terça-feira, 19 de janeiro de 2010

ESCREVER







QUANDO A EMENDA CONSEGUE SER MELHOR QUE O SONETO

Sempre admirei ao ex-primeiro ministro britânico Winston Spencer Churchill (1874 – 1965). Podiam chamá-lo de bêbado, inconsequente, dúbio, jogador inveterado, enfim, o que viesse a mente de quem dele não gostava. Não me importa. Sempre admirei suas qualidades e ainda mais os seus deitos. O cara tinha tiradas geniais, levou uma guerra que já era perdida muito antes mesmo de ser iniciada e tinha pelas mulheres, pelo brandy e pelos cavalos de corrida – não necessariamente nesta ordem - um carinho todo especial.

Um dia ele escreveu algo que me chamou bastante atenção e que vivi muitos anos depois e descobri ser mais do que verdadeiro. Assim ele disse, ou melhor escreveu:

“Escrever um livro é uma aventura. Começa-se, qual um brinquedo e um prazer; Aí passa a ser uma amante, e se transforma num senhor e a seguir um tirano. A última fase é como você está perto de se reconciliar com a sua servitude, você mata o monstro, e o manda para o público.”

Um livro o consome por inteiro, pois, você primeiro cria um novo mundo, a seguir penetra no mesmo e tenta vivê-lo em seu dia a dia, e quando se dá conta abandonou o seu verdadeiro mundo. E como fica a família? Um pouco de lado. Aceito que família é uma espécie de presídio de portas abertas que a gente pode sair, mas não sei porque cargas dágua, não consegue arredar o pé. Logo, mesmo que o livro o faça deixar a família em um segundo plano, ela está lá, no segundo ou terceiro andar. Não importa. O tempo o fará pegar o elevador e novamente os encontrar.

Escrevo. Crônicas, contos e livros. Já tenho minhas prateleiras abarrotadas destes a espera apenas de encontrar tempo de procurar uma editora e publicar. Porque não o faço? Porque na verdade acho que eles sempre podem sofrer uma melhoradinha aqui e ali. E o trabalho passa a ser inacabável. E sobre esta tirania que Sir Winston Churchill se refere. O livro se apossa de si e você como dominado pelos tentáculos de um polvo, não consegue se desvencilhar.

E escrever acaba fazendo parte do seu dia a dia, como o ar que você respira, ou a comida que o alimenta. Assim sendo, todo o livro escrito deve ser respeitado. O ato de escrever por si só deve ser respeitado, pois é necessário coragem para se atirar no escuro formado por leitores que você não conhece e não atina o que pode passar pela cabeça dos mesmos.

Tiro o meu chapéu para quem escreve e acima de tudo para aqueles que publicam livros, num pais que lê pouco e cujos os direitos autorais não o levam a lugar nenhum, a não ser de ônibus.

Como igualmente tiro o meu chapéu, para aqueles que lêem e opinião. Expõem-se e exigem do escritor uma reflexão daquilo que produziu no papel.

Há muita gente com grandes idéias, capacitada a expor publicamente o que pensa, mas que infelizmente não se sente com vontade ou coragem de fazê-lo. A estes incito a saírem de seus casulos e porem em exercício seus cérebros. Eles igualmente precisam de exercício, como seu corpo.

É aí que a emenda se torna melhor do que o soneto.