O Pernambuques
Completamos dois meses no ar.
Uma coluna por dia e 26 seguidores. Bom começo.
Obrigado a todos que estão lendo e opinando.
Existem várias vantagens de se casar com uma nordestina.
Você aprende a dar e receber chamego, cheiro, namoro de pé, axé e o
utras coisas que nos aqui do sul não damos muita bola.
Todavia, o mais importante em seu aprendizado matrimonial é que você passa a ter conhecimento de outro idioma; o “pernambuques”.
Ô linguazinha difícil de se aprender! Eu diria que é quase um português. Mas talvez seja mais seguro conceituá-lo de dialeto. Que evidentemente não pode deixar de vir acompanhado daquele sotaquezinho generoso da gôta!
Não sou um sujeito cheio de nica (metido), de prosopopeia (cheio de vaidade) ou frocado (emproado), como minha mulher pensava eu ser antes de me conhecer um pouco melhor. Mas tive que me submeter a um aprendizado para a perfeita compreensão do dialeto.
Para poder entender em minha casa como as coisas funcionavam, tive que primeiramente preparar um dicionário especial, afinal: pitoco (era qualquer tipo de botão), papeiro (era panela pequena onde se esquenta leite), birilo (grampo), muriçoca (mosquito), berimbela (barbante) e assim por diante. Para entender, consultava o pequeno dicionário e podíamos nos entender.
Mas não é teta (facílimo) ou peia (dificílimo) se submeter a este aprendizado. Ainda mais que embora pequena, sempre teve pavio curto e ao invés de pegar implicância com alguém, pega logo mesmo é abuso. E quando isto acontece vem aquele aperreio (chateação), aquela raiva da gota-serena (bandida), aquela vontade de mangar (ridicularizar) que chega a deixar ronchas (manchas roxas) e ela fica por uma peínha (margem pequena) de explodir. E se isto acontece, aí é lasca! (não tem quem a segure).
Outra coisa que ela sempre detestou é andar encangada (grudada) com quem quer que seja. Exige o seu espaço. Principalmente quando avista um rafaméia (patuleia) se aproximando, ou tem piniqueira (empregada de baixa qualidade), ou quenga (baixo meretrício) na parada. Foge de gente que tem olho de seca pimenteira (mau olhado) ou daqueles que se acham um cão chupando manga (vendedores da imagem que sabem mais do que os outros).
Tribufú (vagabundo), gente com cabelo nas ventas (estourado), troncha (bandido), estrovenga (estranha) e toda mal amanhada (amarrotada) nem pensar. Tem nojo de tapuru (pessoa que parece ou age qual um verme), de gente peitica (insistente e muito inconveniente), alesada (avoada), champruda (excessivamente gorda), brega (cafona) e patureba (ababacado).
As expressões básicas não devem ser esquecidas. Eita! (Epa), Oxente! (Ó gente!) e Vigê! (Virgem!)
Cristina igualmente não aguenta gente estrompa (rude), encafifada (enrrustida), cheia de goga (que canta a vitória antes). Cavalo batizado (gente estúpida), aruá de galocha (otário), que bate fofo (cheio de frescura), azeitado (hiper), que quando em uma mesa enche o gorgomilho (pança) ou que tire catota (meleca) em publico são imediatamente cortadas de seu relacionamento.
Arreta-se (Se enfurece) em usar roupa folote (frouxa), não consegue suportar cabra da peste (individuo não muito querido) afolozado (frouxo), capaz de fazer pinto (pequenos furtos no bolso alheio) e principalmente que arrodeiam (jogam conversa fora), mas quando a pamonha endurece (o assunto engrossa) vão amarrar o seu bode (ficar de mal humor) amorcegados (escondidos em algum lugar).
Como arquiteta e decoradora de interiores, prefere mármore ou lajota no chão a alcatifa (carpete) e tudo ter que ser Brennan. E não tem abestado (abestalhado) que a faça mudar de idéia. Empaca como mula manca
Não se presta a segurar a vela (fazer companhia) a parenta que está no caritó (mulher que não casou), seja por ser ela cangula (dentuça), um calango seco (muito magra) ou mouca (surda).
Mas em contra partida gosta de fazer perna (parceria com uma amiga), de sair as compras comigo para enfeitar o maracá (no caso eu) e saborear os quitutes de seu Nordeste, mas eles tem que ter sustança (substância), tais como bala de goma, bolo de rolo (rocambole), fruta pão (fruta de conde), macaxeira (aimpin), laranja cravo (tangerina), queijo-coalho, jerimum (abóbora), tapioca, pastel de nata, canjica, pitomba...
Como se vê é fácil de se adaptar. Com um pouco de paciência e muito jeitinho a gente passa a entender o dialeto. E o melhor de tudo chega até a aceitar, que somos nós é que temos o sotaque...