quarta-feira, 2 de setembro de 2009

UMA OLIMPIADA NO RIO DE JANEIRO


UMA OLIMPIADA NO RIO

As duas últimas olimpíadas demonstraram que a modernidade a cada dia se suplanta, 
seja em material, seja em treinamento.
É na verdade a grande capacidade 
do homem de se superar.

Desde os tempos em que Adão mordeu aquela malfadada maça, e Caim matou a Abel, que o homem demonstra uma séria capacidade de construir. Outrossim esta capacidade é igualmente usada para destruir. E no caso brasileiro de extrapolar.

Somos os reis da extrapolação, dos rios Capibaribe e Beberibe se juntando para formar o Atlântico, da Rádio Jornal do Comércio falando para o mundo, do maior futebol deste planeta, dos milagres econômicos, das pontes que ligam nada a porra nenhuma, das cestas básicas que garantem votos, dos mensalões nunca explicados, dos valeriodutos esquecidos, dos meninos abandonados, do coce as minhas costas que eu coço a sua, dos decretos secretos do senado, do ladrão que rouba ladrão tem 100 anos de perdão, da brasilidade inequívoca de Deus. Das frases monumentais: Nunca antes neste pais...

O que mais me preocupa é o fato de presidentes - como o ex norte-americano - aproveitarem-se de demonstrações esportivas para misturar política com lazer. Coisa antiga explorada pelos Césares, Hitler e outros menos votados. Mas nisto, guardadas as devidas proporções o nosso Brasil não fica atrás, pois, o presidente Lula até na China igualmente compareceu para "promover" o Rio de Janeiro como sede para os jogos olímpicos de 2016. Vocês não acham esta iniciativa instigante?

Como não somos fortes em política internacional, vide o caso do gás natural com a Bolívia, não temos o que misturar. Apenas a sede louca de aparecer. Acho que nosso presidente sonhou a vida inteira com estas bocas livres. Com estas viagens, que antes tanto censurou a seu antecessor. E, aqui entre nós, as aproveita como ninguém. Sejam os jogos olímpicos de Beijing, ou o campeonato mundial de cuspe em distância em Macau. Tem viagem, ele estará lá.

Não digo que entre uma e outra viagem frutos não sejam colhidos. Seria leviandade de minha parte achar que a coisa se resume apenas em turismo. Mas confesso que não vejo o presidente Obama, viajando tanto. Afinal ele tem um pais para governar, problemas de uma crise econômica mundial a resolver, índices de desemprego a baixar. Quem viaja são seus ministros. No Brasil parece que a turma vai toda. Soltos na buraqueira.

Vocês já imaginaram o que poderá ser uma olimpíada no Rio de Janeiro? Turistas se transformando em maratonistas para se livrar do arrastão. Aquele túnel que liga a Gávea a São Conrado na boca da Rocinha, sendo obstruído pela turma do tráfego. Sei que é exagero, mas que dá medo dá.

Uma olimpíada não é um Pan Americano. A coisa é bem mais complexa. E então pergunto-me. Não seria melhor se melhorar os hospitais, consertar as vias publicas ou mesmo sanear as próprias favelas em todos os sentidos? E que tal treinar e operacionalizar de uma maneira racional, nossa força policial?

Sei que para o presidente Lula, isto não são coisas pequenas. Ele pensa grande e sabe que problemas como estes devem ser equacionados. Mas para que isto se torne realidade sua presença seria necessária.

Alguém vai bramir. E a Copa do Mundo? Porque a Copa do mundo de futebol sim e uma olimpíada não? Responderia que é diferente. São públicos distintos. Ladrão e baderneiro brasileiro que se preza, ama o futebol. Quando há Copa do mundo, o Brasil para. Em dia de jogo do Brasil, ninguém sequer morre. Mas em olimpíada não. Não é muita gente que dá bola.

Temo que o presidente Lula seja mais homem para festa. Nunca para enterro. Logo, qualquer problema ou desastre que possa ocorrer, sua primeira reação seria a de sempre; não vi, não ouvi, não tenho nada a declarar. Estava no Iraque com minha amiga Hillary, tentando dar uma mãozinha por lá.

Sim, temo por uma olimpíada no Rio de Janeiro! Teríamos, antes de tudo, de rever o nosso sistema de segurança. Deveríamos equacionar nossos problemas de trânsito, Enfim é tanta coisa, que não me sinto apto a descrevê-las.

Não sou pessimista. Sempre me vi como um realista. Mas creio que com estas idéias estapafúrdias de trazer grandes eventos para cidades como o Rio de Janeiro me tornarei um derrotista. O Rio de Janeiro é bárbaro. A cidade que nasci, cresci, me formei como homem e me ensinou o caminho de minha vida. Segui meu destino, me afastei de minha cidade, mas parte de mim ficou por ai. Pelo menos as grandes lembranças. Fecho os olhos e vejo Ipanema e Leblon, os dois irmãos a pedra do arpoador que um dia foram as fronteiras de meu mundinho. Visualizo em todos os seus mínimos detalhes. É bom demais.