sexta-feira, 25 de setembro de 2009

DÓI...DÓI PARA BURRO!

DÓI... DÓI PARA BURRO




Existem três cidades no mundo que não alugo carro: New York, São Paulo e Rio de Janeiro.
E imaginar que José do Patrocínio foi o primeiro a trazer da Europa um automóvel.
O Rio de Janeiro parou para admirar aquela invenção que ninguém
poderia supor que um dia iria existir.
O que seria dos burros que puxavam os bondes?
Os cavalos que faziam as carruagens se moverem.
E os bois no serviço das fazendas?

O mais incrível de todo é que o carro do José do Patrocínio corria a assustadora velocidade de 3 quilômetros por hora. E mesmo assim se chocou com uma árvore quando dirigido por Olavo Bilac, quando este tinha suas aulas de direção com o amigo dono do mesmo.

Pouco depois, eram desembarcados no Distrito Federal mais dois carros que pertenciam a Guerra Durval e ao capitão Cárdia. Há de se dizer que com três veículos, não houve um grande problema de tráfego a aquela altura, na capital.

Creio ser bem diferente de hoje. Não peguei os bondes, mas sim os ônibus, os lotações e aqueles ônibus elétricos que tinham antenas que se desprendiam dos cabos com extrema facilidade. Se não me enganam fora uma invenção do Lacerda. Se estiver errado me desculpem. Era muito garoto para me lembrar.

Bom ser guri. Minha única preocupação era se o sol estaria a pino e haveriam ondas no Arpoardor para o jacaré. Sim no meu tempo não havia surf ainda. Apenas jacaré com aquelas pranchas de madeira ou no peito mesmo, para se provar que era macho. O Arpoador tinha muitas pedras e a gente tinha que saber de cor onde elas estavam para não se “estrumbicar” com a prancha ou com você mesmo.

E no Arpoador tinha a Duda Cavalcanti, a Odete Lara e outras menos votadas - mas não menos dotadas - que faziam a geração de rapazes acima da minha, lá pousar e deixar-se colorir pelos raios solares. Protetor solar não existia, bronzeadores sim. Alguns que o deixavam com a cor de cenoura. Sunga, toalha e aquele toque de se fazer um montinho com o pé, para recostar-se na areia.

E o Arpoardor era o máximo. A chegada do Castelinho, um bar moderninho a beira da praia em suas imediações deixou o lugar ainda mais in, todavia o Brizola acabou com o charme do lugar. Chegou, plantou um bando de pontos finais de ônibus que vinham de inimagináveis recantos desconhecidos por nós, habitantes da vibrante Ipanema e toda a turma foi obrigada a migrar para a Montenegro. Outros, menos viris para o Píer. Mas pode-se dizer que Ipanema não foi mais a mesma. Perdeu até espaço para o Leblon, que anos antes parecia uma vila.

Viajo a trabalho e três lugares que freqüento com certa assiduidade são Londres, Paris e Buenos Aires. E estes três lugares simplesmente não mudam. As pedras que você pisa, são as mesmas que foram pisadas pelo tataravô da moça que está sentada na mesa ao lado da sua no Starbucks.

É verdade que o comercio mudou muito o perfil destas cidades. Nunca imaginei poder ver um Mac Donalds em plena Champs Elysees ou um Pizza Hunt à porta do Castelo de Windsor. Mas eles estão para provar que tudo muda neste universo. O que você tem quer fazer e adaptar-se as novas situações e lugares e deixar de ser saudosista do tipo que clama: no meu tempo... pelo menos publicamente.

Tenho saudade do meu Rio. Era bom demais. Mas este que ai está, e não mais me pertence, é também muito bom. Apenas que não mais pertenço a ele. Sou um intruso que observo, curto, admiro, outrossim mais como uma visita do que como um ex-carioca.

Imagino José do Patrocínio, o herói da abolição, vendo hoje a Rocinha e o trânsito alucinante nas principais avenidas. Ele clamaria que seu Rio era bem melhor do que o de agora. Talvez Vinicius e Tom, preferissem hoje São Paulo. Afinal whisck tem gosto de whisck em qualquer lugar. Mas seriam eles capazes de compor uma garota da Augusta? Teria esta canção tanto sucesso quanto a de Ipanema? Sei não.

Disse isto uma vez e repito sempre que se tornar necessário. Aliás, diga-se de passagem, sou um sujeito repetitivo. Você pode até deixar o Rio de Janeiro, porém, o Rio de Janeiro nunca deixará você. Ao primeiro odor de uma maresia, ou o barulho de uma onda no mar, você tem a imagem de Ipanema de volta em sua mente. E aí dói... Dói para burro...