de Janeiro iria se tornar. Livro para se ler de um gole.

Passados 40 anos, o que estava escrito naquelas poucas 160 páginas de ficção tornaram-se o palco de uma cena do cotidiano carioca. Muitos se sentem polichinelos no picadeiro da vida, onde o minuto seguinte pode se tornar o final. Depende da hora e do lugar em que você se encontre.

Este é o lado do Rio de Janeiro que não posso aceitar. O lado da violência, da impunidade, do abandono e de marginais soltos no fim de semana para fazerem aquilo que sempre fizeram e inicialmente os levaram para atrás das grades.

Os 1001, os Tatuzinhos, os Boca Torta, os Minhoquinhas estão aí. As Heleninhas também e nada parece estar sendo feito para conter esta escalada que cada dia se torna maior e mais freqüente.

segunda-feira, 28 de setembro de 2009

O PÉ FRIO

O PÉ FRIO



Naquele canto do aeroporto onde o sol parecia se por, 
a fila se alongava sinuosamente como uma serpentina perdida ao vento. 
Cigarras errantes estridulavam por entre as parcas flores do singelo jardim da praça, 
cujo perfume se perdia dentro do odor da proximidade de uma cidade que de tão grande, 
já estava perdendo sua cor, seu cheiro e sua personalidade. 
Parecia esmaecida ao ver de muitos. Uma beleza de verdade transitória. 
Um encanto que passou.

Aquela sexta-feira que nascera úmida e cheia de nevoa, poucos foram os vôos alçados do aeroporto de Congonhas. Veio uma ameaça de melhora por volta das dez horas da manhã, mas o sol se negou a aparecer e só agora, no final da tarde, depois de uma chuva internitente e resquícios de queda de temperatura, é que seus raios luziram em alguns pontos da cidade.

A cidade tornou-se abafada, lacônica, irrespirável. O calor voltou em hedonística repulsividade, na sua eterna tendência de metrificar as gotas de suor pelo volume carnal de cada um dos presentes. Com dilacerada ternura, pouco a pouco uma brisa avolumou-se vindo da baia de águas paradas.

O velho aeroporto que durante décadas ligou o São Paulo ao Rio de Janeiro, agora ampliado, estava superlotado com o acumulo de vôos atrasados. Uma multidão de onipotência numérica exprimia-se numa aviltante intimidade física. Da onde estava, Orozimbo ainda aproveitava para vislumbrar a tênue luz do sol que se ia vagarosamente, Deus sabe para onde, talvez despedindo-se do expediente que não dera. Que saudade de seu pé de sibipiruna...

“Não te entendo Orozimbo. Você compra um bilhete caro para burro, impossível de ganhar, tem a sorte de ser o único premiado em mais de 100,000 caras e simplesmente se nega a ir a Coréia assistir a Copa do Mundo?

Orozimbo sempre suspeitara seu amigo ser portador de um abstencionismo agnóstico. Poder-se-ía afirmar, sem resquício de dúvida que ele estava no limite mais limitrófico da área símia. Não era na realidade culpa do amigo. Nascera prematuramente incompleto. Na verdade era bem afeiçoado, simpático mas trouxera como única oferenda ao mundo, sua especialidade em idéias gerais, que infelizmente, não demonstravam destino algum por sua sólida base de falsos valores. Seus erros de julgamento eram incomensuráveis. Ser chamado de Oró igualmente não suavizava aquela ogeriza pela qual sentia pelo companheiro de trabalho. Mas Orozimbo, em seu deformador desejo subalterno de agradar a todos, não quis colocar mais lenha na fogueira.

Orozimbo tinha vergonha de seu nome. Nunca entendera porque sua mãe uma mulher piedosa mas cativa ao mal gosto, fora batizá-lo, com o nome daquele. Só podia ser coisa do miserável do seu pai. Porque não Pedro Paulo, Raul, Antonio Maria, Rubens ou Márcio? Afinal todos eram nomes que faziam parte de sua corrente de ancestrais. Por que cargas d’água sua mãe Lindalva deixara que seu pai o batizasse justamente com o do padrinho Orozimbo? Esta era a cruz que teve que carregar por toda a sua vida. Seu calvário de adolescente. Todavia, pior do que Orozimbo, era o apelido que lhe haviam sapecado; Oró.

Oró não era nome de gente. Nunca um jogador de futebol, escritor ou cantor vencera com este nome. Nem os baianos apelavam para aquela sigla. Talvez o Leal tivesse razão; Oró não era apelido era sigla! Sigla abjeta, púria de rara repugnância. Mas mesmo rebelde em seu interior, sim, era a palavra que ele mas exteriorizava.

Orozimbo era uma ilha recalcitrante, cercada de dúvidas por todos os lados. Seus complexos indefinidos. Uns diziam ser de Édipo, outros de Electra. Ele na verdade não os reconhecia. Seu pai, um canalha de carteirinha, sempre incutira nele o complexo de azarento. Outrossim, Orozimbo embora sujeito de paz, nada respondia sem muita reflexão. Tinha aquela cara capacidade de seus ancestrais mineiros de pensar antes de emitir qualquer som. Mesmo que este fosse um subilo alô. Para que encrencar com o Giuliano? Se ele queria o chamar de Oró, que o chamasse. Na realidade Orozimbo era um resignado por convicção.

“Deve ser mesmo medo de avião. Na hora H, você arrepiou”.

“Se assim o fosse, não estaria aqui e sim num carro dirigindo para Rio de Janeiro, não é Giuliano?”

Mesmo para QI limitado qual o de Giuliano, fazia senso. Embora fosse pela primeira vez que ele estivesse viajando no aviãozinho da companhia. Ele e o Oró.  Sabia que na sede, corria uma boato a boca pequena, que o Orozimbo era uma espécie de pé frio. Daqueles que afundavam qualquer coisa que tocassem...Pensou na viagem aérea que teria que fazer...Tentou ver o lado brilhante da coisa.

“Mas porque então, homem de Deus, abdicar de um sonho de todo o brasileiro?”

“Porque sou pé frio”.

Seu ênfase shakesperiano não deixou o menor resquício de dúvida. Os colegas de trabalho, talvez não houvessem exagerado. O cara não só parecia ser pé frio, como assumia a gelidez de seus membros.

Giuliano, homem criado e vivido nas ruas do centro paulistano não acreditava nestas crendices de gente antiga. Deu uma forte gargalhada, para demonstrar desprendimento. Embora por dentro, sempre assolado por aquelas mesquinhas aspirações inferiores, começou a temer em avançar naquela verdade.

“Aonde se viu um homenzarrão como você acreditar em tolice como esta? Pé frio? Premeditação ao infortúnio”.

“Fácil para quem nunca passou pelo que fui obrigado a passar”.

“Não premedite seu futuro”.

Olhando melhor para o companheiro de trabalho, Giuliano notou que na verdade tudo no Orozimbo parecia premeditado, a começar por seu próprio nome. Afinal ninguém é batizado de Orozimbo por acaso. Só uma forte desinteria intestinal ou um total desapego a criança em seus braços, poderia fazer uma mãe desnaturada escolher um nome como estes, para um pobre cristão. Afora isto, a premeditação fazia parte do dia a dia daquele homem alto, de olhos lânguidos, de constituição esquálida, capaz de se fazer passar desapercebido em qualquer ambiente que fosse obrigado a freqüentar. Sua roupa sempre bem passada, o cabelo milimétricamente repartido, a voz comedida, o cuidado no uso das palavras, o esmero na limpeza de suas unhas, os sapatos engraxados, o relógio encoberto pelo punho engomado, a gravata de apenas uma cor, a sobriedade no terno normalmente azul marinho, os óculos de aro ao estilo pince-nez, o bigode aparado, a barba sempre feita, eram sintomas de uma premeditação hereditária.

Não havia mais dúvidas na cabeça do descontraído Giuliano. Orozimbo era realmente de um premeditação invulgar. Nata. Nada nele poderia surpreender a ninguém. Ele era mais do que um livro aberto. Ele era o livro já lido.

“Mas então porque você então teve a pachorra de comprar a porra do bilhete?”

“Para testar a minha sorte”.

“Tá ai? Você ganhou. Você é um homem de sorte. Quem tem sorte não pode ser pé frio”.

Por segundos Giuliano sentiu-se confortável. Talvez não fosse tão arriscado entrar num mesmo avião com aquele cara. Olhou para a pequena aeronave e teve impetos de desistir,

“E quem não garante que seja predestinação?” a voz do companheiro o despertou do torpor.

“Predestinação Oró? Daqui a pouco você tentará me convencer tratar-se de um complô argentino para o levar o Brasil a perder a Copa”.

A concepção hegeliana de Giuliano por segundos captou a corrente imaginativa de Orozimbo. Nunca lhe passara pela cabeça aquela possibilidade. Realmente o vendedor do bilhete dizia-se espanhol, mas poderia ser um argentino disfarçado...o filho de Maradona...

sábado, 26 de setembro de 2009

APOTEGMÁTICO OU APOSIOPÉSICO?

Apotegmático ou Aposiopésico?





Estariam estas mãos limpas?
O que você acredita mais? Na estatística ou na história?
Eu por exemplo acredito na primeira.
Confesso que acredito com certas reservas na segunda.
E o porque disto?
Porque os números dificilmente mentem, se o universo da pesquisa for fidedigno.
E muitas vezes a história não passa de algo que nunca aconteceu
e foi escrita por alguém que não estava lá.
E quando estava, pode tê-lo visto com outros olhos, distintos do seu.


Em se tratando de política aumenta em muito sua escala, pois, se torna muito fácil mistificar-se heróis, em um atividade alimentada por uma mídia que vive basicamente a procura dos escândalos e dos furos de reportagem que possam fazer ser veículo vender mais.

Antes que os detratores do óbvio venham com sete pedras, apresso-me a afirmar que não sou daqueles simplistas que acreditam que a história fala dos mortos e o futuro daqueles que hão de morrer. Acredito sim que não existe presente sem passado e nem futuro sem presente e um mínimo conhecimento do passado. Mas história tem que ser checada em três ou quatro fontes. E que ela não pode apenas estar baseada em opiniões pessoais. Há de se existir um fidedigno cabedal técnico para consubstanciar a opinião. Principalmente quando ela extrapola e se torna pública. Daí para a unanimidade pode ser um passo. E como todos nós sabemos, por Nelson Rodrigues toda unanimidade é burra, assim como o vídeotape.


Durante muitos anos trabalhei junto a mídia internacional. Não sou jornalista por formação, mas creio que muitos dos grandes colunistas que admirei também não o eram. Assim, escrevo. Outrossim, aprendi que a mídia vai do sangue aos louros com extrema freqüência. O que está localizado entre dois extremos, vende pouco jornais e não consegue manter a atenção do público por muito tempo. Não chego ao estremo de taxar os órgãos de grande circulação de necrófilos insaciáveis. Mas que um desastre, um crime de paixão e mesmo a quebra de um campeão, de vez em quando aumentam a circulação, disto não tenho dúvidas. Nem eu, nem vó Adelina, que acreditava em tudo. Até em político e assombração. Que na visão dela eram uma mesma coisa.

Na natureza nada se perdia, e nada se criava. Hoje tudo se perde, tudo se destrói, da mesma forma que na arquitetura nada se cria e tudo se copia.


Apotegmático? Aposiopésico? Não sei, escolham o que melhor lhe aprouver, todavia isto são verdades.

O problema no vida, aquela que vivemos longe das irrealidades históricas é que não existem verdades. Existem sim situações de momento, que podem se repetir em ativismos históricos. Mas os fatos permanecem e somados trazem seu conhecimento para mais perto da cultura que está se formando dentro de si.. Isto é uma lei básica de vida, que alimenta sua vivência e que afeta seu produto final; sua experiência.

O atavismo histórico é uma característica nacional. Vejam o artigo de Augusto Frederico Schmidt datado de 1947 sobre o nepotismo. Pra os menos informados, nesta data o hoje ilustríssimo presidente do senado e ex da república, José Ribamar Ferreira de Araújo Costa Sarney tinha apenas 17 anos. Era um menino. Outrossim, já devia estar prestando atenção no que acontecia no Brasil. Assim dizia Schmidt:


“Um homem no poder que outrora, há vinte anos passados digamos, tivesse a exclusiva preocupação de aninhar os seus parentes próximos ou distantes nos braços do que chamamos por hábito de Tesouro Nacional, pelo menos seria apontado como um reles aproveitador, perderia classe, diminuiria o espaço de seu prestígio: hoje ao contrário, os que tudo decidem porque são muitos não atentam nestas delicadezas, não prestam atenção a essas ridicularias, e no fundo reconhecem que tolos são os que não fazem render as oportunidades propícias, e que o primeiro dever de Mateus é cuidar dos seus... Que o tesouro do pais se transforme num poço vazio, lhe é indiferente, porque a vida é uma só e é urgente salvar a vida”.

Logo o nepotismo não é uma invenção moderna. É um fato histórico dentro do Brasil. Levado a extremos por aqueles eleitos pelo voto popular e cuja maior responsabilidade seria o de defender os interesses os que o elegeram e não os seus particulares. Autoridades estas que criaram suas próprias nações. Apenas que nestes últimos oito anos este nepotismo assumiu proporções alarmantes, dentro do quadro vigente defendido pelos senhores Sarney, Calheiros e outros do mesmo saco, aquele que prega abertamente a fraternidade explicita: coce minhas costas que eu coçarei as suas.

Apotegmático? Aposiopésico? Não sei, escolham o que melhor lhe aprouver, todavia isto são verdades.

POETRY IN MOTION

POETRY IN MOTION




Não sei quantos de vocês sabem, mas sou arquiteto por formação, 
escritor por vocação, mas agente de compra e venda de cavalos de corrida por coração. Trata-se de uma inusitada combinação. 
Mas funciona, pelo menos para mim...

Muitos anos atrás, um cliente, que praticamente iniciou comigo sua jornada como proprietário, disse muito perto de a nossa associação chegar ao fim, que eu era um poeta. Não sei com que fito o fez. Sórdida aleivosia. Impossível de se conceber, em se tratando da pessoa educada que é. Outrossim, se não foi um elogio, desculpe-me, mas assim o entendi. Porque cavalos de corrida são, para mim, poetry in motion.

O cinema e a televisão, guardadas as devidas proporções, são outras formas de colocar movimento em uma poesia. Porque me preocupei em frisar, guardadas as devidas proporções? Diria que o cinema é uma arte. Muitos a rotulam de sétima. O problema do cinema é que ele é reducionista, simplificador em sua essência. O grande texto literário de centenas de páginas vira uma dezena em um screen play e os diálogos passam a fazer parte de um script. A adaptação do livro ao cinema tem que ter no máximo duas horas de duração. Por isto, você muitas vezes escuta aquela celebre frase: gostei mais do livro.

Não deixa de ser um covardia, pois, o escritor tem o espaço que aassim o desejar. O adaptador do livro ao cinema não.

E a televisão? Tem menos de uma hora, com intervalos de dois minutos de anúncios, dentro de sua programação? É bem verdade, que este veículo tem a vantagem de poder utilizar capítulos e seqüências. Daí o imenso sucesso das novelas e mini séries. O problema é que a televisão nunca quis assumir a posição de veículo cultural. Trata-se, pura e simplesmente de um veículo de comunicação de massa, dirigido por pessoas que, basicamente, pensam em lucros, e transmitem a informação, orquestrada, para um público passivo e em sua grande maioria, de fácil manipulação. Mas, não quero me afastar muito do assunto principal.

Deixemos de lado a pulcritude de mentes doentias e levemos em conta que o cavalo de corrida é uma poesia em movimento. O ritmo, a rima, as concordâncias e a beleza, estão todas inseridas nele: em seu pedigree, nas suas formas e em sua mecânica de locomoção. Não pode se observar esta obra da natureza, polida pelas mãos da monarquia inglesa, de outra forma. Se não, estaremos condenados à catarse ou ao diletantismo espúrio. Eu ouvi de tudo. Proprietários afirmarem serem capaz de ver a alma do cavalo”, veterinários que conseguem “entrar na mente dos mesmos”, treinadores que afirmam “poder se comunicar com aqueles que treinam, enfim, existem distintas formas de expressar seu conhecimento pelo objeto em questão. Não dúvido de nenhuma delas. E porque? Porque para mim, cavalo é sentimento. Você o sente e o elege. Na realidade quando se sente o cavalo, é ele que o elege. É que nem mulher desejada. Quando você a deseja, não sabe que ela já decidiu se o deixará ou nãos e chegar a sua intimidade. Você precisa apenas estar atento, quando a porta for aberta e você convidado a entrar.

Com os cavalos acontece a mesma coisa. Eles lançam sinais que alguns são capazes de captar e reconhecer que ali está concentrada a classe necessária para aquele belo animal se tornar um campeão. Creio que em outras artes a coisa não deve ser diferente. Existe gente que vê um quadro e imediatamente identifica um novo talento. Outro o fazem nas letras. Os ingleses tem uma palavra que define bem: feeling.

Acho feeling uma palavra mais forte que sentimento, sensibilidade ou outra no gênero a ser escolhida. Por isto quando você encontra um turfista, traduzindo esta gama de pessoas, como amantes dos cavalos de corrida e não aqueles tão somente das corridas de cavalos, o acha completamente fora de orbita. E creiam, estarão absolutamente certos se assim acharem, pois, o turfista vive em um outro mundo. Um mundo próprio cheio de beleza sensações e despesas.

Infelizmente no Brasil, as corridas de cavalos não tem o charme das levadas a efeito na Inglaterra, na França e mesmo em nosso vizinha Argentina. No Brasil são mal vistas, pois, sempre os governos e a igreja fizeram questão de assim a rotular. Não me perguntem porque? É uma atividade que dá empregos a uma massa imensa de pessoas que nada poderiam fazer em outras atividades.

Quando tiverem um tempinho passem por Cidade Jardim ou Gávea, e almocem uma tarde de fim de semana. Aposto que vocês irão gostar.

sexta-feira, 25 de setembro de 2009

DÓI...DÓI PARA BURRO!

DÓI... DÓI PARA BURRO




Existem três cidades no mundo que não alugo carro: New York, São Paulo e Rio de Janeiro.
E imaginar que José do Patrocínio foi o primeiro a trazer da Europa um automóvel.
O Rio de Janeiro parou para admirar aquela invenção que ninguém
poderia supor que um dia iria existir.
O que seria dos burros que puxavam os bondes?
Os cavalos que faziam as carruagens se moverem.
E os bois no serviço das fazendas?

O mais incrível de todo é que o carro do José do Patrocínio corria a assustadora velocidade de 3 quilômetros por hora. E mesmo assim se chocou com uma árvore quando dirigido por Olavo Bilac, quando este tinha suas aulas de direção com o amigo dono do mesmo.

Pouco depois, eram desembarcados no Distrito Federal mais dois carros que pertenciam a Guerra Durval e ao capitão Cárdia. Há de se dizer que com três veículos, não houve um grande problema de tráfego a aquela altura, na capital.

Creio ser bem diferente de hoje. Não peguei os bondes, mas sim os ônibus, os lotações e aqueles ônibus elétricos que tinham antenas que se desprendiam dos cabos com extrema facilidade. Se não me enganam fora uma invenção do Lacerda. Se estiver errado me desculpem. Era muito garoto para me lembrar.

Bom ser guri. Minha única preocupação era se o sol estaria a pino e haveriam ondas no Arpoardor para o jacaré. Sim no meu tempo não havia surf ainda. Apenas jacaré com aquelas pranchas de madeira ou no peito mesmo, para se provar que era macho. O Arpoador tinha muitas pedras e a gente tinha que saber de cor onde elas estavam para não se “estrumbicar” com a prancha ou com você mesmo.

E no Arpoador tinha a Duda Cavalcanti, a Odete Lara e outras menos votadas - mas não menos dotadas - que faziam a geração de rapazes acima da minha, lá pousar e deixar-se colorir pelos raios solares. Protetor solar não existia, bronzeadores sim. Alguns que o deixavam com a cor de cenoura. Sunga, toalha e aquele toque de se fazer um montinho com o pé, para recostar-se na areia.

E o Arpoardor era o máximo. A chegada do Castelinho, um bar moderninho a beira da praia em suas imediações deixou o lugar ainda mais in, todavia o Brizola acabou com o charme do lugar. Chegou, plantou um bando de pontos finais de ônibus que vinham de inimagináveis recantos desconhecidos por nós, habitantes da vibrante Ipanema e toda a turma foi obrigada a migrar para a Montenegro. Outros, menos viris para o Píer. Mas pode-se dizer que Ipanema não foi mais a mesma. Perdeu até espaço para o Leblon, que anos antes parecia uma vila.

Viajo a trabalho e três lugares que freqüento com certa assiduidade são Londres, Paris e Buenos Aires. E estes três lugares simplesmente não mudam. As pedras que você pisa, são as mesmas que foram pisadas pelo tataravô da moça que está sentada na mesa ao lado da sua no Starbucks.

É verdade que o comercio mudou muito o perfil destas cidades. Nunca imaginei poder ver um Mac Donalds em plena Champs Elysees ou um Pizza Hunt à porta do Castelo de Windsor. Mas eles estão para provar que tudo muda neste universo. O que você tem quer fazer e adaptar-se as novas situações e lugares e deixar de ser saudosista do tipo que clama: no meu tempo... pelo menos publicamente.

Tenho saudade do meu Rio. Era bom demais. Mas este que ai está, e não mais me pertence, é também muito bom. Apenas que não mais pertenço a ele. Sou um intruso que observo, curto, admiro, outrossim mais como uma visita do que como um ex-carioca.

Imagino José do Patrocínio, o herói da abolição, vendo hoje a Rocinha e o trânsito alucinante nas principais avenidas. Ele clamaria que seu Rio era bem melhor do que o de agora. Talvez Vinicius e Tom, preferissem hoje São Paulo. Afinal whisck tem gosto de whisck em qualquer lugar. Mas seriam eles capazes de compor uma garota da Augusta? Teria esta canção tanto sucesso quanto a de Ipanema? Sei não.

Disse isto uma vez e repito sempre que se tornar necessário. Aliás, diga-se de passagem, sou um sujeito repetitivo. Você pode até deixar o Rio de Janeiro, porém, o Rio de Janeiro nunca deixará você. Ao primeiro odor de uma maresia, ou o barulho de uma onda no mar, você tem a imagem de Ipanema de volta em sua mente. E aí dói... Dói para burro...

quinta-feira, 24 de setembro de 2009

O SUÍCIDA



O SUÍCIDA

Jeremias estava pronto para suicidar-se. 
Deixara sua casa pela manhã, como nada de anormal houvesse acontecido
e pegou o primeiro ônibus que passou a sua frente. 
Não aquele que todo o dia o levava ao trabalho.

Viu seu bairro desaparecer e a cidade se mostrar pela primeira vez em décadas, de uma outra forma. Percebeu diferenças. Gostou da mudança. Fascinou-se com as novidades. A falta de algo transcendental em sua vida como a mudança de um trajeto, fê-lo enamorar-se de sua existência por alguns segundos. Talvez viver não fosse tão mal assim. Ele é que não soubera aproveitar.

Sentiu o perfume da negra com quem dividiu o banco assim como o queixume de uma dona de casa que amargurava-se por estar de pé. Muitos tinham sempre que estar de pé. Penúria dos dependentes dos coletivos. Principalmente aqueles que pegavam a condução naquela horário. Mas a mulher parecia não conformar-se. Sina de muitos, nunca estar satisfeito com o que a vida poderia lhes reservar. Deu ombros. Sorte que aquela linha tinha inicio a duas quadras de sua casa. Sempre viajava sentado. Tinha joelhos doentes e costas cansadas.

A vida curvara-lhe. O trabalho o enfraquecera. O dia a dia esfalfara-o. Teve ímpetos de dar-lhe seu lugar, afinal era um cavalheiro. Um cavalheiro pronto a suicidar-se, mas ainda um cavalheiro. Outrossim estava cansado e preocupado com que iria fazer. Serviço de grande responsabilidade. Desistiu e fingiu não tê-la notado. Melhor assim. Precisava gozar os últimos momentos de sua existência com um mínimo de conforto. A imagem da mulher equilibrando-se aos solavancos naquelas pernas gordas e varicosas, não lhe saia da mente. Como boa alma que era, arrependeu-se e cedeu o seu lugar. Destino de eterno doador. Sofrera por várias décadas, porque não sofrer umas horas há mais. Destino do resignado.

Para não dar o braço a torcer, resolveu descer. A mulher do queixume, sorriu. Poderia agora descansar sua vasta região glútea naquele assento que lhe deixara quente. Sorriu-lhe de volta sem sequer saber porque. Talvez fosse o senso de despedida. Desceu e esperou por outro ônibus, que logo a seguir estacionou à sua frente. Não teve que lutar para chegar a seu interior. Estava mais vazio. Vinha na sombra do outro, evitando passageiros. Melhor assim. Não tinha naquela manhã a necessidade do calor humano.

Seguiu ao destino desejado, consciente que a decisão que tomara na noite anterior era a única possível. Olhou a tudo que passava pela janela do coletivo com um sentido de perda. Amanhã não mais estaria ali, mas todas aquelas coisas sem vida, sim. Incrível como os bens dentro de sua inatividade respiratória mantinham-se na terra quando seus senhores e criadores a abandonavam. Mais velhos viravam até antiguidades. Verdadeiras reliquias aos olhos dos mais novos. Enquanto as antiguidades humanas como ele próprio, transformavam-se em estorvos e só cresciam aos olhos do jovens quando desapareciam de suas existências.

Estava acostumado com o transporte coletivo. Não mais exasperava-o aquela humilhante intimidade física de corpos espremidos na luta por um mesmo lugar ou um assento a vagar-se. Não mais enojava-se com aquela mistificação de odores. Não mais surpreendia-se com o obsessivo tato e enervante aflição de sentir a presença do suor, do mofo, do tecido mal lavado. Acostumara-se a tudo e sentia-se ileso a qualquer sensação maior. Sentava, lia seu jornal e descia há três quadras de seu escritório. Andava até ele, comprimentava aquelas mesmas pessoas que a cada hora estavam mais velhas e desinteressentes, trabalhava e no final do dia, ao ônibus voltava. Tornara-se um escravo dos mesmos.

A turba que compunha uma viagem coletiva, qualquer que fosse o trajeto, era de imperceptível alienação. Não falavam, não pensavam, não interagiam. Simplesmente equilibravam-se torcendo para que os sinais se mantivessem abertos e poucos fossem os pontos a ter que parar. Desta forma ansiavam chegar o mais rápido possível a seus respectivos pontos de destino. O passageiro do ônibus era um inimigo potencial daquele que no ponto esperava subir. Descer do ônibus era um alivio. O final de um tormento. Como a libertação de uma prisão passageira e inoportuna.

Foram menos de 50 minutos desde que deixara sua casa, até chegar cerca do ponto em que poria fim a aquela sua via crucis que fora sua vida. De volta ao terreno firme esperou diligentemente para atravessar a rua. Queria suicidar-se, mas não ser suicidado por um daqueles choferes de coletivos. Foi quando viu pela segunda vez aquela borboleta de cor purpura que elegantemente singrava a atmosfera, como esta fosse de sua propriedade. Segui-a com olhos. Seria a mesma? Impossível. Do Méier ao Leblon, haja asa e fôlego! Então uma prima, talvez uma irmã? O sinal abriu, e ele atravessou.

A visão daquela borboleta fê-lo parar, sentar em um banco da praia e lembrar-se de como tudo aquilo viera a acontecer. Eram passadas menos do que 24 horas.

Vinte minutos de seu escritório ao Jockey Club. Usara um táxi, não um coletivo. Fora a primeira grande mudança de sua vida. Táxi, figura patética de exclusivo uso dos abastados. A seguir toda uma tarde mista de prazer, ansiedade e terror. De sonhos dourados a tristes realidades, num piscar de horas. E mais uma hora para chegar de volta a sua casa; o palco que escolhera para a despedida, o epílogo de sua existência. Mas era domingo e nenhum de seus filhos veio dormir em casa. Todos com seus afazeres e problemas, nem a velha empregada estava presente. Era seu dia de folga. Não tinha de quem se despedir. Pousou o que restara daquele dinheiro em sua mesinha de cabeceira, fez o sinal da cruz, rezou, desculpou-se e dormiu aquele seu último sono. O cansaço não o deixou suicidar-se.

O fato de não dar fim a sua vida em sua própria casa, acabou sendo sensato. Ansiava que seu corpo nunca viesse a ser encontrado. Com um pouco de sorte isto poderia acontecer. Afinal, gostaria que todos tivessem apenas em mente a imagem de quando vivo. Embora não fosse das melhores, o seria pelo menos em relação a de um defunto em um caixão. Nunca fora dado a enterros. Comparecera a apenas um, o de sua finada esposa. E nunca mais conseguira trazer a mente aquele seu raro sorriso, aqueles mansos olhos, aquela expressão de lucidez e bondade duradoura. Sempre lembrava dela, lívida, fria, imóvel a caminho de sua última viagem.

Olhou para o cristo. Continuava com os braços abertos sobre a Guanabara. De costas para ele. Que lhe perdoa-se o ato. Seguiu em direção a rocha. Um pulo e resolveria todos os problemas de sua existência. Só não esperava de ter a humilhação de ser ainda assaltado...

quarta-feira, 23 de setembro de 2009

PRECISAMOS DO ANZOL, NÃO GANHAR O PEIXE

PRECISAMOS DO ANZOL,
NÃO GANHAR O PEIXE





Do diálogo há sempre de nascer a luz. 
Se ninguém disse isto até aqui, digo eu. 
Passo a ser o autor deste pensamento. 
Os royalties a mim pertencerão!

Quando publiquei um artigo chamado o sapato voador, que versava mais sobre a campanha racista que estão impetrando contra o presidente Obama, aqui nos estados Unidos, recebi da amiga facebook Beatriz Gerber, logo cedo pela manhã, o seguinte comentário:

“Quem entra no jogo mudando tudo e quebrando regras que começaram com a retirada de nosso ouro, madeira e diamantes? Ele (o governo Lula) melhorou a renda dos pobres e se falarmos de roubo... quando não existiu?


A hipocrisia não pode ser a base de nossa sociedade e Brasileiro não faz uso do voto... se ver no dia da votação poucos sabem o que fazer de fato e quem sabe não instrui ninguém. Aquele menino que queimou o índio estava trabalhando para o governo.... e como fica só a fala torta... o que se tem de bom por aqui? Estamos melhores nesta crise ou não?”

Respondi a leitora da seguinte forma:

“Não há dúvidas que estamos aparentemente melhores, embora o âmago de minha coluna é sobre os Estados Unidos, não o Brasil. Mas é hora de aprendermos a votar, não porque ganhamos uma cesta básica, ou um auxilio qualquer. Mas sim porque acreditamos que este ou aquele candidato pode melhorar as condições vigentes. O atual governo sanou muitas frestas de nossa sociedade menos provida, mas não atacou o segundo problema crucial que nos sufoca há muitas décadas: Educação. Espero que ainda aja neste setor. Ainda há tempo.”

Ai o Amauri Barros entrou no circuito:

“Educação é o grande tema para os próximos anos!!!! Será que ainda teremos tempo de discuti-la?”

Respondi assim:

“Deveriamos ter Amauri. O problema é começar. O que me apavora é que a maioria dos governos populistas fogem do tema, talvez com medo que com as pessoas se educando possam a iniciar uma nova forma de pensamento e cobranças”.

Foi então que o Alexandre Cunha, interviu mais forte, sobre o ponto de vista que eu defendia:

“Meu caro, se eles investirem em educação, como conseguirão se eleger nas próximas eleições.


A ignorância é quem move a grande maquina da política, pra quem eles farão promessas, quais serão esquecidas?


Eles aparecem muito, mais quando compram carros caros e equipados para a policia do que quando colocam boa didática nas salas de aula”.

O amigo facebook Zebinho veio em apoio ao Alexandre e brandiu:

Alexandre está certíssimo e vale lembrar que o governo só investiu 4% da verba de educação”.

Concordei com o Alexandre:

“Você tem toda a razão. Tentei dizer isto de uma forma mais comedida, mas creio que ela deva ser dita como você o fez. Para não haverem dúvidas”.

Pois é, a educação parece que não está sendo priorizada mais uma vez. Desta feita, o atual governo prefere dar o peixe (em forma de bolsa famílias e cestas básicas) do que financiar o anzol e ensinar o povo a pescar e ganhar o próprio sustento.

Não tenho os números do investimento que fez no setor da educação. O Zebinho afirma que não chegou a 5%, o que me parece ridículo, principalmente para uma administração que s preocupa em reequipar nossa aeronáutica com uma dúzia de aviões caça e faz alarde do fato. Estaríamos mais precisados de aviões do que de educação? Parece que sim, pois, até o avião presidencial o atual presidente fez questão de mudar. O número de viagens que ele fez (e tanto criticou quando estava de fora da corte em relação a seu antecessor) parece que está justificando o absurdo gasto.

Que vamos fazer com os novos caças? Invadir a Bolívia que enxotou e roubou descaradamente nosso patrimônio? Na mão grande como diriam alguns? Mas o Evo, como o Chaves, são as coisas mais importantes que aconteceram neste continente, segundo nosso próprio presidente.  palavras textuais dele! Não acredito que se fosse esta a idéia, precisaríamos de tanto. Um Brucutu e uma meia dúzia de nossos aviões antigos, já seria suficiente, pois, mais difícil do que invadir a Bolívia é entrar em uma favela no Rio de Janeiro.

Mas como o Chaves o está fazendo, e alardeando o fato, nosso governo, muitas vezes catequizado pelo mesmo, tem que copiar. Parece que o Chaves quer invadir a Colômbia e depois os Estados Unidos, afirmam as más línguas.

Que o faça. Não é nosso problema. Aviões são importantes, mas a edução é mais. Temos sim, que financiar o anzol, ensinar nosso povo a pescar e se possível orientá-lo de onde está o peixe. Isto é o que o setor da educação necessita. Esmolas nunca resolveram o problema. Mas infelizmente no Brasil, colocar bica de água em favela e contribuir para que o agraciado não tenha que lutar pelo próprio pão, dá muito voto. Que nem no tempo das caravelas com os espelhinhos para os índios.
albatrozusa@yahoo.com

terça-feira, 22 de setembro de 2009

QUANDO A CAUSA QUER JUSTIFICAR O CRIME

QUANDO A CAUSA
QUER JUSTIFICAR O CRIME

 

Qualquer crime sempre tem uma causa. 
Dificilmente um delito acontece de forma espontânea, 
como por um instinto animal. 
Evidentemente que existem os casos em que o animalesco toma conta do homem,
 principalmente entre os drogados e aqueles que abandonaram a razão 
e decidiram mergulhar no absurdo.
Mas existe ainda a questão da causa que fomenta uma guerra e então a morte de muitos passa a deixar de ser um crime e entra na esfera das fatalidades em combate. Milhões são mortos e não há crime. Isto não lhes parece um absurdo?

Carlos Heitor Cony, um dos meus ídolos literários, uma vez em seu premiado livro Romance sem Palavras fez um de seus personagens tecer um comentário pertinente a aquilo que acabo de proferir.

“… 
a causa justifica o crime. Os cruzados matavam os infiéis para salvar os Santos Lugares. Os sionistas matavam alguns ingleses para criar um Estado judeu. Os nazistas matavam os judeus para garantir a pureza da raça alemã... na Índia, na Irlanda onde católicos e protestantes lutam à séculos, os mártires tombam de lado a lado... tudo é causa e tudo é crime”.

Hoje Bin Laden acredita e prega que os não mulçumanos são os infiéis. Nero, se ainda fosse vivo continuaria a mandar os cristãos aos leões. Logo, qualquer que seja a época o homem é o homem, e ele possui instintos assassinos. Em grupos transformam o crime em guerra e assim justificam ter uma causa justa para eliminar aqueles que consideram inimigos.

O mundo vive de causas e efeitos. Hoje existe um efeito que em muito irá prejudicar a nação mais poderosa do planeta. O racismo. Ele é a causa das coisas estarem cada vez mais difíceis de serem aprovadas pelo congresso e pelo senado norte-americano. Tudo o que o presidente Obama quer levar adiante, parece ser imediatamente bloqueado pelos extremistas, que formam grande parte do partido republicano. Hoje este partido está votando em bloco, o que obriga o democrata a fazer o mesmo. É o inicio do que chamamos de antagonismo. Ou trocando em miúdos, o inicio do fim...

Em um talk show foi apresentado um filme feito dentro de um ônibus escolar, onde um estudante negro aplicou uma sova em um branco aos olhares de seus companheiros que nada fizeram. Imediatamente o jornalista que mediava este programa de rádio disse que tratava-se da era Obama, onde seriam os filhos dos brancos que apanhariam dos negros. Com isto, estava explicito que o caso contrário dos anos 60 era para ele, plenamente justificável, quando os negros tinham que se sentar nos últimos bancos dos coletivos públicos, tinham bebedouros especiais, não podiam frequentar os mesmos banheiros dos brancos e amanheciam enforcados nas árvores do Alabama e do Tennesse. É a causa, justificando o fim.

Não vou afirmar que no Brasil não exista também racismo. Velado, mas ainda existe. Todavia, havendo, está em bem menor escala do que se verifica nos Estados Unidos. Outro patamar. Pega mal ser racista no Brasil. Ao contrário dos Estados Unidos, onde em certos estados o racismo ainda é visto como um sinal de patriotismo. Um ponto positivo em relação a civilidade. Um total despropósito.

Dou graças a Deus do povo brasileiro, em sua grande maioria, ter uma índole distinta. Criticada em alguns pontos, mas neste item altamente beneficiada. Crescemos dividindo o mesmo palmo de chão, jogamos bola e interagimos com outras raças, sem rotulá-las. A zona comercial do Sahra, no Rio de Janeiro, é o maior exemplo disto. Árabes, judeus, e outras raças menos votadas, são capazes de conviver pacificamente. Por sua vez, não somos obrigados por lei a chamar negros de african americans. Caso contrário, estariamos sujeitos a atos processuais. O chamamos de creoulo, tziu, moreno, negão, mas nunca em um tom pejorativo. Pelo menos em meu ponto de vista.

Aliás, como pode ser notado, na lista do Cony não aparecem entreveros internacionais contando com brasileiros. Pelo que me consta, apenas contra o Paraguai tivemos aquela rusga nos tempos de Solano Lopes. Porém, uma guerra bolada, patrocinada, orquestrada e no final e perpetrada em seus mínimos detalhes, pessoalmente pelos britânicos que anteviam no desenvolvimento do Paraguai, uma afronta não tão somente a seu poderio econômico no continente, como também um acinte ao domínio comercial do transporte marítimo que exercia, até então, pelos mares do universo. E o conde D’eu, deu paulada por todos os lados, envenenou rios e aniquilou com uma civilização.

Iniciei com Cony e com ele termino:

“… revolução é a palavra mais prostituída do vocabulário brasileiro... aquilo que poderia chamar de revolução é considerado uma revolta, uma sedição, uma inconfidência, um golpe ou uma campanha movida pela fracassomania. E os movimentos reacionários são tidos como revoluções”.
albatrozusa@yahoo.com

domingo, 20 de setembro de 2009

UMA VOLTA AO PASSADO

UMA VOLTA AO PASSADO





Não acredito que exista presente sem passado, 
pois a formação de qualquer ser humano se faz em cima daquilo que ele vê, 
aprende e absorve para todo o sempre. 
A literatura é um exemplo disto. 
Sheakespeare está vivo na Inglaterra.
 É importante que Machado de Assis, Lima Barreto e outros 
se mantenham vivos para que as novas gerações tenham 
o igual prazer que tivemos deliciando-nos com suas histórias.


Muitos já deve ter ouvido falar de Manuel Bandeira. Mas não acredito que muita gente o tenha lido. Principalmente no tocante as suas crônicas no Jornal do Brasil nas décadas de 50 e 60. Pois é, meu pai era um leitor das mesmas e sempre as enaltecia. Os anos me fizeram procurá-las e lê-las.


Manuel Bandeira era de uma pluralidade digna de nota. Tinha muitos recursos, outrossim a coerência para mim era o seu ponto mais distinguível. Apresento aqui alguns trechos de três distintas crônicas escritas por ele.


... Rio querido! Conheci-te ainda provinciano, embora capital. Num tempo em que as cidades não se construíam em três anos nem os homens enriqueciam em três dias. Foi em 1896. Contando não se acredita: nas laranjeiras de minha infância, sossegado arrabalde (já sem laranjeiras), os perus se vendiam em bandos, que o português tocava pela rua com uma vara apregoando:


Eh peru de roda boa! Aporta de casa tomava-se leite ao pé da vaca. Não havia ainda automóveis. O rio tinha ainda quinhentos ou seiscentos mil habitantes. E os brasileiros invejavam os argentinos porque Buenos Aires já tinha um milhão. Como éramos ingênuos!


Vamos a outra, quando ele comentava sobre a proposta de um arquiteto ao então governador do Rio de Janeiro, sobre erigir edifícios de 15 andares para a instalação de sepulturas e ossários.


... há muito que nós, os vivos, a maioria dos vivos, vimos perdendo, no Rio e em São Paulo, o prazer de morar em casa, com jardim e quintal. Agora vai chegar a hora dos mortos, até hoje talvez felizes nos seus parques, muito estragados, é verdade, pelo mau gosto dos vivos, mas em todo o caso e apesar de tudo amoráveis com as suas árvores, os seus pássaros, as suas orvalhadas da aurora e do entardecer.


A morte sempre nos pareceu coisa horizontal e até moralmente niveladora. Sempre nos pareceu também a forma última da lei da gravidade. Desde que nascemos a terra nos chama, nos atrai, às vezes mansamente, como no sono em boa cama, às vezes com violência. Depois da morte vinha a grande comunhão no seu seio hospitaleiro, jamais recusado a ninguém.


Os cemitérios verticais vão afastar os mortos da natureza...

E aqui vai uma terceira.

... carnaval no Rio houve. Mas foi no tempo em que ainda existia a rua do Ouvidor. Porque essa que ainda chamam assim não é mais a rua do ouvidor, a que Coelho Neto chamava nos seus romances a “ grande artéria”…


… a abertura da avenida Rio Branco foi o primeiro golpe sério no carnaval. A festa diluiu-se, perdeu o calor que lhe vinha do aperto...


...vale a pena lamentar? O carnaval está morrendo, outras coisas estarão nascendo. No tempo dos bons carnavais não tínhamos o espetáculo das praias. A vida é renovação. “Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades”, disse o poeta máximo da língua, e outro disse que “isto é sem cura”. Quem não estiver contente com o presente, viva, como eu, das saudades do passado.

Fico imensamente feliz de ver que algumas editoras estão resgatando estas relíquias que não podem ser perdidas ou esquecidas. Elas fazem parte da formação de alguns, como eu que ainda estou vivo. A Global editora lançou dentro de sua série Coleção Melhores Crônicas, uma seleção erigida por Eduardo Coelho para Manuel Bandeira.

O que esperar? Manuel Bandeira era rigoroso e preciso como Carlos Drummond de Andrade o foi em se tratando de fatos históricos e comparações entre as diferentes épocas. Ou como diria o escritor Paulo Mendes Campos, “Manuel Bandeira cronista talvez possa ser simplificado nesta caricatura: ele lambeu, da meninice até o fim, por disposição de corpo e alma, os sabores do Brasil”.

Depois disto dito, a meu ver, nada pode ser somado. Manuel Bandeira é produto de uma época, mas como outros gênios da arte de escrever, extrapola o tempo. O que escreveu é para todo o sempre, pois, sua sensibilidade ali está presente em cada palavra, em cada acento, em cada observação.
albatrozusa@yahoo.com

O ESTILO MINEIRO E MATREIRO

O ESTILO MINEIRO E MATREIRO


 

Poucos, mais poucos escritores mesmo, 
tinham a rara capacidade de em qualquer situação 
- fosse em um conto, em um romance ou mesmo em um crônica de jornal – 
apresentar um texto tão conciso, 
carregado de tanto significado, com frases curtas e exatas, 
como Otto Lara Resende o tinha.

Pena que deixou pouquíssimos contos e romances. Consegui cinco publicações por ele assinadas: As Pompas do Mundo, A Boca do Inferno, Bom dia para Nascer, O Braço Direito e A Testemunha Silenciosa. Não devem ter muitas outras por ai. Pouco para o peso de sua palavra e para a lisura de sua pena.

Seu estilo era mineiro, matreiro e poético. Ele tinha a capacidade de captar e exprimir em palavras, as situações em seus mínimos detalhes. Próprio de um perfeccionista, que nunca está satisfeito mesmo quando atinge aquilo que todos consideram como seu ponto máximo. Palavra por palavra, virgula por virgula. Parágrafo por parágrafo, não há perda alguma de espaço com qualquer tipo de preenchimento de lingüiça.

Apresento a seguir, um trecho de a Testemunha Silenciosa, uma das poucas obras de romance publicadas por Otto Lara Resende. Não sou critico literário, apenas um leitor apaixonado. Mas considero este trecho como um dos mais líricos, pois, impele a uma quase perfeita descrição de alguém que pela primeira vez toma conhecimento do nascimento de um novo dia. A meu ver nenhum detalhe foi perdido. Nada pode ser considerado supérfluo. Quantos nascer do dia você já presenciou? Vamos ao trecho:

“... à noite, eu rolava na cama, encolhia as pernas e os braços. Me encolhia inteiro, queria sumir. Via seus olhos a me olhar, sua mão a me acenar. Sentia no meu rosto de menino os seus lábios de mulher. Afinal dormi e acordei pela madrugada. Na sala o tique-taque do relógio me repetia o nome de Rita Maria. Sai da cama e abri a janela da rua. Suspendi a vidraça devagarinho para não fazer barulho. O ar frio da madrugada me bateu no rosto. Os postes suspendiam lâmpadas de uma luz cansada. O silêncio guardava com usura um resto de sono das famílias. Nada, nem morte de velho, nem doença de criança, nada perturbava a paz da madrugada. Os galos começaram a cantar. Próximos e distantes, convocaram outros galos e teciam a manhã por cima do mofo dos telhados. Mais um pouco e a cidade começou a acordar. Beata tossindo no caminho da igreja, leiteiro, padeiro, trote de cavalo nas pedras da rua, latido de cão, passarinhada cantando invisível na sombra densa das árvores. No quarto pequenos estalidos se desprendiam dos móveis. A luz de um novo dia reinventava o catre de cabeceira alta e redescobria o Crucifixo na parede. Dois mundos se desafiavam: lá fora o sol nascia do morro e da serra. O céu se coloria enquanto os galos cantavam. Cá dentro, o quarto agasalhado, famíliar, minha primeira noite branca.


Fechei a janela e me deitei. Mais um pouco e o sol fundava o seu reinado de certezas e de coerência. Tomado por uma tontura, o quarto levantou âncoras e viajou sobre as águas tranqüilas, atrás de um simples aceno de mão. Eu via pela primeira vez o dia nascer. Mas uma sombra tinha penetrado no meu coração para nunca mais sair ”.

Homem de grande inteligência e excessiva cultura, ele foi adido cultural em Bruxelas e Lisboa, e notabilizou-se como Augusto Frederico Smith, a escrever textos e discursos para muito político e presidente de grandes organizações.

Gosto muito de suas frases. Com um mínimo de palavras um universo de informação:

Eu divagava, o espírito ausente.


Saiu e deixou um susto no ar.


As botas que iam enfrentar o desconhecido.


Nenhum companheiro estabelecia comigo sociedade duradoura ou profunda.


Arroto de grandeza com a barriga vazia.


Só jogava no dia de forte palpite, soprado no farrapo de um sonho que ele mesmo interpretava.


A cidade quieta como um gato na sesta.


Este era o perigo que trazia dentro dele, como um verme dentro de um fruto.


Na confissão, eu omitia este pecado. Seria pecado? Devia ser, porque eu omitia.


Um grilo dilata o silêncio da rua.


Balcão de venda não é confessionário. Vão tapear o vigário, que não tem o que fazer.


O bom saber é calar.


Não é com promessa no anzol que eu apanho peixe.


O mundo é um quarto úmido e escuro.


Dormir no chão para não cair da cama.


Juntando pouco é que se amealha o muito. Sem poupar no tostão ninguém chega ao milhão.

Frases que compõem esta pequena obra intitulada A Testemunha Silenciosa e outra bem regional chamada A Cilada. Frases ditas com a clarividência de quem olha, vê e sabe transmitir.
albatrozusa@yahoo.com

sábado, 19 de setembro de 2009

O PERIGO DA UNANIMIDADE SEGUNDO NELSON RODRIGUES

O PERIGO DA UNANIMIDADE



A união faz a força, dizem os antigos. 
Mas seria esta força sempre direcionada para o bem?
O grande pensador Nelson Rodrigues tinha 
uma opinião distinta sobre esta questão.


“ … na hora de odiar, de matar, ou de morrer, ou simplesmente de pensar, os homens se aglomeram. As unanimidades decidem por nós, sonham por nós, berram por nós. Qualquer idiota sobe num pára-lama de automóvel, esbraveja e faz uma multidão. Um camelô de caneta tinteiro é mais ouvido que os profetas antigos. E quando está só, o homem começa a babar de pusilanimidade. As maiorias, as unanimidades ululantes, é que dão a nossa covardia um sentimento de onipotência... o brasileiro se incorpora a qualquer grupo de mais de cinco pessoas... cada qual se esconde debaixo de uma unanimidade...”
Confesso que tenho medo das unanimidades. Acredito que realmente as pessoas se deixam levar quando em grupos. Agem não individualmente. Tendem a agir como um todo. E um todo nem sempre representa um pensamento comum, principalmente quanto liderados por um celerado mental.
Nelson acreditava também que embora na simples subida no para-lama, esbraveja e com isto forma uma multidão em volta de si, para que o convencimento seja geral é necessário que este orador seja um pulha. Um canalha:
“ ... É uma verdade historicamente demonstrada: - o canalha, quando investido de liderança, faz, inventa, aglutina e dinamiza massas de canalhas. Façam a seguinte experiência: - ponham um santo na primeira esquina. Trepado num caixote, ele fala para o povo. Mas não convencerá ninguém, e repito: - ninguém o seguirá. Invertam a experiência e coloquem na mesma esquina, em cima do mesmo caixote, um pulha indubitável. Instantaneamente, outros pulhas, legiões de pulhas, sairão atrás do chefe abjeto...”
Sempre tive pelo Nelson Rodrigues um respeito e uma admiração digna de um vira latas seguidor de paradas. O fato dele ser Fluminense e da extrema direita, eram os pontos que me deixavam sempre com um pé atrás em relação a ele. Poucas foram as vezes que tive a oportunidade de vê-lo pessoalmente. Ou no maracanã em dias de Fla-Flu e algumas vezes no fim de semana no restaurante Antonio’s.
Ele enxergava pouco. Passava o tempo todo em sua cadeira ouvindo o radiozinho de pilha, todavia em compensação descrevia o clássico como ninguém na segunda feira em sua coluna. Via o que ninguém tivera a oportunidade de ver. No Antonio’s na maioria das vezes, sozinho era uma figura impar, Comia frugalmente e sempre um copinho de leite o acompanhava. Sobre este restaurante um vez ele fez um comentário que considero hilariante e real.
“ … temos o Antonio’s, um restaurante que não é restaurante, mas uma simples atitude. Sua bebida não nos atrai, nem sua comida. Vai-se lá por motivos ideológicos, literários e não alcoólicos, vejam bem, não alcoólicos. No Antonio’s come-se com desprazer e bebe-se com tédio. Mas fazemos a nossa pose, e basta...”
Eu gostava da comida do Antonio’s, principalmente de seu file a Oswaldo Aranha, que não constava do cardápio, mas era pedido por muitos, inclusive eu. Como não bebo, não posso afiançar sobre a qualidade de sua bebida, embora o José Carlos de Oliveira e Tarso de castro, na maioria das vezes saíam dali quem nem a torre de Pisa. Logo, havia alguém que gostasse. Outrossim, o ponto de vista de Nelson Rodrigues estava correto. Ia-se ali para participar da “ambience” cujas as presenças de gente famosa, atraía a todos. Inclusive a mim, um habitual do Le Coin – o original da João Lira – depois da praia e dos jogos do Maracanã.
Temos, principalmente nós os cariocas, aquela tendência de nos aproximar das multidões. A praia é um exemplo. Aqui nos Estados Unidos, os norte-americanos procuram as praias mais vazias para desfrutar de sua tranquilidade. Querem ler e na maioria das vezes, descançar. No Rio de Janeiro, a gente vai ao lugar da moda, quanto mais cheio melhor. Vai-se para badalar, ver e ser visto. E viva a galera que o cerca.
Um dia foi o Arpoador, a seguir o Castelinho, houve o advento do Pier, enquanto este existiu. A Montenegro, chegou a ser aquela que parecia definitiva, porém vieram o Posto 10 e até a do Pepe, na Barra da Tijuca. Resquícios de um tempo que se renova como tudo na vida, como diria Manuel bandeira.
Porém, o que não muda na mente brasileira, é a necessidade das multidões. Elas são um apelo maior do que a sua própria vontade. E com estas aglomerações poderão advir aquelas unanimidades que nunca nos levam a lugar algum.
albatrozusa@yahoo.com

quinta-feira, 17 de setembro de 2009

DELIRIUM TREMENS

Delirium Tremens
Um mes no ar !





No Brasil, a história a glória, a lenda são tecidas de equívocos fatais.
Nunca se sabe se o grande homem é grande homem, 
se o gênio é um débil mental,
se a senhora honesta é uma Messalina.
A simples palavra constrói uma solidão inapelável e eterna.

E isto é uma verdade. Uma verdade trazida de forma nua e crua, como tantas outras tecidas pelo jornalista Nelson Rodrigues.

Trata-se de um fragmento de uma crônica escrita por ele em Fevereiro de 68, intitulada os falsos canalhas. Quarenta e um anos atrás e nada parece ter mudado, vocês não acham? Principalmente no tocante aos canalhas...

Acompanho o noticiário brasileiro com interesse e não o vejo cristalino. Jornalistas mantendo suas linhas de pensamento, não aceitando que possam estar errados. Políticos aproveitando-se do espaço a eles ofertados tratando de defender sua classe, uma classe que é hoje vista com muito receio por parte da população que tem ainda o poder de ler e ouvir. Não se discutem projetos que possam melhorar o pais, apenas opiniões sobre este ou aquele escândalo. Acho que estamos perdendo a nossa capacidade de criar e mantemo-nos estagnados na de apenas criticar. E tudo dentro de um clima folhetinesco: delirium tremens!

É difícil escrever. Escrevo e sei das dificuldades. Pois, quando você escreve, se desnuda à frente de um público que desconhece e não se sabe se o aprecie. Um mergulho no escuro. Por isto deixo claro a todos que acredito que não seja susceptível a sinistros enganos e muito menos a hediondas torpezas, usando um linguajar Rodriguiano. Tento ver os fatos como eles são e analiso suas nuances da forma que aprendi a fazê-lo. Logo não acredito existir em meu currículo uma mácula indelével. Haverão sempre erros, que podem ser corrigidos, mas nunca uma pré disposição a isto ou aquilo. Vivo repaginando-me, pois, a vida assim o exige.

Todavia, não observo a mais vaga movimentação de nossa imprensa em relação a um problema que será o maior este século para o planeta em que vivemos. Exagero, de vez em quando, um anuncio na Globo sobre a pujança de nosso Aqüífero Guarani. Mas é pouco. Muito pouco.

Hoje, já não existe mais o menor resquício de dúvida - que neste século que se inicia - o maior desafio da humanidade será a luta pela água doce. A escassez é um fato. A preocupação no Brasil, nos parece nenhuma. Os mananciais estão se extinguindo, os rios secam e as geleiras se dissolvem no mar. Nossa floresta é dizimada e nada parece conter estas discrepâncias. Falamos em petróleo e gás, quando deveríamos estar falando de água.

Em 50 anos, coisa que felizmente não serei obrigado a ver, estaremos procurando por água, como hoje pesquisamos por petróleo. Não seria esta uma preocupação válida de ser discutida e dissecada em nossa mídia? Hoje, não amanha? Não seria importante estabilizarem-se os primeiros estudos e projetos para a exploração, armazenamento e aproveitamento de nossos principais mananciais? Se são tão frondosos quanto o do Aqüífero Guarani, deveriam hoje estar trancados em Fort Knox. Ou esperaremos como sempre até o último minuto, para só então enfrentarmos o problema? Nos manteremos onímodos na solércia? Escravos de apagões?

Desde que Homero lançou seus primeiros alfarrábios que o homem adora escrever e ler histórias, sejam elas bonitas ou horrendas. Não importa se Hamlet era cara um significativamente indeciso, ou Otelo ligeiramente ciumento. Ninguém ousou discutir até aqui a ambigüidade de Capitu, a inexistência de carácter em Macunaíma ou o egocentrismo de Wether. Tudo são histórias. Apenas histórias. Baseadas no dia a dia da vida que vivemos. Logo, existem Capitus, Macunaímas, Othelos e Hamlets espalhados por ai. Logo os personagens são espelhos de uma realidade.

A água do planeta é também uma realidade. Sua escassez um alerta. Precisamos que pessoas que tenham o dom de personificar as necessidades públicas, aqueles chamados de fazedores de opinião, se preocupem com este fato. Coloquem a boca no mundo. Motivem a população.

Dentro do que foi exposto pelo ex-vice presidente norte-americano Al Gore, estamos acabando com os mares, com os rios, com as florestas, com as geleiras e até com a camada de ozônio, que nos protege do sol. Os dias estão cada vez mais quentes e frios. Os extremos se afastam com rara liquidez. Mares estão subindo. Isto me assusta, pois, tudo isso afetará, de uma forma ou de outra, nossos mananciais da chamada água potável. E ai qual será o discurso dos políticos?

No mais completamos um mes no ar. Obrigado a aqueles que tornaram isto possível. Principalmente um agradecimento a nossos 14 seguidores.
albatrozusa@yahoo.com

O SAPATO VOADOR

O SAPATO VOADOR


O homem da sapatada foi solto e hoje virou herói 
não só dentro de sua comunidade, como igualmente nas comunidades árabes vizinhas. 
Seu ato de coragem perante ao chefe da nação mais poderosa do mundo 
enterneceu o mundo árabe, que parece não ter muito carinho 
em relação ao senhor George W. Bush.
O ato de jogar um sapato em alguém no mundo árabe, é reduzi-lo publicamente a estrato de pó de merda. Desculpem meu português, mas não existe outra forma de assim o definir. Insultado como cão, Bush com aquela sua cara apatetada, tentou minimizar o ato, mas era tarde. Grande parte do mundo estava naquele par de sapatos. Toda a imundice que ele tinha em sua sola queria encontrar o presidente norte-americano. Ele conseguiu desviar. Mas não conseguiu desviar a atenção do mundo que assistiu o ataque e em grande parte o aplaudiu.

Talvez little George tenha sido o primeiro presidente de uma forte nação a passar por este dissabor. Aquele sapato voando representava a típica reação de um pais pobre contra um pais rico. E criou outro herói anti norte-amaericano.

Sim, não tenham dúvidas, foi outro herói anti Estados Unidos que little George conseguiu criar com sua política imperialista de senhor de terras no Texas. O que os árabes e muita gente não sabe, é que o Texas nada tem com os Estados Unidos. É um estado a parte que desde da batalha do Álamo recente de um complexo de inferioridade que faz com que a maioria de seus habitantes ajam com um falso senso de superioridade. Do not mess with Texas! É o lema que gostam de exalar. Atacam antes de serem atacados, expostos ao ridículo de seus chapéus de cowboys. Isto era na verdade o que little George tentava deixar transparecer. Um John Wayne fora das telas. Evidentemente que um pouco mais canastrão...

O que o mundo árabe tem que assimilar é que o povo norte-americano repudiou as ações de little George. Ele saiu pela porta da cozinha com o mais baixo índice de aceitação da história de um presidente neste pais. Ele que ganhou (na verdade nunca ganhou, perdeu para Gore por mais de 500,000 votos) no colégio eleitoral por apenas 5 votos, e isto dentro de uma apuração Mandrake, coincidentemente no estado em que seu irmão Jebb era governador, a Flórida, safou-se com o Setembro onze. Logo, foi o Bin Laden que criou este monstro. Sem aquele ataque e a queda das torres Gêmeas, little George nunca conseguiria se reeleger. Não teríamos as duas guerras ainda hoje vigentes. E certamente viveríamos menos 4 anos de desespero financeiro.

Little Bush conseguiu quebrar os Estados Unidos financeiramente e enriquecer ele e seu grupo ainda mais com a produção de armas, petróleo e artefatos de guerra. Ele conseguiu criar mais 500 Bin Ladens que hoje ainda muito jovens, mas já com chagas abertas, órfãos e mutilados estão a espera de sua oportunidade de se vingar. Eles vão crescer, banhados em ódio e obsessão. A grande maioria se tornará homem bombas e alguns poucos se transformarão nas novas mentes que agirão de forma terrorista contra este pais que o enxotou, mas um dia errou em elegê-lo.

Não dá para se defender Bin Laden pelo que fez. Mas dá para se entender porque a coisa foi feita. Não existe justificativa no ato de 11 de Setembro, outrossim quem quer que pense vê naquele ataque uma reação a um quadro pouco equilibrado montado por aqueles que se acham os donos do poder no mundo atual.

Não consigo colocar Obama na mesma categoria de little George. Me parecem pessoas com pensamentos distintos em relação ao respeito a raça humana. Um a respeita. Outro a ironiza. Não vejo como suplantar anos de rivalidade de forma apenas diplomática. Mas pelo menos algo tem que ser tentado. Pois, o enfrentamento já está provado que não vai levar ninguém a lugar algum. Apenas a guerra, a destruição e a eterna disputa de dois pólos que cada vez mais se afastam humanamente.

O que teremos pela frente? Temo sequer em pensar.

Logo, o que nos resta fazer é tentar daqui para frente, seja no Brasil, nos Estados Unidos ou no Iraque tentarmos eleger aqueles que possam pelo menos tentar resolver estas pendências históricas. Alguém que possa tentar cicatrizar estas chagas abertas. Alguém que tenha a hombridade e a grandeza maior, de dar o primeiro passo, na direção daquele que é hoje visto como inimigo, mas que um dia poderá ser visto como vizinho, com o mesmo direito de respirar o ar que todos respiram
albatrozusa@yahoo.com