sábado, 5 de setembro de 2009

PROPINQUIDADE INIBIDORA

Propinquidade Inibidora

Outro dia, um leitor que me disse ser leitor assíduo do que escrevo
 - fato este que a família agradece com penhor – 
me perguntou porque não uso mais Nelson Rodrigues em meus textos,
 já que ele acredita ser este o meu favorito escritor.

Caro Fernando, tenho por Nelson Rodrigues uma grande admiração. Ninguém conseguiu por intermédio de orquestradas aberrações e alucinações verbais demonstrar tão extrema sensibilidade para as coisas do dia a dia como Nelson o fez. Ele era o homem do subúrbio. Aquele que entendia o cotidiano. Mesmo para mim, que sempre me considerei um liberal, o seu conservadorismo me inebriou. Seu relacionamento com a cabra vadia inspirou-me.  Outrossim não diria ser ele o meu favorito, porque não tenho apenas um favorito, tenho esta capacidade de não lealdade a este ou aquele. Sou um prostituto em relação a literatura. Me entrego a todos. Aliás, o fato de gostar de vários autores em diversas gamas e matizes, sempre me pareceu o mais lógico. O mesmo acontece comigo na musica. Admiro tanto Wagner como Tchaikowski. Tenho por Bach e Mozart o mesmo grau de admiração que nutro por Beethoven e Dvorak. Logo não sou um homem de um só autor.

Paulo Francis por exemplo, foi para mim o jornalista que possuía a maior cultura e o mais ferrenho sarcasmo. Ia ao ponto sem nunca sair de seu pedestal. Arnaldo Jabor é o que mais se aproxima do mesmo, sem usar da empáfia. José Carlos de Oliveira, no meu entender era aquele que sabia observar e transcrever para o papel, os mínimos detalhes de uma cidade que vivi e da noite em que convivi. Rubem Braga em suas crônicas era severo chegando as vezes, aos limites da crueldade capixaba. Lucio Cardoso o que sempre exigiu de mim a mais pesada das atenções, sempre foi o meu maior ídolo em livros. Nada pode-se perder em suas frases, que as vezes são quilométricas. Otto Lara Resende, ao contrário, tinha a frase curta e contundente. Sua  marca registrada. Paulo Mendes Campos o lirismo do homem que vê o mundo sobre um outro prisma. Rubem Fonseca é letal, quando mostra aquilo que todos olham mais não querem na realidade ver. Fernando Sabino era repleto de imaginação e de uma capacidade de produzir textos em situações nunca antes pensadas. Helio Pelegrino, sempre fez pensar ao Nelson Rodrigues e a mim, que a cada simples ato existe uma complexa razão de ser. Até ao chupar um chicabon. Entre os antigos, sou tiéte machadiana, enlouquecia com a revolta pessoal do negro Lima Barreto, sempre tive inveja de minha incapacidade de descrever de forma sucinta um simples muro como Marques Rebello o fazia com rara maestria, continuo a rir desbragadamente sempre que leio um trecho com a pueril tragi-comicidade” de Adriano Suassuna e choro com as cicatrizes que Graciliano Ramos nunca nos deixa esquecer existirem pelo interior de nosso pais. E Antônio Callado, o mais britânico entre os brasileiros? Com que objetividade apresenta uma tese. Enfim, nossa literatura é rica em personagens. Nunca duvidei deste fato.

Provavelmente seja eu dotado de uma estarrecedora propinquidade que me iniba de apaixonar-se por uma escola ou um só determinado autor. Desculpe, mais sou assim. Aos quase 60, nada irá me mudar. Principalmente em minhas minhas desenfreadas paixões literárias.

Pois bem, nas terras do L’Ambrosie, do Vefour, do Tour d’Argent, do Fouquet e do Fouchon, me torno romântico. Lembro-me de algo, que nada tem haver. Um vez me perguntaram o que achava mais interessante no Tour d’Argent? O pato ou o cartão numerado sobre o mesmo. Sou do tempo que neste restaurante dava-se uma correntezinha, não o postal, mas o que realmente mais me delicia é ver da mesa em que sento, a estátua de Santa Geneviève, a padroeira de Paris, naquela parte do Senna.
Porque me lembrei deste fato? Cada um tem sua ebulição própria de ácido carbólico. Tenho as minhas. Trata-se de um desvio ilusório do seu narcisismo vulgar. Ou a já citada propinquidade inibidora. Enfim, o nome que melhor lhe aprouver.

E já que falamos em desvios ilusórios, que tal nos reportarmos a nossa imprensa escrita e televisada, já que de há muito, abandonei o convívio com o rádio. Como se esquecem num piscar de olhos do escândalo do dia anterior e passam para o próximo. Ninguém mais fala no Renan, o Edir foi eclipsado pelo Sarney. O José Dirceu parece que foi passado longínquo como Dom Pedro II. E o valerioduto, em que deu? Teve o mesmo destino do mensalão, da investigação sobre os correios, das assistências super faturadas? O Madoff está em cana por aqui. Como estão os culpados destas falcatruas ai? Gostaria de ser respondido um dia...
albatrozusa@yahoo.com