terça-feira, 22 de setembro de 2009

QUANDO A CAUSA QUER JUSTIFICAR O CRIME

QUANDO A CAUSA
QUER JUSTIFICAR O CRIME

 

Qualquer crime sempre tem uma causa. 
Dificilmente um delito acontece de forma espontânea, 
como por um instinto animal. 
Evidentemente que existem os casos em que o animalesco toma conta do homem,
 principalmente entre os drogados e aqueles que abandonaram a razão 
e decidiram mergulhar no absurdo.
Mas existe ainda a questão da causa que fomenta uma guerra e então a morte de muitos passa a deixar de ser um crime e entra na esfera das fatalidades em combate. Milhões são mortos e não há crime. Isto não lhes parece um absurdo?

Carlos Heitor Cony, um dos meus ídolos literários, uma vez em seu premiado livro Romance sem Palavras fez um de seus personagens tecer um comentário pertinente a aquilo que acabo de proferir.

“… 
a causa justifica o crime. Os cruzados matavam os infiéis para salvar os Santos Lugares. Os sionistas matavam alguns ingleses para criar um Estado judeu. Os nazistas matavam os judeus para garantir a pureza da raça alemã... na Índia, na Irlanda onde católicos e protestantes lutam à séculos, os mártires tombam de lado a lado... tudo é causa e tudo é crime”.

Hoje Bin Laden acredita e prega que os não mulçumanos são os infiéis. Nero, se ainda fosse vivo continuaria a mandar os cristãos aos leões. Logo, qualquer que seja a época o homem é o homem, e ele possui instintos assassinos. Em grupos transformam o crime em guerra e assim justificam ter uma causa justa para eliminar aqueles que consideram inimigos.

O mundo vive de causas e efeitos. Hoje existe um efeito que em muito irá prejudicar a nação mais poderosa do planeta. O racismo. Ele é a causa das coisas estarem cada vez mais difíceis de serem aprovadas pelo congresso e pelo senado norte-americano. Tudo o que o presidente Obama quer levar adiante, parece ser imediatamente bloqueado pelos extremistas, que formam grande parte do partido republicano. Hoje este partido está votando em bloco, o que obriga o democrata a fazer o mesmo. É o inicio do que chamamos de antagonismo. Ou trocando em miúdos, o inicio do fim...

Em um talk show foi apresentado um filme feito dentro de um ônibus escolar, onde um estudante negro aplicou uma sova em um branco aos olhares de seus companheiros que nada fizeram. Imediatamente o jornalista que mediava este programa de rádio disse que tratava-se da era Obama, onde seriam os filhos dos brancos que apanhariam dos negros. Com isto, estava explicito que o caso contrário dos anos 60 era para ele, plenamente justificável, quando os negros tinham que se sentar nos últimos bancos dos coletivos públicos, tinham bebedouros especiais, não podiam frequentar os mesmos banheiros dos brancos e amanheciam enforcados nas árvores do Alabama e do Tennesse. É a causa, justificando o fim.

Não vou afirmar que no Brasil não exista também racismo. Velado, mas ainda existe. Todavia, havendo, está em bem menor escala do que se verifica nos Estados Unidos. Outro patamar. Pega mal ser racista no Brasil. Ao contrário dos Estados Unidos, onde em certos estados o racismo ainda é visto como um sinal de patriotismo. Um ponto positivo em relação a civilidade. Um total despropósito.

Dou graças a Deus do povo brasileiro, em sua grande maioria, ter uma índole distinta. Criticada em alguns pontos, mas neste item altamente beneficiada. Crescemos dividindo o mesmo palmo de chão, jogamos bola e interagimos com outras raças, sem rotulá-las. A zona comercial do Sahra, no Rio de Janeiro, é o maior exemplo disto. Árabes, judeus, e outras raças menos votadas, são capazes de conviver pacificamente. Por sua vez, não somos obrigados por lei a chamar negros de african americans. Caso contrário, estariamos sujeitos a atos processuais. O chamamos de creoulo, tziu, moreno, negão, mas nunca em um tom pejorativo. Pelo menos em meu ponto de vista.

Aliás, como pode ser notado, na lista do Cony não aparecem entreveros internacionais contando com brasileiros. Pelo que me consta, apenas contra o Paraguai tivemos aquela rusga nos tempos de Solano Lopes. Porém, uma guerra bolada, patrocinada, orquestrada e no final e perpetrada em seus mínimos detalhes, pessoalmente pelos britânicos que anteviam no desenvolvimento do Paraguai, uma afronta não tão somente a seu poderio econômico no continente, como também um acinte ao domínio comercial do transporte marítimo que exercia, até então, pelos mares do universo. E o conde D’eu, deu paulada por todos os lados, envenenou rios e aniquilou com uma civilização.

Iniciei com Cony e com ele termino:

“… revolução é a palavra mais prostituída do vocabulário brasileiro... aquilo que poderia chamar de revolução é considerado uma revolta, uma sedição, uma inconfidência, um golpe ou uma campanha movida pela fracassomania. E os movimentos reacionários são tidos como revoluções”.
albatrozusa@yahoo.com