domingo, 25 de outubro de 2009

PARA TER FON FON, TRABALHEI TRABALHEI...

Quando o Brasil cantava mais






Uma das tentativas da ditadura de manter as suas anomalias embaladas como coisas normais, para inglês ver, foram os festivais das canções. Eles formaram uma época dentro de nosso contexto cultural e foram imensamente importantes no lançamento de uma nova geração de compositores e cantores.

Houveram vários Festivais, mais penso que da Excelcior, da Recorde, o Universitário e o Internacional da Canção, que era o maior e que atraía um maior público, foram os que realmente bombaram.

E na voz de Hilton Gomes
A coisa assim começou
“Atenção, Rio! Atenção, Brasil
Atenção países participantes do I Festival Internacional da Canção Popular!
5, 4, 3, 2, 1!
Boa Sorte, Maestro!”

O Internacional da Canção funcionou de 1966 a 1972, tinha como palco o Maracanazinho e em sua primeira edição foi transmitido pela TV Rio, até se tornar posse da Globo. Como tudo que dá certo no Brasil.

Era dividido em duas partes. A primeira nacional, que determinava a música que nos iria representar na segunda parte, a internacional que contava com a participação de artistas e compositores estrangeiros. Era uma festa. A disputa do Galo de Ouro. Tinha até torcida organizada. De lá saíram grandes músicas como Saveiros (Dori Caymmi e Nelson Motta), Dias das Rosas (Luiz Bonfá e Maria Helena Toledo), Margarida (Guthemberg Guarabira), Travessia (Milton Nascimento), Carolina (Chico Buarque), Sabiá (Tom Jobim e Chico Buarque), o Sonho (Egberto Gismonte) e outras.

Houveram momentos marcantes. A vaia dada ao Sábia, pois, o povo alvoroçado em demonstrar à ditadura, que não coadunava com ela, resolveu abarcar o Caminhando - Para não Dizer que falei das flores de Geraldo Vandré, foi estrondosa. Foi coisa de furar tímpanos. Tom e Chico recém vindos de Nova York e Roma, foram vaiados de pé. A patuléia não se conformou com a derrota de Caminhando, uma musiquinha demagoga, para o poema que era o Sábia. O tempo provou que o júri tinha razão, o Sabiá ficou para sempre, o Caminhando é peça de museu.

Outros grandes momentos foram o de Fio Maravilha de Jorge Bem que simplesmente fez o Maracanazinho explodir, num trenzinho que rodou por todo ele. Outrossim o momento culminante foi Wilson Simonal fazendo 40,000 cantar no ritmo por ele ditado.

O da Excelsior durou apenas duas versões, mais foi de lá que saiu em 1965, seu primeiro ano, o Arrastão de Edu Lobo e Vinicius de Moraes, e que projetou uma jovem gaúcha que respondia pela alcunha de Elis Regina.

No da Record, disputava-se o Sabiá de ouro, e creio que nenhum outro festival lançou tantas músicas boas e tanta gente que se tornou famosa, como o da Record, que funcionou de 1966 a 1968. Imaginem:

A Banda e Roda Viva (Chico Buarque), Disparada (Geraldo Vandré), Ponteio (Edu lobo), Domingo no Parque (Gilberto Gil), Alegria Alegria e Divino Maravilhoso (Caetano Veloso), Gabriela (Francisco Maranhão), Lapinha (Baden Powell), Sinal Fechado (Paulinho da Viola) e muitas mais.

Pois é, o Brasil cantava muito mais. O Simonal foi marginalizado com a alcunha de ser um alcagüete dos militares, coisa que foi provada não ser verdadeira, mais o bom crioulo nunca mais teve chance de voltar ao lugar que um dia conquistou por merecimento. Jorge Ben mudou de nome. Chico e Edu hoje não parecem estar mais concentrados em compor. Tom e Vinicius morreram. A turma da tropicália que nasceu praticamente a nível nacional nos festivais da Record, igualmente andam em outra. Um chegou a ser ministro e o outro quase que um modelo.

Foi um grande momento de alegria, criação e espetáculo, vivido dentro de uma das épocas mais tristes de nossa história política.

A ditadura incentivava os festivais como Nero incentivava os jogos no Coliseo. Mas cantou-se muito. E mesmo quando o governo censurava e proibia que certos cantores interpretassem algumas de suas músicas, eles se silenciavam, mas o povo cantava para eles, como no caso de Cálice de Chico Buarque e Milton Nascimento.

Sobre esta última música vale a pena se ver no you tube o clip de Stigmata Zuzu Angel. Uma obra prima em minha humilde maneira de ver.

Um tempo de molecagem

“E nada como um tempo após um contratempo

Pro meu coração

E não vale a pena ficar, apenas ficar 

Chorando, resmungando, até quando, não, não, não

E como já dizia Jorge Maravilha.
Prenhe de razão

Mais vale uma filha na mão

Do que dois pais voando

Você não gosta de mim, mas sua filha gosta

Você não gosta de mim, mas sua filha gosta”.

O Brasil precisa voltar a cantar. Não sei se agora em forma de festivais, porque eles eram produto de uma época. Talvez, de outra forma.

Mas da forma que for. A Musica Popular Brasileira e a Bossa Nova, necessitam ressurgir. Novos talentos deveriam florescer e nova alegria necessita voltar. O Brasileiro é festeiro por natureza. O que ele precisa é voltar a cantar.