O Brasil passou por surtos epidémicos monumentais no início do século passado.
A todos vencemos, graças a tenacidade de nosso povo e a ajuda de nossos médicos,
que acreditem estão entre os melhores do mundo.
Você só descobre este fato quando mora por muito tempo fora do Brasil.
Outrossim existem duas epidemias que parecem que não estamos conseguindo contornar. A primeira é a da Dengue, e o raio daquela mosquita de nome complicado. E a segunda é que acaba de ser descoberto pelo Instituto Oswaldo Cruz, como sem cura.
Todos nós que nascemos no Brasil a contraímos quando ainda muito pequenos. É uma doença altamente contagiosa, reconhecida como brasilidade. Aquela que o faz se sentir mulher de malandro: me bate mas não me deixe!
Não é fácil ser brasileiro. Não é fácil justificar a um amigo do exterior as coisas que acontecem no nosso Brasil. Não é fácil se acompanhar o Jornal Nacional ou a Veja e tomar conhecimento de quanta falcatrua corre pelos bastidores da politica e dos grandes investidores. Não é fácil não se poder confiar na policia, em nossos políticos e mesmo em alguns de nossos bispos. Não é fácil ter que aturar o Parreira e depois o Dunga, com o Felipão dando sopa por ai. Não é fácil se enfrentar o caos do trânsito em nossos maiores centros urbanos. Aliás, nada é fácil no Brasil. Mas na hora H, quando bate aquela saudade a gente quer mesmo é estar no Brasil. E porque? Porque mesmo com todos os problemas que nos afligem, é lá que se joga conversa fora, que se encontra pelo simples prazer de se encontrar, que os amigos são para sempre, que na praia todos são iguais e acima de tudo, onde se ri a toa, se abraça a toa, se beija a toa. Somos um povo táctil.
Falamos pelos colovelos, pois, este é ainda, o mais barato meio de comunicação. Ouvimos pouco, pois, sabemos que a maioria das pessoas não tem nada de sério a dizer e no caso do Rio de Janeiro, cheiramos aquela maresia, que penetra em nossas entranhas e nos deixa sentir livres e vivos pelo resto do dia. Sintomas explicitos de brasilidade.
Visito o Brasil frequentemente, outrossim Rio, São Paulo, Recife, Porto Alegre e de vez em quando Curitiba são meus únicos destinos. Pouco, muito pouco. Mas existem coisas nestas cidades que não abro mão de fazer. E aqui as enumero.
Comer uma massa no Parigi ou uma carne no Rubayat.
Saborear um queijo catupyri com goiabada cascão na tribuna do hipódromo da Gávea.
Andar pela orla de Ipanema e Leblon no Domingo.
Sentar nos botecos do Rio e apreciar gente que a ele comparece.
Ir a Olinda jantar no Oficina do Sabor um camarão dentro do gerimum com molho de pitanga e depois sentir na pele a brisa que por aquelas bandas sopra.
Tomar sorvete de acerola.
Assistir no Maracanã um Fla-Flu.
Passar um fim de tarde na Argumento do Leblon ou na Cultura da cidade velha de Recife a folhear os livros dos outros.
Tomar água de coco.
Em Porto Alegre frequentar aquelas ruazinhas do antigo Moinhos dos ventos, bem na esquina de meu hotel Sheraton e ver muita gente bonita a se divertir.
Ligar o rádio e ouvir muita besteira.
Me lembrar de um desarme no Newton Santos, de um passe do Didi, um drible do Garrincha, um gol do Pelé, das sacanagens dentro e fora de campo do Romário e do meu bom amigo Dorval, o argentino mais carioca de sua história.
De uma muqueca de siri mole no mercado da cidade baixa em Salvador e da Nha Benta tradicional da Kopenhagen.
De coisas que fizeram a sua vida e hoje só existem em sua lembrança: do Veloso que não existe mais. Da Montenegro que mudou de nome, do Pier que foi destruído, do Jangadeiros que nunca será esquecido, do Antônios que virou um café como outro qualquer, da sorveteria Moraes, dos grandes cinemas, Metro, Pax, Caruso, Miramar, Rian... do cachorro quente do Genial. De topar na praia, nos bares, nos restaurantes e nas ruas com o Jobim, o Vinicius, o Henfil, o Pellegrino, o Bidet, o Sabino, o João Saldanha, o Nelson Rodrigues, o Otto, o Paulo Mendes Campos, o Francis...
Do futebol society do Chico. A feijoada de sãbado e o cozido do domingo.
Do fim de tarde na piscina do yate Club na enseada da Urca.
Do meu Salgueiro que este ano tirou o pé da jaca. De ver a banda de Ipanema passar ou simplesmente passar com ela.
Do por do sol visto do Arpoador.
Do melhor serviço de bordo que já não voa mais.
De um chocolate quente em Gramado.
De meu Cristo Redentor com os braços abertos sobre a Guanabara.
Chega! Tá dando vontade de ir para o aeroporto!