sexta-feira, 1 de janeiro de 2010

BOM 2010 MEU RIO DE JANEIRO


CRISTO REDENTOR, BRAÇOS ABERTOS SOBRE A GUANABARA...




Já tive a oportunidade de passar o réveillon em enumeras cidades. Diga uma e garanto-lhe que existe uma grande oportunidade de eu já ter passado. Fazia parte de um programa que idealizei com minha esposa Cristina. O seguimos metodicamente por décadas. Paris, Londres, New York, Rio de Janeiro, Miami, Cancun, Salvador, Dubai. Desfrutamos da beleza de cada uma destas cidades. Pois, aqui lhes afirmo, sem estar tendo o menor resquício de dúvida, que não existe um fim de ano mais bonito e mais carismático que o do Rio de Janeiro.

Aquilo que se passa nas areias de Copacabana é divino. Difícil até de ser descrito, dada a sua magnitude. E eu não falo apenas dos fogos de artifício. O que mais me contagia, é a eletricidade emanada de todo aquele que tem seus pés enfurnados naquelas areias que foram cantadas em odes e versos durante séculos. Imaginem se aqueles milhões de pessoas se unissem de uma mesma forma, para fazer esta cidade maravilhosa reviver os seus grandes dias? O dos anos 60 e 70. Batizados pelos poetas, dos anos dourados. Cessaria a violência, a corrupção, o desmando. E a isto, voltaria a ser dado a possibilidade do reflorescer do lirismo, da poesia, da vontade de curtir e viver em uma cidade abençoada pelos deuses. Que me desculpe a grande Bahia, mas o Rio de Janeiro, a meu ver, foi muito mais abençoado, pelo menos pelo Deus maior; o criador.

A cada ano esta noite que representa o último dia de um ano, é mais esperada e mais aprimorada. Vem gente do mundo inteiro para curti-la. Para mim ela sempre foi mística, pelos cultos a Iemanjá e outras divindades. Alegre, pois é baseada em um sentimento de esperança. Concreta, pois, trás sem maiores problemas milhões às areias de Copacabana. Mágica, pois, representa recomeço. Sim, por pior que seja a situação que você possa se encontrar, recomeçar é o sentimento que mais é acolhido no fundo de seu peito.

Gosto que me enrosco do Rio de Janeiro. Lá nasci e me criei. Ipanema e Leblon, foram por quase 37 anos o meu universo. Nada mais desejava do que viver o dia a dia. Nunca notei, quando lá vivia, sua sujeira, sua desorganização, a falta de água, o excesso quando das chuvas, os apagões, enfim coisas, que são inadmissíveis em uma cidade de seu porte, mas que no Rio de Janeiro, a gente relevava. Tirava de letra, pois, as pessoas é que valiam a pena.

Não havia tanta violência e tanta corrupção. Havia sim muita vontade de se curtir e ser curtido.

Carioca nunca foi e nunca será aquele que  nasceu no Rio de Janeiro. Lego e cego engano de quem assim o pensar. É sim aquele que se vive e se adapta a moda de viver na cidade, tendo ele nascido no estado da união que for, ou mesmo no pais vizinho ou distante. Ninguém foi mais carioca que o pernambucano Nelson Rodrigues, ou os capixabas José Carlos Oliveira e Rubem Braga. Ninguém se adaptou mais a forma de viver do Rio de Janeiro que os mineiros Paulo Mendes Campos e Fernando Sabino. Embora há de se convir, que ninguém, mas ninguém mesmo cantou melhor o Rio de Janeiro que um brasileiro, que o tinha até no nome, Antonio Carlos Jobim. 

Sim, porque o Rio de Janeiro não é São Paulo, Porto Alegre ou Belo Horizonte. O Rio de Janeiro é um estado de espírito e este estado de espírito é que o faz ser um carioca.

Em qualquer parte do universo. Em qualquer ponto, do mundo. Em qualquer situação que você possa se encontrar, você sabe que é carioca, quando ouve o samba do avião. Pois, você chora. Não dá para agüentar e não se emocionar.

“Minha alma canta

Vejo o Rio de Janeiro

Estou morrendo de saudades
Rio, seu mar
Praia sem fim
Rio,
você foi feito prá mim

Cristo Redentor

Braços abertos sobre a Guanabara

Este samba é só porque
Rio, eu gosto de você

A morena vai sambar

Seu corpo todo balançar

Rio de sol, de céu, de mar

Dentro de mais um minuto estaremos no Galeão

Copacabana, Copacabana…”

Por estas e outras, revolta-me ver no que o Rio de Janeiro se tornou. Meninos assassinando gente de bem. Helicópteros da policia sendo abatidos por mísseis lançados por marginais. Quadrilhas do narco tráfego dominando nossas favelas. Ônibus sendo queimados. Câmeras flagrando policiais tomando a roupa e os pertences de pessoas assassinadas. Perdeu-se o pudor, a vergonha, o senso de humanidade.

Enumere a ação selvagem, e o Rio de janeiro de hoje, será capaz de lhe provir com um caso semelhante. Não era assim. Tornou-se...

Seria o sinal do final dos tempos? Não vou tão longe. Espero apenas que aquela força que faz os cariocas se reunirem nas areias de Copacabana, na noite de final de ano, os faça também reagir ao que está acontecendo. Que votemos melhor e cobremos ainda mais, pois, o Rio de Janeiro vale a pena. Um bom 2010 para a minha cidade e para todos aqueles que lá habitam.