quarta-feira, 30 de setembro de 2009

A NECESSIDADE DO DETALHISTA

A NECESSIDADE DO DETALHISTA




Sempre tive um grande respeito pela arte russa.
Respeito não. Veneração.
Seja na música clássica, na ópera, como também na pintura,
no balé e principalmente na literatura.

Neste último setor li alguma coisa de Dostoeivski, Tolstoi, Gorki e muito de Tchekhov. Eu diria que quase tudo que tenha sido traduzido. Anton Tchekhov se tornou de longe, o meu favorito. Era objetivo, romântico e muitas vezes letal. Aí um dia lendo Rubem Fonseca, pelo qual como Nelson Rodrigues sou igualmente viciado, descobri Bábel. Nunca ouvira falar dele e descobri logo a seguir porque. Porque ele pouco escreveu.

Como Otto Lara Resende, ele deixou muito pouca coisa publicada. Porém, no livro de Rubem Fonseca, um de seus personagens afirma que: “Babel buscava padrões de excelência impossíveis de serem alcançados por qualquer artista. Por isto escreveu tão pouco, com uma exatidão, uma concisão esplendente”. Eu, que até ali, nunca imaginei que alguém poderia escrever com esta tal concisão esplendente, extasiei-me. E saí atrás do que podia colocar em minhas mãos sobre Bábel. Hoje o admiro.

Isaac Emmanuilovich Babel, era e descendência judia, nasceu no final do século passado em Odessa, num período em que o Império russo incentivava o êxodo do povo do qual descendia, para qualquer lugar fora de seus domínios. Em um levantamento para o livro que escrevo sobre uma família que passou pela Grande guerra, a segunda Guerra Mundial, a guerra fria e a queda das torres gêmeas chegou a meu conhecimento uma carta de Lavrenty Beria para Joseph Stalin pedindo permissão para executar 346 inimigos do povo. O elemento de número 12 era Babel, Isaac Emmanuilovich. Não se sabe se por suas posições jornalísticas, por sua grande amizade com Gorki, que já havia sido mandado para o espaço pelo regime em 1936, ou mesmo por ter tido um caso amoroso com a espevitada esposa de Nikolai Yezhov, o People’s Commissar for Internal Affairs da predecessora a KGB, a NKVD, Babel estava na lista negra, aquela que fazia de qualquer pessoal indejesável um virtual inimigo do povo.

Quando Yezhov entrou em desgraça (e todos sem exceção, um dia o outro, entravam na era Stalin) seguiram-no para o brejo, sua esposa e todos os seus namorados. Isto era o que representava um expurgo na época de Stalin. Quando ele fazia uma limpeza, levava a coisa a sério. Não sobrava um para contar a história. E assim se foi Babel.

Pois bem, Babel era um detalhista nas letras, como Rubens o era na pintura, Dustin Hoffman no cinema e Beethoven na música. No tocante ao último até hoje não consigo aceitar o fato que tenha ficado surdo e escrito mais duas sinfonias. Criar uma sinfonia já é difícil. Imaginem sem ouvi-la. Para mim, esta era a forma de Beethoven se livrar dos chatos - que em sua época eram inúmeros. Se fazia de surdo e não escutava ninguém.

Precisamos de um detalhista em nossa política. Alguém que observe, entenda, detecte e faça as coisas acontecerem de uma forma racional. Outro dia ouvi um comentário de alguém que afirma ter ouvido o presidente Lula afirmar que quer fazer deste seu segundo mandato algo que o faça ser reconhecido como um estadista da altura de Getulio Vargas. Não sei se é verdade ou mentira, pois, uma das características do brasileiro é fantasiar situações e colocar palavras na boca dos outros. Se assim o for, existe já muita gente esperando pela data do suicídio.

Fazer a ministra Dilma sua sucessora, talvez seja a formula de nosso presidente garantir que sentiremos, logo, logo, falta dele, da mesma forma que com dois anos na presidência, Sarney, já incitava em muita gente, uma saudade profunda dos governos militares.

Não tenho dúvidas que tanto o governo Lula, assim como o governo FHC, colocaram o Brasil finalmente nos trilhos. Estão sendo 15 anos, que o Brasil, pelo menos andou para a frente. O que se plantou nos primeiros 8 anos, foi colhido e replantado nos 7 anos seguintes. O problema, é o que vem por ai. Centralizador como sempre foi, Lula quer colocar alguém que possa ser manipulado. Clinton tentou fazer o mesmo com Gore, uma figura humana sensacional, mas sem o carisma de criar a sua própria ala. Errou o pulo, e deu Little George, que deixou os Estados Unidos na situação que ora se encontra.

Deveríamos deixar de lado, os gostos pessoais e colocar no poder alguém que possa fazer o Brasil seguir em frente. Sei que é utópico. O poder é algo que o escraviza. É duro se afastar das mordomias e entrar, de uma hora para outra, no ostracismo. Ainda mais que diferentemente da Argentina e dos Estados Unidos fica difícil para Lula fazer de sua esposa, uma seqüência natural de seu domínio político. Mas fico torcendo daqui...
albatrozusa@yahoo.com