sábado, 24 de outubro de 2009

BE SMART, NOT HARD


Be Smart, not Hard






Quando se é jovem, e eu já fui, a gente é mais hard do que smart. 
Isto é, no idioma das lusitânias, mais duro do que vivo. 
Arrumamos encrencas, nunca fugimos dela, procuramos problemas, 
enfim sempre escolhemos o lado mais difícil a se trilhar. 
Porque? Porque esta é a natureza do jovem.

Ser jovem é compartilhar de um sentimento imortal. É ter um agudo sentido profético que nada irá se antepor em seu caminho. Quando ainda jovens, temos, de vez em quando, frêmitos genéticos de lucidez, mas na maioria das vezes deixamo-nos levar pelo otimismo desprimoroso e pelos instintos abusivos da idade. Partilhamos de uma inexaurível necessidade de descobrir e nem sempre de construir. Tornamo-nos cristalinos idiotas perante as mais secretas pusilanimidades e assumimos a invisibilidade de um vice presidente perante a assuntos que exijam maior responsabilidade.

A certeza da infalibilidade é outro dom do jovem. Em sua mais insolente desfaçatez ele assume a certeza da mesma e faz de sua juventude um fixação canibalesca de viver cada minuto como este fosse o último a se respirar. Ou como os hippies de meu tempo, que se deixaram tomar por uma alienação insuportável, que fazeram até as varejeiras se desinteressarem  de pousar em suas sandálias enlameadas.

Mas eu falo dos jovens do meu tempo. Tenho muitas vezes, erroneamente eu próprio como exemplo, o que realmente não vale, pois, nunca servi de exemplo para quem quer que seja.

Hoje existe uma nova gama de jovens. Mais atualizados, que deixam ainda quando crianças, de acreditar em papai Noel, ou que foram trazidos por uma cegonha. Que perdem suas virgindades físicas, espirituais e psíquicas muito antes da puberdade. Que têm acesso a todo e qualquer tipo de informação. Que estão devidamente atualizados com o tempo e o mundo que os cercam. Este é um novo tipo de jovem. Made na modernidade.

Eles não me parecem apresentar a fúria tribunícia dos jovens de outrora. Não precisam mais de lambretas, costeletas e casacos de couro para provar que estão vivos. James Dean e Marlon Brando são peças da história, não mais ícones a serem adorados, copiados e seguidos. Sabem distinguir com rara sapiência, ainda no horizonte, o grupo de cretinos que se aproxima. São a juventude safa! Aquela que sabe o que quer e o mais importante: o que não crer.

Podem distinguir a deslavada escroqueria intelectual do que realmente tem nexo. Por isto o comunismo, o fascismo, o nazismo e todos os ismos que um dia fervilharam nas veias de outros jovens, não recebem mais o eco que estavam acostumados ter. E foi por esta razão, todos, sem exceção, foram para o brejo. Não se faz um revolução com velhos, com o povo e muito menos com os militares. As revoluções são feitas pelos jovens, comandadas pelos velhos, ministrada pelos militares e governadas pelos de sempre, que mudam apenas de identidade. E o povo? O povo é sempre o povo...

O que colou em 1919, onde ninguém tinha noção do que acontecia a 30 quilômetros de onde morava ou nas décadas subseqüentes, onde o horizonte de conhecimento passou a ser 100 quilômetros, não cola mais. O jovem não mais se imbuíu de uma obtusa pertinácia heróica ou de uma cegueira política. Ele passou a suportar com maior vigor o peso de suas próprias palavras. Exigiu respostas as suas perguntas e soube escolher melhor em quem confiar. Por isto o mundo hoje é outro.

Os jovens do meu tempo eram um idiotas. Não tão como os de tempo de meus pais, e certamente em muito melhores condições de avaliação, que os do tempo de nossos avós. A dessemelhança entre estas três gerações, chega a ser escandalosa, para não se dizer escalafobética.

Como dizia Nelson Rodrigues todo o líder é um canalha. Continuam sendo. Neste ponto nada mudou, pois o canalha é uma instituição milenar, criada desde os tempos do paraíso. Caim a fundou. Outrossim, entre os canalhas profissionais são os políticos aqueles que brilhantemente sobressaem. Pois, da política eles se locupletam pelo resto de suas existências, formando feudos familiares e extra curriculares.

Está na hora dos nossos jovens - os brasileiros a que me refiro - darem um basta, como os norte-americanos aqui o fizeram. Temos que dar um chega a toda esta imunda calhordice. Obama, pode não ser perfeito, mas ele é a resposta ao fim da era George Bush, como FHC o foi em relação a Collor. O problema é que nos Estados Unidos, quando o cara se esborracha, dificilmente volta. Está fora do baile pelo resto de sua existência. O mesmo não pode ser dito em relação ao Brasil. Com o tempo, o canalha estará de volta pela porta da frente e vira até, mestre de cerimônias.

Como é bom ser jovem. Ter esta certeza em mudanças. Esta garra para virar a mesa. Esta intuição quase suicida do que pode estar certo ou errado. Eu, um homem muitas dúvidas e de poucas certezas, tenho uma em que aposto; os jovens desta geração ainda hão de mudar o Brasil. Pois, ao contrario de nós, eles são smart e não hard como nós éramos.