sábado, 31 de outubro de 2009

O QUASE

AS DESVANTAGENS 
DE NÃO SE CHEGAR AOS FINALMENTES






Outro dia, dirigia pela A1A em direção a meu sorvete predileto em Hollywood, quando ouvi esta pelo rádio: as cervejas teriam seu percentual de álcool diminuídos para 3%. Meu Deus 3%! Não bebo cerveja, aliás não bebo nada alcoólico, nem mesmo vinho, mas para ficar na casa do 3% não seria melhor se beber água?

Imagino os contemporâneos tchecos da cidade de Pilsen no ano de 1839, depois de introduzirem a técnica da baixa fermentação e assim inventaram a cerveja, sentiriam ao ouvirem de seu alcaide a seguinte ordem: Agora baixem para 3% o teor alcoólico deste troço que você inventaram e querem chamar de cerveja.

Nunca gostei destes substitutos: refrigerantes lights, adoçantes, carne sintética, chocolates dietéticos e todos "os quases" que hoje nos são vendidos, com a desculpa de serem melhores que os real things. Que graça tem o quase? Eu quase consegui. Eu quase ejaculei. Eu quase peguei aquela onda. Eu quase passei no vestibular. Eu quase ganhei na loteria. Eu quase li aquela citação. Eu quase comi aquela feijoada. Eu quase provei daquele vinho. Eu quase assisti a vitória do Flamengo. Desculpem meu português, mas o quase é uma merda.

Para todo erro existe um perdão. Para todo acerto uma glória. Para toda tentativa um louvor. Mas para todo o quase, nada, ou quase nada...

Na vida tem que se conseguir, o tudo. Não com ganância, ou em excessos. Mas com o equilíbrio e a harmonia necessária para se completar o circuito proposto. Seja lendo um livro, seja amando a pessoa amada, seja comendo ou bebendo aquilo que lhe apetece, seja simplesmente mantendo-se em paz consigo mesmo.. O quase não o leva a lugar nenhum. A não ser a frustração.


Os norte-americanos intentaram o on the rocks. Imaginem, os ingleses levaram quase um século para tirar a água do whisk, e os seus descendentes, enchem o copo de gelo. Qual a vantagem, deste quase?

Tudo nesta nossa vida, que é muito mais passageira do que muita gente possa supor, é uma questão de finalmentes”. Desculpem, os que não assim acreditam, mas nunca de “entretantos”. Se voc~não está apto a conseguir, siga aquele que o consegue. À lua não foi dada a luz própria, mas ela inteligentemente se deixa refletir.

Nosso controvertido presidente Lula quase foi presidente em três  oportunidades. Mas foi somente na quarta tentativa que logrou seu intento e eliminou sua frustração. Adolf Hitler quase ganhou a sua guerra, mas no final se estrepou. Napoleão quase dominou o mundo e terminou, como Greta Garbo no seu Irajá, a ilha de Santa Helena. O Brasil foi quase campeão do mundo em 50 e vejam a tristeza que o Gigghia causou a todos. Este quase” derruba com o espírito de qualquer um. Ser segundo, as vezes é muito pior de que ser último.

Sei porque isto afirmo. Trabalho com cavalos de corrida e quase vencer uma carreira, acreditem é uma frustração sem precedentes, pois, como tudo na vida, ser segundo por focinho, não o leva a lugar nenhum. É como ser vice presidente. Passados os anos, ninguém se lembra, quem foi o vice do fulano ou do cicrano. Hoje temos um vice-presidente que só entra na mídia, quando sofre nova cirurgia. Só vai ser notícia quando morrer. E assim mesmo se ainda estiver no cargo.

Poucos se lembram quem foi o medalha de prata neste ou naquele evento olímpico. A não ser que seja seu primo ou visinho. Ninguém dá bola para aquele que quase saiu na foto. Quem se preocupa com aquela morena que quase deu? Logo, qualquer tipo de substituto, o quase, apenas vela uma situação que embora inexistente, poderia existir se você tivesse a coragem de encarar epartir para a the real thing.

O diabético que ainda não está no estágio de insulina, tem que abdicar do quase e partir para uma alimentação sadia, e muito exercício, pois, só assim poderá reverter a sua situação. Usar os substitutos, paliativos de uma situação irreversível e comer sem regra mantendo-se escravo de seu sofá e de sua televisão, apenas irá agravar a sua situação.

Fernando Veríssimo, em um de seus raros momentos sérios, uma vez iniciou um quase poema da seguinte forma: “ainda pior do que a convicção do não e a incerteza do talvez é a desilusão de um quase”.

O Brasil, uma pais do tipo quase, têm que definitivamente abdicar de sua eterna posição de pais do futuro e figurar como um pais do presente. Os dirigentes de nossas duas maiores metrópoles têm que abandonar a inércia de que quase resolvem os problemas, quando helicópteros despencam dos céus no Rio de Janeiro e automóveis são roubados - noite após noite - de estacionamentos pagos e dotados de “segurança” na cidade de São Paulo. E nós brasileiros, de uma vez por todas, devemos que abdicar, de nossa condição de eternamente quase e partimos para ser um povo unido e direcionado para um mesmo objetivo. Vocês sabem que eu quase não escrevi este artigo...