terça-feira, 8 de setembro de 2009

PROBLEMAS, QUEM NÃO OS TEM, OS CRIA


PROBLEMAS,
QUEM NÃO OS TEM,
OS CRIA


Uma vez escreveu Paul Valery que
 O homem é absurdo por aquilo que procura, 
grande por aquilo que encontra.

O problema é que quando o homem não encontra ele cria. Um grande amigo já desaparecido, Mariano Villar Urquiza, sempre me lembrava que quando o homem não tem problemas os cria, em diversas formas de absurdo. Quando uso o termo homem, o faço dentro de uma condição precípua e genérica, independentemente do sexo, da cor, do credo e da nacionalidade.

No inicio deste século, conflagrou-se um enxame de acusações contra o abuso sexual de padres da igreja católica aqui nos Estados Unidos. Elas vinham de todos os lados e um total de mais de 2,000 padres em diversas categorias, foram oficialmente acusados. Casos de sérias molestações, envolvendo múltiplas vitimas com criveis provas e c documentações. Com elas vieram também algumas exploratórias de gente que se aproveitava da onda para pegar seu jacaré.

A igreja tratou de abafar a magnitude do problema resolvendo extra judicialmente cada um dos casos com acordos. Em poucos meses englobou vitimas e acusados no chamado crime do silêncio. E com isto a Igreja católica dividiu a  culpa com todos aqueles que coadunaram com esta corrente de silêncio, obstruindo que a lei viesse a ser comprida. Os acusados foram simplesmente transferidos de suas dioceses para outras e a roda viva continuou seu movimento. O que garante que em suas novas posições não voltarão a repetir as mesmas faltas? Estariam eles curados? Arrependidos? Duvido bastantes destas possibilidades.

Estudei em um colégio de jesuítas, por 13 anos. Do primário (era assim que se chamava) ao cientifico (outra sigla da época).  o Santo Ignácio, no Rio de Janeiro. Uma outra época, uma outra realidade. Rigidez, responsabilidade

O que faz um padre trazer para si este problema? Eles têm o privilégio de trazerem consigo o estigma do pai. E se aproveitam destes privilégios para assaltar jovens e crianças que de alguma forma os vêem como pais. Quando se fala de mais de 2,000 acusados advindos de uma mesma instituição não estamos mais nos reportando a indivíduos e sim a referida uma instituição, no caso a igreja católica.

O parâmetro não me parece acidental, ou mero produto de um atração momentânea. Trata-se de um caso de policia e que até aqui está sendo acobertado pela instituição que congrega estes acusados em prol de uma suposta defesa da fé dos católicos. Fé? Que fé é esta que tem que ter omitida do conhecimento dos fiéis, fatos escabrosos como estes? Talvez por isto biblicamente falando sejamos vistos como rebanhos. Não pensamos, apenas seguimos a direção que o pastor no direciona. Seria isto fé?

Por alguns anos a Igreja fez vista grossa. Pareciam poucas acusações e de nenhuma periculosidade.   Outrossim, o conhecimento de um simples caso, criou coragem em outros e curiosidade da parte dos pais em saber se com seus filhos algo similar havia acontecido. Ante o volume de casos, a Igreja não teve outra alternativa do que se utilizar de seus advogados para apagar o fogo, que parecia estar se transformando em um grande incêndio.

O que faz, padres agirem assim? Se falsificam? Lembro-me de uma das grandes crónicas de Nelson Rodrigues publicada no final dos anos 60. Tenho aqui seu Parágrafo inicial que para mim é épico e assim se referia.

O ser humano é o único que se falsifica. Um tigre há de ser um tigre eternamente. Um leão há de preservar, até morrer seu nobilíssimo rugido. E assim o sapo nasce sapo e como tal envelhece e fenece. Nunca vi uma marreco que virasse outra coisa. Mas o ser humano pode, sim, desumanizar-se. Ele se falsifica e, ao mesmo tempo, falsifica o mundo”.

Os tristes fatos acima citados são na verdade uma falsificação de um determinado segmento, que deveria ser um dos mais tradicionais de nossa sociedade. Deveria, mas não parece ser. E eu gostaria de saber porque? O celibato, a solidão, a reclusão para as orações? Tem que haver uma razão.

Neste ponto, Nelson Rodrigues tinha razão. O ser humano se falsifica. Seja ele um operário feito presidente pelo voto popular que imediatamente adota uma nova postura em se vestir, em se pentear e até de agir, qual Macunaíma quando branco ficou e imediatamente repudiou a raça do qual pertencia antes do milagre verificar-se.

Cabe a sociedade repudiar estes camaleões que hoje sequer suportam o peso de suas eloquente promessas eleitorais e se cansam ao ter que explicar, com o próprio hálito, como igualmente diria Nelson Rodrigues.
albatrozusa@yahoo.com