sexta-feira, 16 de outubro de 2009

A TROCA DE MÃO

A TROCA DE MÃO




O que eu vou contar eu presenciei com estes mesmo olhinhos 
que agora necessitam de lentes para enxergar 
e um dia a terra há de comer.

Estava perto de completar 17 anos e como tenho família, por parte de mãe, de origem italiana, sempre passei minhaS férias de adolescência  na Itália - na maioria das vezes em Siena e Pisa - onde tínhamos e temos ainda alguns parentes. Tenho pela região toscana um grande carinho. Mas em 1967 resolvi viver um de meus sonhos. Conhecer a Escandinávia. Queria ver de perto aquelas lourinhas, altas e magras, de nariz afilado e olhos azuis. O verdadeiro sonho de consumo dos sul-americanos, na época.

Em Estocolmo, uma das cidades mais caras para se viver, fiquei hospedado em casa de amigos de meus primos italianos. Porém, logo que cheguei observei que o povo sueco estava vivendo aqueles dias com imensa ansiedade. Era o final de Agosto. O verão já dera seu adeus e o frio já dava seus primeiros indícios mesmo em se tratando ainda do inicio do Outono.

Haveria uma troca de mão. Pois é, a Suécia era o único pais da Escandinávia que usava no tráfego, o estilo de mão adotado pelos britânicos. A contra mão. O senhor Johannes que me abrigava contou-me que o processo vinha sendo estudado e organizado nos últimos quatro anos. E que teria sua data inicio no dia 3 de Setembro as cinco horas da tarde. Eu que deveria voltar no dia primeiro resolvi adiar a minha viagem, pois, como todo brasileiro que se preza, estava embotado em curiosidade de ver a merda que aquilo iria dar.

Pois bem, as 4.45 todos pararam seus veículos. A cidade parecia viver uma foto. Por 5 minutos todos assim ficaram. Ai, as 5.00 em ponto, um a um foram mudando de direção. Os que estavam na esquerda foram para a direita. Os da direita para a esquerda, que nem politico brasileiro, às vésperas de eleições à procura do sol mais quente da temporada.

E como num passe de mágica a cidade virou ao contrário. Era um domingo e o trânsito estava ameno. Em Estocolmo, depois da 5 da tarde, é difícil ver viva alma pelas ruas. Nos domingos, só as penadas.

No dia seguinte foram registrados 125 acidentes, o que não causou nenhuma apreensão, pois, estava dentro da média. Sueco dirige mal. Os filandeses dirigem bem. Hakkinen, Rosberg e Raikkonen que o digam. Os dinamarquesas na maioria das vezes usam os coletivos pois, estão encharcados de álcool, mas os suecos dirigem mal. Os alces podem melhor fazê-lo. Pelo menos era assim naquela época.

Pois bem, eu contei isto na minha roda de piscina outro dia. E todos concordaram que talvez tenha sido a situação mais inusitada vivida por uma população. Ou melhor, quase todos, pois, tenho um vizinho excessivamente britânico, embora tenha nascido nas Bermudas, que imediatamente chamou para a Inglaterra, mais este tento.

Há de se convir que os ingleses inventaram quase tudo. Do futebol as corridas de cavalos, todavia, mesmo ai discordo. Os ingleses tem a rara capacidade de olhar, ver e copiar. Afinal jogava-se um espécie de futebol entre o Maias, cuja a bola era a cabeça do general inimigo derrotado e foram os romanos que instituíram as primeiras disputas entre equinos. Quando dominaram a velha Albion, deixaram lá este legado. Mas tentar provar isto a meu amigo seria um total desperdício de minhas cordas vocais.

Mas ele veio com esta. No mesmo mes de Setembro, apenas que no dia 2 do ano de 1752, pelo British Calendar Act 1751, foi determinado que pelo menos em uma coisa os ingleses deveriam agir de forma igual, aos demais seres humanos que coabitam este planeta. Eles aboliriam o calendário de Júlio Caesar e adotariam o gregoriano. Assim sendo, quem dormiu naquela quarta feira dia 2 de Setembro, acordou na quinta, apenas que no dia 14, pois com o passar dos anos, os dois calendários haviam criado uma lacuna. Os aniversariantes deste período chiaram. Porém para deixar claro que eles não eram os únicos a adotar esta medida, este mesmo amigo lembrou aos presentes, que a Rússia só adotou o calendário gregoriano em 1918 e a Grécia em 1923.

Imaginem mudanças como estas levadas a efeito no Brasil. A bagunça que tudo isto iria causar. Gente não pagando conta, pois, alegaria ainda permaner no calendário de Júlio Caesar. Outros reclamando a multa aplicada, pois, nasceram e cresceram dirigindo na outra mão. E assim por diante.

As únicas mudanças a que nos acostumamos é a de nossa moeda. Tivemos inicialmente o Real Português, depois o nosso definitivo Real, a seguir os contos de reis, e ai vieram os cruzeiros novos e velhos, os cruzados e em 1994 voltamos ao Real sob a gestão Itamar das candongas” Franco. O que se cortou de zeros é idescritível.

E depois tem gente que afirma que o brasileiro não é afeito a mudanças...