quinta-feira, 17 de setembro de 2009

DELIRIUM TREMENS

Delirium Tremens
Um mes no ar !





No Brasil, a história a glória, a lenda são tecidas de equívocos fatais.
Nunca se sabe se o grande homem é grande homem, 
se o gênio é um débil mental,
se a senhora honesta é uma Messalina.
A simples palavra constrói uma solidão inapelável e eterna.

E isto é uma verdade. Uma verdade trazida de forma nua e crua, como tantas outras tecidas pelo jornalista Nelson Rodrigues.

Trata-se de um fragmento de uma crônica escrita por ele em Fevereiro de 68, intitulada os falsos canalhas. Quarenta e um anos atrás e nada parece ter mudado, vocês não acham? Principalmente no tocante aos canalhas...

Acompanho o noticiário brasileiro com interesse e não o vejo cristalino. Jornalistas mantendo suas linhas de pensamento, não aceitando que possam estar errados. Políticos aproveitando-se do espaço a eles ofertados tratando de defender sua classe, uma classe que é hoje vista com muito receio por parte da população que tem ainda o poder de ler e ouvir. Não se discutem projetos que possam melhorar o pais, apenas opiniões sobre este ou aquele escândalo. Acho que estamos perdendo a nossa capacidade de criar e mantemo-nos estagnados na de apenas criticar. E tudo dentro de um clima folhetinesco: delirium tremens!

É difícil escrever. Escrevo e sei das dificuldades. Pois, quando você escreve, se desnuda à frente de um público que desconhece e não se sabe se o aprecie. Um mergulho no escuro. Por isto deixo claro a todos que acredito que não seja susceptível a sinistros enganos e muito menos a hediondas torpezas, usando um linguajar Rodriguiano. Tento ver os fatos como eles são e analiso suas nuances da forma que aprendi a fazê-lo. Logo não acredito existir em meu currículo uma mácula indelével. Haverão sempre erros, que podem ser corrigidos, mas nunca uma pré disposição a isto ou aquilo. Vivo repaginando-me, pois, a vida assim o exige.

Todavia, não observo a mais vaga movimentação de nossa imprensa em relação a um problema que será o maior este século para o planeta em que vivemos. Exagero, de vez em quando, um anuncio na Globo sobre a pujança de nosso Aqüífero Guarani. Mas é pouco. Muito pouco.

Hoje, já não existe mais o menor resquício de dúvida - que neste século que se inicia - o maior desafio da humanidade será a luta pela água doce. A escassez é um fato. A preocupação no Brasil, nos parece nenhuma. Os mananciais estão se extinguindo, os rios secam e as geleiras se dissolvem no mar. Nossa floresta é dizimada e nada parece conter estas discrepâncias. Falamos em petróleo e gás, quando deveríamos estar falando de água.

Em 50 anos, coisa que felizmente não serei obrigado a ver, estaremos procurando por água, como hoje pesquisamos por petróleo. Não seria esta uma preocupação válida de ser discutida e dissecada em nossa mídia? Hoje, não amanha? Não seria importante estabilizarem-se os primeiros estudos e projetos para a exploração, armazenamento e aproveitamento de nossos principais mananciais? Se são tão frondosos quanto o do Aqüífero Guarani, deveriam hoje estar trancados em Fort Knox. Ou esperaremos como sempre até o último minuto, para só então enfrentarmos o problema? Nos manteremos onímodos na solércia? Escravos de apagões?

Desde que Homero lançou seus primeiros alfarrábios que o homem adora escrever e ler histórias, sejam elas bonitas ou horrendas. Não importa se Hamlet era cara um significativamente indeciso, ou Otelo ligeiramente ciumento. Ninguém ousou discutir até aqui a ambigüidade de Capitu, a inexistência de carácter em Macunaíma ou o egocentrismo de Wether. Tudo são histórias. Apenas histórias. Baseadas no dia a dia da vida que vivemos. Logo, existem Capitus, Macunaímas, Othelos e Hamlets espalhados por ai. Logo os personagens são espelhos de uma realidade.

A água do planeta é também uma realidade. Sua escassez um alerta. Precisamos que pessoas que tenham o dom de personificar as necessidades públicas, aqueles chamados de fazedores de opinião, se preocupem com este fato. Coloquem a boca no mundo. Motivem a população.

Dentro do que foi exposto pelo ex-vice presidente norte-americano Al Gore, estamos acabando com os mares, com os rios, com as florestas, com as geleiras e até com a camada de ozônio, que nos protege do sol. Os dias estão cada vez mais quentes e frios. Os extremos se afastam com rara liquidez. Mares estão subindo. Isto me assusta, pois, tudo isso afetará, de uma forma ou de outra, nossos mananciais da chamada água potável. E ai qual será o discurso dos políticos?

No mais completamos um mes no ar. Obrigado a aqueles que tornaram isto possível. Principalmente um agradecimento a nossos 14 seguidores.
albatrozusa@yahoo.com