quinta-feira, 8 de outubro de 2009

PRIVILEGIADO UMA PINÓIA!

PRIVILEGIADO...



Todos nós, com raríssima exceções vivemos sobre a influência do HD. 
HD? Seria isto uma outra forma do LSD? 
Não, mas uma forte sigla que mantém nossa atenção totalmente direcionada a ela: 
High Definition, High Dimentional, Hard Drive. 
Sem estes três HDs estamos com certeza off-broadway.

O que seria de nossa mente sem um hard drive? Como poderíamos armazenar tantas informações? Como poderíamos agilizar nossas pesquisas? Como poderíamos cuidar de nossos filhos? O HD é o melhor amigo dos mesmos. Os prendem em cadeiras enquanto podemos levar adiante nossas tarefas. Quando eles cansam, liga-se a televisão e aparece o outro HD. O high definition. Desculpem mas este deve ser o manual do desregrado pai. Do pai divorciado. Daquele que só se lembra da maldita, numa hora como estas. Não é o meu caso. Ajo no sentido  da high dimention, o das suposições.

Imaginem uma criança nos dias de hoje sendo obrigada a assistir televisão num modelo antigo em preto e branco? Imaginem tendo que ele ao crescer se utilizar de um régua de calculo e ter que esperar por um telex? Pois, é esta foi a dura vida a que eu fui obrigado a viver. Sou deste tempo. Nasci antes da redentora, no exato dia em que Getulio Vargas era feito presidente sem roubo de poder. O dia que o povo ou trouxe de volta ao poder.

Que merda... Não o Getúlio e sim a vida que eu tive que viver. Sobrevive sem os deliciosos HDs da modernidade. E ainda tem amigos no face book como a Stela de Albuquerque que dizem ser eu um privilegiado. Como, se só na maior idade pude me utilizar da máquina de calculo. De ter o prazer de assistir a Formula 1 em cores e então só então poder distinguir quem era que disputava a terceira colocação. Como posso ser considerado um elemento de vida privilegiada se tinha que escrever em caderninhos, endereços, anotações e telefones. Como se para me comunicar com alguém na Europa tinha que mandar uma carta? Isto lá era vida?

Minha vida era uma merda... Aulas de piano com a Dona Ylma – meu primeiro símbolo sexual. Sonhava com ela todas as noites. Ir todos os dias no ônibus 2 dirigido por seu Pedro para o colégio Santo Inácio e sofrer por horas nas mãos dos padres jesuítas. Mas sempre haviam a dona Fernanda e a Dona vera, minhas primeiras professoras por que me apaixonei perdidamente aos 8 anos de idade, para apaziguar as agruras. Ir dia sim, dia não a Cultura inglesa no posto seis, ao lado da TV Rio, hoje ambas já demolidas, para a construção de um luxuoso hotel. Pegar jacaré em prancha de madeira, pois o surfe só vingou com suas pranchas de fibergrass, quando eu já tinha maturidade suficiente para achar melhor seguir as meninas que as ondas. E aí veio a revolução, a repressão, a insânia.

Vejam, os que tem trinta anos hoje, o que deixaram de sofrer. Imaginem ir para Europa de turbo hélice? De achar o Caravelle da Cruzeiro a maio maravilha inventada pelo homem. Sim houve a Panair, a Cruzeiro do Sul, a VASP e até a Transbrasil, o frango que voava, antes da Varig ir para as cucuias. Vocês podem imaginar que diziam que se os motores do Caravelle falhasse, ele poderia planar e nós daquela época acreditávamos? Ficou tão famoso que virou nome de pizzaria em Copacabana, muito bem freqüentada.

Privilegiado... Como, se vivi na época em que o Jânio, o Jango, cinco generais, o Sarney, o Collor e o Itamar foram presidentes? Olhem que pitoresca e inimaginável seqüência. Imaginem eu votei no Collor! Era um insano. Mas também há de se convir que as outras opções eram o Lula, o Maluf e o Brizola. Achei que havia optado pela menos pior.

Imaginem só, ouve época que tinha dinheiro em banco e não o podia retirar. Houve uma Copa que vi o Brasil ser desclassificado ainda na primeira rodada em Londres. PRESENCIEI UM RINOCERONTE GANHAR ELEIÇÕES EM SÃO PAULO. Assisti ao Bangu ser campeão carioca. E quase presenciei seu bi, se forças ocultas não tivessem agido com rigor. E os prefeitos e governadores de nossas maiores cidades? Erondina, Pita, Garotinho, Garotinha, Benedita. Por isto, exilei-me...

Tive que dirigir lambreta. Jogar bola de gude e futebol de botão. Colecionar figurinhas de jogadores de futebol e tentar ganhar no bafo as carimbadas - impossíveis de se achar nos pacotinhos de três adquiridos em qualquer jornaleiros. Brincava com o pequeno químico. Ouvia rádio sem FM. Tinha empregada que seguia o Alziro Zarur, não perdia a Hora do Brasil e adorava o Vicente Celestino. Perguntem a qualquer menino de 12 anos de hoje o que isto significa e observem com atenção, suas expressões de nojo e incredulidade.

Privilegiado? Privilégio uma pinóia! Não sei como não me suicidei...
albatrozusa@yahoo.com