sexta-feira, 4 de setembro de 2009

A VERDADEIRA FACE DA UNANIMIDADE


A VERDADEIRA FACE
DA UNANIMIDADE

O grande Nelson Rodrigues achava a unanimidade burra e Fernando Sabino não tinha dúvidas em afirmar que se a maioria fosse inteligente, não teria sido Cristo a ir a cruz e sim Barrabás. Pois é, a grande aprovação popular ao governo Lula em minha opinião é outro exemplo.

Mas isto é a minha opinião que como cada um tem, o seu próprio nariz em distintos tamanhos, formatos e matizes. E isto me lembra uma outra história, acontecida dois anos antes de eu me mudar para os Estados Unidos. A disputa pela prefeitura de São Paulo em 1985. Três candidatos maiores: o ex-presidente Jânio Quadros representando o arcaico conservadorismo pelo PTB, Fernando Henrique Cardoso assumindo a posição de liderança pela necessária modernidade que o Brasil necessitava, representando o PMDB e a enfadonha presença de Eduardo Suplicy que pelo PT, ajudava a dividir os votos progressistas.

Eu trabalhava esta época em São Paulo, embora votasse no Rio de Janeiro e assim fui obrigado a acompanhar toda aquela celeuma. Tudo me pareceu surrealista.

O anacrónico Jânio,  que 24 anos havia renunciado vitima segundo ele das forças ocultas, unia a extrema direita que estava sentindo o poder escorregar pelos dedos com a crescente abertura democrática. Pregava o conservadorismo, os princípios religiosos, os bons costumes e morte ao comunismo. Aproveitava-se do ateísmo de FHC para atear fogo aos ânimos já quentes com slogans Eu, eu eu, o Fernando é ateu. De igreja em igreja, qualquer que fosse a fé de seus rebanhos. De evangélicos, a protestantes, de pentencostais,  a católicos, e até ubandistas não foram poupados. Apregoava que o Comunismo era a Aids do mundo e que a vitória FHC seria o inicio do fim da fé, entre o povo brasileiro.

“Ajudem-me em minha luta, a luta de um cristão para proteger o cristianismo”. Logo, para Jânio não se tratava de uma eleição. Era uma cruzada medieval!

Do outro lado, FHC era apoiado pelas lides artísticas e por grande parte das esquerdas, sempre abraçado a imagem do recém desaparecido Tancredo Neves. Precisava de ganhar em São Paulo e usar esta vitória como trampolim para o seu verdadeiro objetivo, o Palácio do Planalto.

Ás vésperas das eleições FHC tinha 36% das intenções de voto, contra 33% de Jânio o que representa um empate técnico, pois, todas estas pesquisas tem como uma área de erro 3%. Mas creio que FHC não pensava assim, pois usando palavras otimístas bravateava: “Não queremos vencer, vamos massacrar” e na véspera do dia da votação cometeu seu maior “erro tático. Sentou-se na cadeira de Mário Covas. Ledo engano.

Ele que no debate, ao qual Jânio se recusou a comparecer, patrocinado pela Folha de São Paulo, não respondeu a crucial pergunta de Boris Casoy sobre suas convicções religiosas e com isto havia cometido seu primeiro erro tático, com a sentada na cadeira em hora inoportuna, acabou por tendo parte de seus votos desviados para o candidato do PT, que acabou se tornando o fiel da balança.

Moral da história, o impossível de se imaginar aconteceu. No estado de maior discernimento politico, de maior concentração de riquezas, pasmem, acabou dando Jânio.

A chamada Não faça da prefeitura uma alambique, vote em Fernando Henriqueficou engasgada na garganta do PMDB.

Foi esta a primeira batalha eleitoral acirrada, após o desaparecimento da redentora. Golpes baixos, disse me disse, acusações, apelações acabaram por provar mais uma vez que a maioria, como no caso de Barrabás, mandou para a prefeitura de São Paulo, o cara errado. Cinco anos depois, São Paulo apoiaria outro cara errado, baseado em um péssimo governo exercido por José Sarney. Mas o Collor felizmente não ficou muito tempo no poder. Teve que pegar seu Breitner, sua gomalina e voltar com o rabo entre as pernas para a sua Alagoas.

Pelé uma vez disse que o brasileiro não sabia votar. Foi quase apedrejado. O último presidente militar, o general Figueiredo por sua vez disse que o brasileiro não tinha memória. E foi achincalhado. Pois é, o Collor está aí de volta eleito pelo voto popular. O Sarney consegue se manter agarrado a cadeira que agora acredita ser sua e cativa. O Renan está novamente no Senado dando aulas de honestidade. O José Dirceu está quieto o que quer dizer que muita chuva e trovoada há de vir e finalmente o Lula vai fazer da Dilma, o novo presidente da Republica.

Enquanto as cestas básicas e bolsas famílias tiverem o mesmo peso politico, que as bicicletas para os trabalhadores na época de Evita Perón na Argentina, a grande maioria votará errado e a unanimidade será ainda mais burra.
albatrozusa@yahoo.com