sábado, 19 de setembro de 2009

O PERIGO DA UNANIMIDADE SEGUNDO NELSON RODRIGUES

O PERIGO DA UNANIMIDADE



A união faz a força, dizem os antigos. 
Mas seria esta força sempre direcionada para o bem?
O grande pensador Nelson Rodrigues tinha 
uma opinião distinta sobre esta questão.


“ … na hora de odiar, de matar, ou de morrer, ou simplesmente de pensar, os homens se aglomeram. As unanimidades decidem por nós, sonham por nós, berram por nós. Qualquer idiota sobe num pára-lama de automóvel, esbraveja e faz uma multidão. Um camelô de caneta tinteiro é mais ouvido que os profetas antigos. E quando está só, o homem começa a babar de pusilanimidade. As maiorias, as unanimidades ululantes, é que dão a nossa covardia um sentimento de onipotência... o brasileiro se incorpora a qualquer grupo de mais de cinco pessoas... cada qual se esconde debaixo de uma unanimidade...”
Confesso que tenho medo das unanimidades. Acredito que realmente as pessoas se deixam levar quando em grupos. Agem não individualmente. Tendem a agir como um todo. E um todo nem sempre representa um pensamento comum, principalmente quanto liderados por um celerado mental.
Nelson acreditava também que embora na simples subida no para-lama, esbraveja e com isto forma uma multidão em volta de si, para que o convencimento seja geral é necessário que este orador seja um pulha. Um canalha:
“ ... É uma verdade historicamente demonstrada: - o canalha, quando investido de liderança, faz, inventa, aglutina e dinamiza massas de canalhas. Façam a seguinte experiência: - ponham um santo na primeira esquina. Trepado num caixote, ele fala para o povo. Mas não convencerá ninguém, e repito: - ninguém o seguirá. Invertam a experiência e coloquem na mesma esquina, em cima do mesmo caixote, um pulha indubitável. Instantaneamente, outros pulhas, legiões de pulhas, sairão atrás do chefe abjeto...”
Sempre tive pelo Nelson Rodrigues um respeito e uma admiração digna de um vira latas seguidor de paradas. O fato dele ser Fluminense e da extrema direita, eram os pontos que me deixavam sempre com um pé atrás em relação a ele. Poucas foram as vezes que tive a oportunidade de vê-lo pessoalmente. Ou no maracanã em dias de Fla-Flu e algumas vezes no fim de semana no restaurante Antonio’s.
Ele enxergava pouco. Passava o tempo todo em sua cadeira ouvindo o radiozinho de pilha, todavia em compensação descrevia o clássico como ninguém na segunda feira em sua coluna. Via o que ninguém tivera a oportunidade de ver. No Antonio’s na maioria das vezes, sozinho era uma figura impar, Comia frugalmente e sempre um copinho de leite o acompanhava. Sobre este restaurante um vez ele fez um comentário que considero hilariante e real.
“ … temos o Antonio’s, um restaurante que não é restaurante, mas uma simples atitude. Sua bebida não nos atrai, nem sua comida. Vai-se lá por motivos ideológicos, literários e não alcoólicos, vejam bem, não alcoólicos. No Antonio’s come-se com desprazer e bebe-se com tédio. Mas fazemos a nossa pose, e basta...”
Eu gostava da comida do Antonio’s, principalmente de seu file a Oswaldo Aranha, que não constava do cardápio, mas era pedido por muitos, inclusive eu. Como não bebo, não posso afiançar sobre a qualidade de sua bebida, embora o José Carlos de Oliveira e Tarso de castro, na maioria das vezes saíam dali quem nem a torre de Pisa. Logo, havia alguém que gostasse. Outrossim, o ponto de vista de Nelson Rodrigues estava correto. Ia-se ali para participar da “ambience” cujas as presenças de gente famosa, atraía a todos. Inclusive a mim, um habitual do Le Coin – o original da João Lira – depois da praia e dos jogos do Maracanã.
Temos, principalmente nós os cariocas, aquela tendência de nos aproximar das multidões. A praia é um exemplo. Aqui nos Estados Unidos, os norte-americanos procuram as praias mais vazias para desfrutar de sua tranquilidade. Querem ler e na maioria das vezes, descançar. No Rio de Janeiro, a gente vai ao lugar da moda, quanto mais cheio melhor. Vai-se para badalar, ver e ser visto. E viva a galera que o cerca.
Um dia foi o Arpoador, a seguir o Castelinho, houve o advento do Pier, enquanto este existiu. A Montenegro, chegou a ser aquela que parecia definitiva, porém vieram o Posto 10 e até a do Pepe, na Barra da Tijuca. Resquícios de um tempo que se renova como tudo na vida, como diria Manuel bandeira.
Porém, o que não muda na mente brasileira, é a necessidade das multidões. Elas são um apelo maior do que a sua própria vontade. E com estas aglomerações poderão advir aquelas unanimidades que nunca nos levam a lugar algum.
albatrozusa@yahoo.com