segunda-feira, 26 de outubro de 2009

Dos Antolhos a Cegueira





Dos antolhos à irremediável cegueira, é menos que um passo. Mas são passos que os povos do terceiro mundo, galgam em todos os lugares onde houver um resquício de subdesenvolvimento financeiro ou intelectual.

Pois é, eu acho que vocês não esperavam pelo intelectual, não é? Mas existe o subdesenvolvimento intelectual, sim. Este é o mais perigoso de todos, porque pode se dar no primeiro, segundo, terceiro e até quarto mundos. Ele independe da situação política e financeira de uma nação. Ele é produto de uma febre local: a febre do acreditar que apenas o que está a sua volta é o que interessa.

Esta febre tem como base o bairrismo e o nacionalismo acerbado, sejam eles ricos ou pobres, católicos ou protestantes, negros ou brancos. Acreditem, os Estados Unidos da America do Norte é o seu maior depositário.

Os Estados Unidos é composto de dois países, os estados das costas (este e oeste) e o centro norte sul. Creio que ambas as costas são dominadas por seres pensantes. O centro-Norte Sul, por acatadores” de ordens, em sua maioria.

Morei por 20 anos em uma cidade do estado de Kentucky: Lexington. Logradouro aprazível, mas nada cosmopolita, embora em quatro épocas do ano, as mais ricas fortunas do universo ali convergem para comprar cavalos de corrida. Lexington, é a sede mundial do cavalo de corrida. Existem outros grandes centros, como a Normandia, Newmarket, Oceânia, Argentina e Count Kildare. Mas Lexington é um centro. Outrossim, não o foi sempre. Cresceu em importância depois da segunda guerra mundial.

As vendas de cavalos nos estados Unidos até então eram feitas no Spa de Saratoga, ao norte de New York. Com o advento do conflito gerado por Adolf Hitler, os criadores de Lexington tiveram que vender seus produtos em sua própria idade, já que o custo do combustível para levar sua produção a Saratoga tornou-se proibitivo.

As vendas em Keeneland, uma associação de criadores locais sem fins lucrativos, estabilizou-se e hoje e lá que são levados a efeito, os mais importantes leilões de cavalos da chamada raça thoroughbred.

O sucesso do cavalo norte-americano a partir do fim da década de 60, transformou Lexington. Cavalos de 5 dígitos no meio dos anos 70, atingiram cifras de seis dígitos e no final da mesma chegaram a sete! E aquele sujeito que até então ordenhava vacas e alimentava a seus próprios cavalos, de um hora para outra passou a ter avião particular e ser visitado pelos sheikhs e até pela rainha.

Mas a melhoria financeira não se reverteu em cultural. Kentucky continua sendo um depositário de red-necks. Pensa em duas coisas: basketball e as vendas de seus cavalos. Pois, é existe esta gama de norte-americanos, os chamados pescoços vermelhos. O red-neck de Lexington acredita piamente que o sol nasce e morre no Kentucky River. E não o faz por mal. O faz por total e completo desconhecimento. Do berço ao tumulo ele personifica o crasso idiota. Se veste qual um idiota, pensa qual um idiota, mantém aquela expressão própria de um idiota. E o pior de tudo é um idiota. Seu horizonte está a 5 metros de seu nariz. Existe gente que acredita que Marx, foi o despertador dos idiotas que até então não tinham ilusões. Sonhavam no máximo em preto e branco, mas depois de acreditar naquilo que o pensador alemão chamava de igualdade, passaram a opinar e com o tempo se revoltar.

O red-neck, não se despertou até o presente momento com nada. Esta é a sua grande virtude. É apenas um idiota.

Uma vez, a senhora de um grande criador sabedora que eu constantemente a New York, me perguntou estupefata: O que que New York tem que Lexington não tem? Eu não me aguentei e respondi: TUDO!!!

Perdi o cliente mas não minha identidade com a realidade.

Acho que a cultura pode estar no fundo de uma favela e simplesmente não existir dentro de um castelo. Em Lexington, ela não existe em lugar algum, pois a maioria de seus habitantes tem medo de conhecer o que está fora da bolha em que vivem e então descobrir que vivem em uma cidade normal. Não na metrópole que imaginam viver.

Neste ponto acho que nós brasileiros estamos mais abertos. Temos a capacidade que querer conhecer aquilo que nós é desconhecido. A descobrir novos horizontes. A dividir experiências. Somos seres complicados, mas factíveis a mudanças. O norte-americano do centro, principalmente o red-neck, não é complicado mas está vedado dentro de si mesmo e por isso votam em quem votam e se mostram reacionários a qualquer mudança, mesmo as menos radicais.

Nós votamos mal, por que queremos. Não por falta de informação...