quarta-feira, 14 de outubro de 2009

O DIFICIL EQUILIBRIO QUANDO SE TEM O PODER




Estudei durante doze anos no colégio Santo Ignácio do Rio de Janeiro. 
Uma instituição de jesuítas muito conceituada e rigida a seu tempo. 
E ainda deve o ser. 
Outrossim, em meu tempo não era um colégio misto, 
como é hoje e funcionava como um funil, diminuindo cada ano uma turma. 
Mas era também um garantia que quem ali ficasse 
estava pronto para enfrentar qualquer vestibular.

Um dos pontos mais fortes do ensino era a história e eu modéstia a parte, era bom, porque ao contrário da química e de outras matérias, dela gostava. E dentre os personagens que tive que me inteirar, o Botinha, ou melhor o terceiro imperador de Roma Calígula, era um deles.

Filho de um dos generais mais respeitado e queridos da antiga Roma, Gemanicus, Calígula nasceu e foi batizado com o pomposo nome de Gaius Julius Caesar Augustus Germanicus. Pegou o apelido de Botinha (Calígula), por ser uma espécie de mascote nas guerras. Desde os 3 anos acompanhava seu pai aos campos de batalha paramentado da cabeça aos pés como um dos soldados. E Calígula era a bota que os soldados usavam naquela época feita de tiras de couro.

Calígula foi um dos personagens mais interessantes da história já que foi de anjo a demônio nos poucos anos em que reinou. Como sua mãe e grande parte de sua família foi dizimada, após a morte de seu pai, por ordem do imperador Tiberius, ele quando assumiu o trono foi aclamado como nenhum outro Caesar o foi. Primeiro por não ser Tiberius. Segundo por ter sempre sido visto como aquele mascote de tantas guerras heróicas e terceiro pelo povo saber daquela frase proferida pelo antigo imperado: as chances d Calígula ser um imperador são as mesmas dele cavalgar sobre o Golfe de Baie”.

Calígula quando assumiu demonstrou ser distinto e imediatamente foi ainda mais amado por seu povo em seus dois primeiros anos no poder, já que aboliu o sistema de processos e execuções políticas adotado por seu antecessor, instituiu as eleições livres, deu salvo conduto para os exilados voltarem a Roma, criou muitas formas de divertimentos públicos e num ato de humor construiu uma ponte no Golfo, unindo Baie ao porto de Puteoli, para poder montado em seu cavalo e com a armadura de Alexandre o grande ,o poder atravessar. Com isto fez Tiberius tornar-se, o motivo de chacotas.

Mas Calígula gostava de beber e de sexo. Mantinha segundo o historiador Suetonius relações com suas três irmãs, todavia a que venerava era  Drusilla, a mais jovem. Esta engravidou dele e em um aborto por ele forçado, morreu com a excessiva perda de sangue.

Calígula que já não era muito bom da cabeça, endoidou de vez. Impôs um ano de luto. Até aí tudo bem. O problema é que neste ano ninguém podia comercializar nada, ninguém podia ter jantares em família, e era totalmente proibido tomar banho, fazer a barba e cortar o cabelo. Quem desobedecesse a seus desígnios, era condenado a morte. Imaginem a catinga em que se transformou Roma.

Terminado o luto ele desandou a exceder-se em suas maluquices. Quando faltavam prisioneiros para serem comidos pelos leões, buscava na platéia alguns “voluntáriospara enfrentar os bichinhos. Não é a toa que o Coliseo começou a ter sua atendência diminuída. Transformou seu palácio em um grande bordel e obrigou que as esposas dos senadores dormissem com ele e com aqueles que assim ele o designasse. E fez de seu cavalo Incitatus primeiramente um senador e depois cônsul. Eu gosto de cavalos, mas acho que neste pormenor, ele exagerou na medida.

O poder muitas vezes cega aquele que o tem, e não possuí a estrutura e o necessário equilibrio de mantê-lo. Lênin, Stalin, Hitler, Slobodan Milosevic e Idi Amim Dada são alguns exemplos modernos de outros paranóicos que exarcebaram seu poderes e causaram mortes a milhares e milhões.

Por isto vejo com muita desconfiança o poder atômico em mãos de ditadores e lideres religiosos fanáticos. Eles podem apertar o botão em nome de uma divindade ou simplesmente porque acordaram de mal humor. A gente nunca pode prever o que passa nestas doentias cabecinhas.

Calígula foi assassinado por membros de sua guarda pretoriana. Alguns dos conspiradores foram presos depois que a tentativa dos senadores em transformar Roma em República foi definitivamente abortada pelos militares e por ordem de seu tio Claudius, que passou a ser o quarto imperador, foram sem exceção executados.

Não vivemos mais em uma época de execuções sumárias, embora não faz muito tempo que ditadores militares na Argentina, no Brasil e no Chile, usaram deste artifício para manterem-se no poder e assim eliminar a oposição. Perdemos assim, toda uma geração pensante.

Tremo de medo só em imaginar que um Kim II-sung, um Mahmoud Ahmadinejad ou um Hugo Chaves possam ter em suas mãos armas de massiva destruição, pois de uma coisa podem ter certeza que aprendi, desde os tempos dos bancos da escola: a história se repete