sábado, 26 de setembro de 2009

POETRY IN MOTION

POETRY IN MOTION




Não sei quantos de vocês sabem, mas sou arquiteto por formação, 
escritor por vocação, mas agente de compra e venda de cavalos de corrida por coração. Trata-se de uma inusitada combinação. 
Mas funciona, pelo menos para mim...

Muitos anos atrás, um cliente, que praticamente iniciou comigo sua jornada como proprietário, disse muito perto de a nossa associação chegar ao fim, que eu era um poeta. Não sei com que fito o fez. Sórdida aleivosia. Impossível de se conceber, em se tratando da pessoa educada que é. Outrossim, se não foi um elogio, desculpe-me, mas assim o entendi. Porque cavalos de corrida são, para mim, poetry in motion.

O cinema e a televisão, guardadas as devidas proporções, são outras formas de colocar movimento em uma poesia. Porque me preocupei em frisar, guardadas as devidas proporções? Diria que o cinema é uma arte. Muitos a rotulam de sétima. O problema do cinema é que ele é reducionista, simplificador em sua essência. O grande texto literário de centenas de páginas vira uma dezena em um screen play e os diálogos passam a fazer parte de um script. A adaptação do livro ao cinema tem que ter no máximo duas horas de duração. Por isto, você muitas vezes escuta aquela celebre frase: gostei mais do livro.

Não deixa de ser um covardia, pois, o escritor tem o espaço que aassim o desejar. O adaptador do livro ao cinema não.

E a televisão? Tem menos de uma hora, com intervalos de dois minutos de anúncios, dentro de sua programação? É bem verdade, que este veículo tem a vantagem de poder utilizar capítulos e seqüências. Daí o imenso sucesso das novelas e mini séries. O problema é que a televisão nunca quis assumir a posição de veículo cultural. Trata-se, pura e simplesmente de um veículo de comunicação de massa, dirigido por pessoas que, basicamente, pensam em lucros, e transmitem a informação, orquestrada, para um público passivo e em sua grande maioria, de fácil manipulação. Mas, não quero me afastar muito do assunto principal.

Deixemos de lado a pulcritude de mentes doentias e levemos em conta que o cavalo de corrida é uma poesia em movimento. O ritmo, a rima, as concordâncias e a beleza, estão todas inseridas nele: em seu pedigree, nas suas formas e em sua mecânica de locomoção. Não pode se observar esta obra da natureza, polida pelas mãos da monarquia inglesa, de outra forma. Se não, estaremos condenados à catarse ou ao diletantismo espúrio. Eu ouvi de tudo. Proprietários afirmarem serem capaz de ver a alma do cavalo”, veterinários que conseguem “entrar na mente dos mesmos”, treinadores que afirmam “poder se comunicar com aqueles que treinam, enfim, existem distintas formas de expressar seu conhecimento pelo objeto em questão. Não dúvido de nenhuma delas. E porque? Porque para mim, cavalo é sentimento. Você o sente e o elege. Na realidade quando se sente o cavalo, é ele que o elege. É que nem mulher desejada. Quando você a deseja, não sabe que ela já decidiu se o deixará ou nãos e chegar a sua intimidade. Você precisa apenas estar atento, quando a porta for aberta e você convidado a entrar.

Com os cavalos acontece a mesma coisa. Eles lançam sinais que alguns são capazes de captar e reconhecer que ali está concentrada a classe necessária para aquele belo animal se tornar um campeão. Creio que em outras artes a coisa não deve ser diferente. Existe gente que vê um quadro e imediatamente identifica um novo talento. Outro o fazem nas letras. Os ingleses tem uma palavra que define bem: feeling.

Acho feeling uma palavra mais forte que sentimento, sensibilidade ou outra no gênero a ser escolhida. Por isto quando você encontra um turfista, traduzindo esta gama de pessoas, como amantes dos cavalos de corrida e não aqueles tão somente das corridas de cavalos, o acha completamente fora de orbita. E creiam, estarão absolutamente certos se assim acharem, pois, o turfista vive em um outro mundo. Um mundo próprio cheio de beleza sensações e despesas.

Infelizmente no Brasil, as corridas de cavalos não tem o charme das levadas a efeito na Inglaterra, na França e mesmo em nosso vizinha Argentina. No Brasil são mal vistas, pois, sempre os governos e a igreja fizeram questão de assim a rotular. Não me perguntem porque? É uma atividade que dá empregos a uma massa imensa de pessoas que nada poderiam fazer em outras atividades.

Quando tiverem um tempinho passem por Cidade Jardim ou Gávea, e almocem uma tarde de fim de semana. Aposto que vocês irão gostar.