O Brasileiro não diz
o que pensa ou pensa
o que diz
Mesmo entre jornalistas.
Poucos são os que realmente escrevem aquilo que pensam e
que deve ser discutido custe o que custasse.
Existem veneráveis exceções
e Franz Paul Trannin da Matta Heilborn era uma delas.
Mas quem possa ser Franz Paul Heilborn?
Paulo Francis, para os conhecidos.
Intelectual, sarcástico, sardônico, muitas vezes cruel e sempre exalando aquele seu senso de superioridade, ele não foi entendido por muitos, mas os poucos que se preocuparam em ler aquilo que escrevia tem hoje conhecimento que ele era um homem a frente de seu tempo. Via as coisas com estrema clareza e as expunha de forma cristalina. Sabia como ninguém colocar os pingos nos is.
Vejam este seu texto:
Não se pode dizer que o brasileiro vote mal. Na eleição de Collor, rejeitou o passado nacionalista e populista de Brizola e Lula. As propostas de Collor eram de modernização capitalista. Como haviam sido as de Jânio. Que se tenham revelado um cleptolunático, e, outro, não-se-sabe-o-quê, renunciando, não é culpa do eleitor.
Não vou entrar no mérito da questão, mas nosso passado politico e governamental, não me parece brilhante. Ele sobreviveu em tropeços sem que o povo pudesse sequer participar. Éramos e sempre fomos meros coajuvantes de um circo politico pré montado que atºe hoje nos trata como fossemos crainças e quatro anos de idade. Se não, vejamos:
Fomos descobertos por acaso. Tivemos delimitadas nossas fronteiras por decisão papal. Fomos a um tempo parte de Império europeu aqui instalado a toque de caixa, devido a intervenção de Napoleão na Europa. Depois uma independência sem morte, cujo o intuito precípuo era a montagem de um novo império que simplesmente passava o poder do pai para o filho. Ai veio a Republica velha dirigida pelo sistema alternante batizado de café (São Paulo) com leite (Minas Gerais) extinto pela revolução de 30, que amarrou seus burros no obelisco e assumiu para ficar para a frente. um golpe e nos transformamos no Estado Novo. Quando a coisa não mais colou, fomo elevados a condição de democracia representativa de votos de cabrestos. Ai o surpreendente 24-08-54 revela o suicídio de Getúlio Vargas. A luta pelo poder, a breve modernidade implantada por JK, um governo de seis meses de um criptolunático, o 25-08-61 com a renúncia de Jânio, o parlamentarismo apaziguador de Tancredo Neves para tornar possível a posse de Jango, o plebiscito de araque que fez este ter de volta os pleno poderes de um presidente. O desabrochar de 31-03-64, que vinha desabrochando desde a morte de Vargas, com os militares assumindo o poder, garantindo ao povo que governaria temporariamente até que as instituições fossem trazidas a uma nova realidade, cujo temporário durou 21 anos. A abertura virtual e gradativa. O 15-01-85 quando os membros de um colégio eleitoral, deram o poder a Tancredo Neves, e negando a Paulo Maluf, o candidato da revolução do continuísmo. Tancredo que não viveu para governar e morreu na mesma data de Tiradentes. Virou mártir. E o povo também com a era Sarney. A nova constituição sai do papel . A primeira eleição popular, com Collor assumindo e tendo que sair antes do término de sem mandato vitimas de uma meia dúzia de caras pintadas e um impecheament do congresso. 8 anos de FHC, quando as coisas começaram a ser colocadas em seus devidos lugares até que em 01-01-2003 um ex-metalúrgico passa a assumir o cargo mais importante do pais e promete o reencontro do Brasil consigo mesmo.
Logo todos nós somos hoje a cara do Brasil. Do seu congresso, do seu senado de tudo que acontece por ai. Nos reencontramos conosco mesmos, como garantiu o atual mandatário. Aí eu me pergunto: o que o povo teve com tudo isto?
Fomos massa de pastel. Amassados, fritados e devorados sem chance de qualquer movimento popular que incitasse reais mudanças. Houveram sim marchas para a liberdade, pela família brasileira, de caras pintadas, paradas gays, mas foram uns poucos que na realidade souberam aproveitar-se das oportunidades, e foram estes que realmente decidiram por nós.
Não vi em outros países fortes e emergentes uma história politica tão esdrúxula e tão carente de participação popular. Desde o tempo de Cabral vivemos de mentiras. Em se plantando tudo dá. Erro, somos pobre em fosfato. Espoliados sim, fomos. Paulo Francis assim o escreveu:
... havia vigorosa vida econômica na colônia, independente de Portugal, e cuja economia lucrava tanto quanto a dos EUA, baseada na alta rentabilidade do negro escravo, que estes autores (José Fragoso e Manolo Florentino) dizem de ter sido de 19% ao ano, o que até hoje é muito dinheiro...
Logo a espoliação e o cabresto não são de hoje.
albatrozusa@yahoo.com
