O MADE IN BRAZIL
Comentei ontem sobre a diferença primordial entre o homem e o guri, é o preço de seus brinquedos. E entre estes brinquedos existem três que são a sua perdição: amante argentina, yate transoceânico e cavalo de corrida. Necessariamente nesta ordem.
Todos os três são apaixonantes extremamente caros, arrebentam com o seu saldo bancário, mas nem sempre deixam saudade ao serem abandonados. Eu diria que o cavalo de corrida sim, pois, quando ele é bom, lhe trás sensações nunca antes vividas. Dizem alguns, que é melhor até que sexo.
Estou em meio a um leilão de cavalos aqui em Lexington, Kentucky, o centro mundial de cavalos de corrida. O frio é intenso, o mercado está em crise, mas mesmo assim tem gente que arrisca milhões nos mesmos.
A bem da verdade, o cavalo de corrida, quando levado profissionalmente é uma boa fonte de lucro. Sou a prova viva que dá para se viver deles. Mas é negocio de risco que nem bolsa de valores. A vantagem é que quando há lucro, o percentual de ganho é bem maior e mais rápido do que Wall Street. Como todo mercado financeiro você tem que estar bem assessorado e gastar aquilo que possa perder. Num momento de crise como atual, você tem que sentar na bucha e esperar que o maremoto passe. Abandonar no meio da tormenta é o mesmo que entregar o ouro ao bandido.
O mercado do cavalo de corrida, conhecido como puro sangue inglês ou thoroughbreds, funciona como aquele estudioso de modificações climáticas. Pelo nível de pessoas que o habita, tem a rara capacidade de funcionar como radar, e detectar com algum tempo de antecedência uma possível crise se avolumando no horizonte.
Ela dá seus primeiros sinais de queda, antes mesmo que a crise se configure. Porque? Porque ele é formado em sua grande maioria por gente poderosa, bem informada e que será afetada em seus lucros numa crise. Ele encolhe antes que o imobiliário.
Não é a toa que é a oitava força econômica nos Estados Unidos gerando milhões em movimento e centenas de milhares de empregos. O foi a primeira na Irlanda até uns 15 anos atrás, quando então a informática assumiu sua posição de destaque na ilha verde.
Aviso aos navegantes. O mercado de cavalos de corrida continua descende ladeira abaixo o que sugere que a melhoria tão propalada já aqui nos Estados Unidos, está pelo menos a médio prazo longe de se tornar realidade. Que se abra o olho ai no Brasil, um pais que está gastando e sua classes B e C se endividando a juros expulsivos com o beneplácito do governo, que ainda por cima tem seu presidente indo a televisão incentivar para que se comprem electrodomésticos e outros bem de consumo.
Somos um povo otimista ao extremo. Nosso olho é verde e amarelo, nossa alma azul e branca. Chegamos até a acreditar que o PT era um partido de trabalhadores. O Sarney e o Pitanguy são eleitos para a Academia Brasileira de Letras. Se bem que o Pitanguy pelo menos é bom no que faz fora dela. Nos enganamos que nosso presidente tem prestigio internacional. E acima de tudo, convivemos décadas com a crise e sobrevivemos. Mas, tão logo colocamos a cabeça para fora da água e já estamos achando que os maus tempos nunca mais irão voltar.
Quem garante esta certeza? Temos ficticiamente uma moeda internacional, que chegou onde chegou com o corte de um montão de zeros. O dólar está em baixa, bradam os arautos do apocalipse contra o capitalismo. Ele realmente está em baixa. Mas por favor vá a China, cuja economia vai de vento em popa e pergunte a qualquer um sorridente chinezinho se ele prefere receber em dólar ou real.
“Devagar com o andor que o santo é de barro”, já dizia minha sábia vó Adelina. E o nosso além de ser de barro, é made in Brazil...