quinta-feira, 8 de outubro de 2009

O OÁSIS DO GUERREIRO

O OÁSIS DO GUERREIRO




Vou me ater novamente a um comentário da amiga facebook Stela de Albuquerque 
que ao justificar-se por ter
 me rotulado de privilegiado,
 o fez de uma forma sincera e clara, 
como parece ser o seu perfil de ser humano.

Ela assim o escreveu: Todo Guerreiro, tem por merecimento em algum momento de sua vida, encontrar seu Oásis”. Pois agradeço mas não mereço, posto, que o guerreiro aqui em questão – eu -  ainda está lutando para pagar seu morgage e todas as regalias que desfruta. Ainda longe de poder descansar, como eu até acho que mereceria à esta altura do campeonato. Mas não posso reclamar.

Desde cedo, que minha avó Adelina me preveniu que o homem deve pagar por seus prazeres. E um dos meus é tentar viver bem. Junto as pessoas que gosto e nos ambientes que me agradam. A partir dos 50 parei de colecionar amigos. Já os tenho no tamanho e na forma suficientes. Não quero mais conhecer novos lugares. Amo sim voltar à aqueles que me trazem grandes recordações. Tenho a mesma esposa a 30 anos, freqüento os mesmos hotéis e restaurantes em minha viagens pelo mundo e gosto de reler livro já lidos. Isto parece ser uma característica não muito comum. Mas cada doido com sua doidice.

Neste último pormenor, imagino o que o autor tinha à sua volta e principalmente o que povoava sua mente, quando escreveu aquela estrofe ou aquele capitulo. É fascinante tomar conhecimento de algo que foi criado por alguém de outra época e nacionalidade. E para mim é altamente  recompensador, fazê-lo em distintas épocas de minha vida. Faço o mesmo com a musica clássica e os pinturas antigas. Neste último pormenor, volto a museus para ver muitas vezes os mesmos quadros. Como visitar um amigo depois de longa ausência. Não sei se vocês me entendem.

Pode até parecer estranho ler-se livros já lidos. Eu não acho. Você não ouve uma música que gosta zilhões de vezes? Você não admira um quadro de Rubens tantas as vezes que o visita? Você não assiste filmes que já viu? E o vídeo tape do jogo que acabou de acompanhar in loco no estádio? Porque então o espanto em relação aos livros já lidos? Nunca joguei um livro fora. Eles podem ser relidos a qualquer momento, o que deixa Cristina, minha mulher, enlouquecida.

Todos nós, com raríssima exceções vivemos hoje sobre a influência do HD. Escrevi isto ontem aqui neste blog. Ótimo. Outrossim, não é inexplicável o fato de você querer mirar uma foto antiga, preto e branco, amarelada pelo tempo, ouvir certa música doa anos 70 e visitar aquele restaurante que lhe trouxe, a uma determinada época, bons momentos. Lugares e obras de arte têm, em minha opinião, este significado. O de lhe trazer prazer e um dia lembranças.

Pago pelos meus prazeres, curto as minhas manias numa efervescência de sal de frutas. Não creio que possa ser considerada uma típica vileza inverossímil. Vocês acham?

Sou um homem de muitas dúvidas e raras certezas. Por isto me tornei repetitivo. E acho este defeito agora, uma benção. Repito as coisas que me trouxeram prazer. Sejam elas gente, palavras ou lugares.  Aprendi que as coisas ditas uma só vez, morrem inéditas. Sou igualmente vitima dos vendedores e das bonitas embalagens. Compro tudo que me encanta, o que deixa feliz meu Amex, que a cada ano muda de cor e escurece. Agora me mandaram um preto retinto que dizem poder comprar qualquer coisa. Seria ótimo se não tivéssemos que pagar no final do mês.

Tenho minhas crenças. Por exemplo, não acredito na similitude de gostos. Concordo que a unanimidade é burra e a maioria absoluta não confiável. Aprecio os detalhes. E poucos são os que captam os detalhes. Como arquiteto aprendi a fazê-lo e usufruo deste pequeno dom. Agora, a High Definition na televisão, aumenta sua capacidade de absorção de detalhes. O Hard Drive os ordena para a consulta posterior. Mesmo assim, eu não creio no absoluto, eterno. Não só o amor tem que ser grande enquanto durar. Tudo tem que ser grande enquanto dure, pois, como tudo na vida, um dia vai acabar. Haverão de vir modernidades ainda mais impressionantes.

Pena que a gente muitas das vezes só aprende a dar valor a certas coisas ínfimas já muito tarde. A vida e a natureza são evidências translúcidas da beleza, da paz e da harmonia que reina à nossa volta. Somos nós que mudamos, apagamos e destruímos esta evidência em prol daquilo que acreditamos ser progresso. HDs...

Nada há de suplantar uma carta bem escrita, uma pincelada bem dada, uma palavra doce de reconhecimento. Nada lhe trará maior prazer do que reencontrar a pessoa amiga ou ouvir a música desejada. A vida é curta e passa num minuto.

Stela, não sei se posso ser rotulado de guerreiro. Minha vida na verdade foi muito mansa. Outrossim, você está certa no fato de encontramos nossos oásis. Eu encontrei o meu, no interior de mim mesmo. Ele é a minha lembrança. Afinal, o que se leva mais da vida vivida, a não ser lembranças...
 albatrozusa@yahoo.com