segunda-feira, 5 de outubro de 2009

O ENVELHECIMENTO

O Envelhecimento.






Existe uma pane em relação ao envelhecimento. A gente age e pensa em um diapasão, mas o corpo reage em outro, muito inferior ao necessário. 
Mas mesmo assim você resiste e faz uma ginástica, aplica um dieta, toma umas vitaminas, diminui seu volume físico de ações e em questão de meses, 
se sente novamente como em seus tempos de jovem. 
E a vida continua.

A verdade é que a gente não vê o tempo passar. Pensamos que continuamos os mesmos aos olhos de outrem. Isto infelizmente é uma mentira. Talvez, uma mentirinha... Que seja. Mas algo, bem longe da verdade. Aliás, dizem os entendidos da mente humana, que esta é a nossa forma de nos auto-defender. Agindo em defesa do amor próprio. Enganando-se a nós mesmos. Pode até ser. Mas eu acho que o problema é outro.

Temos em nossa casa espelhos e esses nossos companheiros, do dia a dia, nos fazem ver nossa fisionomia, como imutável. Um cabelinho branco aqui, uma ruginha ali. Nada a se preocupar. Assim, como esta fisionomia vai se deteriorando bem devagarzinho, não sentimos uma grande diferença ao nos mirarmos duas, três  vezes ao dia. É como no caso das crianças. Quem vê todo dia, não imagina na realidade como elas crescem. Que chega depois de algum tempo, sente logo o salto.

Outrossim, que seja a nossa auto-defesa ou quem sabe, nossa pouca acuidade visual. Não importa. Simplesmente achamos que não mudamos muito, que na realidade estamos conservados e melhores do que todos os de nossa idade. Até dar de cara com aquele amigo que a gente não vê há décadas. Ai a cobra fuma...

Segundos depois dos abraços fraternais e sorrisos espontâneos, passa a se verificar entre os dois, aquela troca de olhares, para que cada um meça a decadência física do outro e assim se sinta melhor. É um estudo que todo e qualquer cidadão depois dos 40 leva adiante. O faz – na maioria das vezes - sem ao menos notar. Mas ele existe. Tenham consciência disto. Afinal é maior do que as suas próprias forças tentar sequer resistir a este instinto humano. O da auto preservação.

Ai você observa aquela pança ali, aquela flacidez acolá, as rugas em volta dos olhos, a situação do pescoço, até que terminada ambas inspeções seguem-se os habituais comentários pífios: Puxa, como você está bem. Não envelheceu nada?” Ai você não se intimida e também mente cinicamente: “que nada, a máquina está enferrujada. Você é que está bem. Parece com aquele mesmo rapaz que conheci na praia, há vinte anos atrás”. O outro retruca: “Eu diria 25…” Na verdade foram mais de 30. Mas quem gostaria de lembrar?

A partir de então, aliviados com as respectivas inspecções, trocam-se informações, lembram-se de fatos que viveram juntos, pergunta-se sobre amigos em comum, até chegar a Eunice, aquela vizinha carnuda, que fora a verdadeira razão deles terem se conhecido, e o fato indiscutível deles terem se afastado. Eunice sempre fora o ponto comum, mas ao mesmo tempo de divergência. A divorciada do prédio. O sonho de consumo de dois meninos que viviam de masturbações.

Disputada palmo a palmo entre os dois estudantes, por mais de meio semestre, Eunice Villar Vilhena Assumpção, deixou um deles a ver navios e mergulhou no oceano do outro. Mas como perguntar o final da história, sem demonstrar o fel da derrota? E porque também se importar com o fato, se Eunice, 20 anos mais velha que ambos na época, hoje devia estar num sarcófago?

Desagradava a ambos tocar no assunto. Chão perigoso. Areia movediça. Seria como abrir velhas cicatrizes, se é que as chagas estivessem já cicatrizadas. E assim o papo descambou para os esportes. O rubro negro gozou o tricolor pela vitória de dois a zero, com publico recorde no Maracana, mas foi delicado. Em momento algum lembrou o fato do Fluminense já estar com os dois pés na segunda divisão. Ele perdera Eunice, mas seu time era o único, entre os cariocas, que nunca havia ainda sentido o gosto da segundona. Esta era a sua vingança. A derrocada tricolor.

Despediram-se, depois de calorosa conversação. Trocaram e-mails e telefones. Prometeram se falar, não serem mais dois estranhos e cada um seguiu o seu caminho sem olhar para trás. Porém, agora, ambos cientes, que haviam realmente envelhecido. Ainda bem que menos em relação ao outro.
Albatrozusa@yahoo.com