NO SÁBADO FOI UM HELICOPTERO. AMANHÃ...
No sábado foi um helicóptero. Amanhã será o que?
Um avião, um estádio, o Cristo redentor?
A verdade nua e crua é que perdeu-se totalmente o equilíbrio social e a segurança, contra o crime organizado, em nossos maiores centros urbanos.
O fator do desequilíbrio está a mercê de quem tiver o armamento mais forte.
E parece não ser o caso da policia carioca.
Enquanto o governo não se preocupar com a educação e a segurança e ficar apenas desenvolvendo programas que possam lhe trazer votos a curto prazo, a situação ficará cada dia mais difícil de ser vivida. Volto a repetir, não é apenas este governo. O problema vem de décadas. Apenas que neste governo, pela primeira vez existem as condições de mudança e até uma situação econômica viável de levá-las adiante. Mas existe a intenção? Parece que não.
Ganhar o direito de sediar uma olimpíada, não é tarefa fácil, mas levá-la a efeito de um forma organizada, profissional e segura, é ainda muito mais difícil.
E o que se sente, principalmente nos maiores centros urbanos brasileiros, é que a guerra contra a marginalidade foi praticamente perdida. A turma do tóxico, faz o que quer, quando bem quer e se dá ao luxo de dar as cartas, sem que o Planalto faça absolutamente nada. Quadrilhas e esquadrões da morte são comandados de dentro das cadeias. Ignora-se, para tentar fazer valer aquela velha máxima que o que se ignora, pode não existir. O problema é que existe, e mais helicópteros serão abatidos.
Isto é uma guerra civil. A pior de todas as guerras, pois, não tem sequer um sentido ideológico. É a lei do mais forte, como no antigo faroeste. Vence quem tiver mais organização e poder de fogo. E infelizmente não parece que estejamos no lado mais organizado e preparado para este tipo de luta.
Imaginem se o que aconteceu este sábado e transformou-se em manchete de amplo destaque, em toda a mídia internacional, vem a acontecer duas semanas antes da escolha do Rio de Janeiro como cidade sede das olimpíadas de 2016? O que o nosso presidente teria a dizer ao comitê olímpico internacional? Que o helicóptero era de mentirinha? Que foi a oposição que o derrubou, ou melhor um tucano que entrou na turbina?
Desculpem cariocas, me sinto no direito de falar pois, também o sou. Se não mais o sou, fui. Nasci no Rio, vivi lá até 1987 e o visito quatro vezes por anos, pois, ainda família lá tenho, assim como amigos e negócios. Como aqui já escrevi, o Rio é mais do que um estado, é um estado de espírito. Você abandona o Rio, mas ele na verdade nunca abandona você. Mas aqui entre nós, o Rio de Janeiro é lindo, seu povo maravilhoso, outrossim estamos longe de ter o controle sobre nossa cidade.
Ela toma a direção que quiser, pois, hoje somos marionetes da marginalidade que habita nossas favelas. Verdadeiros polichinelos no picadeiro da vida. Nos mantemos na defensiva. Quando deveríamos partir para a ofensiva, exigindo do governo federal, estadual e municipal, reações que punam e exterminem de uma vez por todas, com este cancro em nossas cidades. Para isto, estas autoridades tem seus salários por nós pagos com os nossos impostos.
Cada vez que vou ao Rio, noto uma coisa que para os cariocas já se tornou parte do cotidiano. Você anda pelo Leblon, Ipanema ou Copacabana é nota que todos os edifícios estão cercados com grades. Alguns, mais caros, com segurança própria. Aí eu me pergunto, são os moradores que devem viver atrás das grades, e não os marginais?
Não existe mais nenhum respeito a coletividade. Ônibus são queimados, carros metralhados e agora até helicópteros são abatidos. Onde isto nos vai levar? Não vejo estas coisas acontecerem aqui e na Europa, pelo menos nas cidades e lugares que freqüento. Sei que acontece nos filmes, no Iraque e no Afeganistão. E possivelmente em países da África.
O Rio de Janeiro não pode se transformar no símbolo da violência. Aliás, os filmes brasileiros que vendem para o exterior e trazem platéia aos cinemas, são exatamente aqueles que tratam do tema, tendo como script central a prostituição e o tráfego de narcóticos, e como cenário de fundo, as favelas e os presídios.
Em uma crônica intitulada, incêndios do nada, Helio Pelegrino conceitua o problema da criminalidade da seguinte forma: “cada povo tem os criminosos - e a criminalidade – que merece. Isto significa que a patogenia da violência, longe de ser explicável a partir de uma visão catastrófica da natureza humana, cruel e corrupta em seu miolo, tem raízes sociais e politicas que a tornam um fenómeno coletivo, passível de transformações – ou modificações – capazes de agravá-lo ou atenuá-lo”.
Resta apenas a nós revertemos esta situação.