A OUTRA FACE DO FACEBOOK
Me ative recentemente aos red-necks de minha época em Lexington e aos bichos grilos de meu tempo universitário. Dois segmentos humanos que me impressionaram de distintas formas. Vi colegas meus, nos anos 70, desaparecerem torturados por uma fé que na realidade era um otimismo suicida de querer mudar as coisas. Quando na verdade ao amadurecer a gente percebe que as coisas não mudam nunca. Os que sobreviveram - muitos deles traumatizados - os vejo como a geração A-5. Confesso que são expressões “rotulativas” e já sou bastante grandinho para saber que não se deve rotular ninguém, quanto mais generalizar quem quer que seja. Pessoas são indivíduos, com vidas particulares e gostos próprios, embora, em meu modo de ver, muitas apresentem um perfil comum. Daí o rótulo.
Entrei no facebook a pouco e curto a falta de introspecção do mesmo. Muita coisa acontece do leve ao pesado e conheci um distinta gama de participantes do mesmo, que na verdade prefere manter suas mais sérias opiniões longe da vista de todos. Da mesma forma que existem os “desmascaradores de cripto facistas”, autores de novelas nunca exibidas, que se aproveitam do espaço para tentar expulsar seus demónios publicamente.
Ontem eu soltei esta sem querer: Idéias criam conseqüências. Más idéias, criam más conseqüências.
Tenho plena convicção que muitas mortes, misérias e desilusões teriam sido evitadas se Adolf Hitler não tivesse escrito o Mein Kamph, se Karl Marx não tivesse inventado o Manifesto Comunista e até Niccholò Machiavelli, o Principe.
Tenho plena convicção que muitas mortes, misérias e desilusões teriam sido evitadas se Adolf Hitler não tivesse escrito o Mein Kamph, se Karl Marx não tivesse inventado o Manifesto Comunista e até Niccholò Machiavelli, o Principe.
Não foram poucos o que opinaram naquela comunicação off-broadway que você faz de forma direta, pessoa a pessoa sem que nenhuma outra participe. Considero este tipo de comunicação mezzo. Meia luz. Tipo iluminação pré-Edison, glazé, como nos filmes franceses antigos ainda no tempo de preto e branco. O noir.
Esta é a outra face do facebook. Muita gente que não conhece os meandros do facebook, diria que a utilização do mesmo seria uma espécie de desespero de uma solidão de que nem se tem consciência própria. A necessidade de se comunicar com o desconhecido. Afinal, sempre é mais fácil se dizer algo ao desconhecido do que a seu mais chegado parente. Não penso assim.
Da mesma forma que alguém se diverte em mandar corações, ou trocar vaquinhas em fazendas visuais, este mesmo alguém curte uma boa leitura e uma aprazível reflexão sobre o que alguém que não conhece escreve.
Descobri através dos anos que escrever é desnudar-se perante a uma platéia invisível. Um mergulho no escuro. Quando se é jovem o ato de escrever é um desafio. Aquela necessidade de colocar a vista de todos aquilo que você pensa, esteja seu pensamento certo ou errado. Na minha idade quando realmente descobrimos o peso que as palavras tem, chegamos a conclusão que elas são somente palavras. Atingem a alguns, mas passam a desapercebido a grande maioria. E isto ao invés de o frustrar, o alivia.
Idéias criam conseqüências. Más idéias, criam más conseqüências...
E você pode algum dia embotar em uma má idéia.
Considero estas comunicações pelo facebook, extra publicas, igualmente importantes. Pessoas que tem a ânsia de informações, de trocar opiniões, as vezes até esclarecimentos, de partilhar a memória de algo que considerava só seu, mas que descobre que passa pela cabeça de outrem, que nunca conheceu e que na maioria das vezes nunca chegará a conhecer... acho bárbaro.
Sou de família italiana, daquela que só se senta a mesa com gente que conhece. O ritual de uma raça. Mas não me intimido em conhecer mais gente e convidá-la à minha mesa. O facebook é uma grande mesa, onde zilhões compartilham, lêem o que você escreve na proteção de uma propensa ininteligibilidade. Logo, quando alguém tira a cabeça para fora e interage sobre algo que escreveu, de alguma forma você alcançou o seu objetivo.
Existe uma gama de profissionais da escrita, que dita abusivamente que quem escreve de graça é burro. Discordo. Escrever é uma forma de tocar outras pessoas e acima de tudo, tocar a si próprio, pois, é muito mais fácil dizer o que se pensa do que pensar colocar no papel aquilo que todos irão tomar conhecimento que está dentro de você. Resumindo, o que se passa para o papel e se publica, se transforma em documento de bicheiro: “vale o que está escrito!”
Palavras se perdem no ar. Confundem-se no disse, me disse. Frases publicadas, não. Ficam para sempre. Mesmo as esquecidas nas prateleiras de uma biblioteca.
Inteligência não é sexy e cultura muito menos, assim sendo, cada vez mais as pessoas diminuem sua carga de leitura. Toma tempo, necessita-se de uma paz e não trás benefícios financeiros. E convenhamos, tempo, paz e atividades sem fins lucrativos para muitos não coadunam com os tempos modernos.
Dizia Paulo Francis que as vicissitudes unem os de mais idade. Talvez ele tenha razão. Eu penso que todo homem deve pagar por seus prazeres, mas também que existem prazeres na vida que não tem preço. Ler é um. Escrever é outro.