UMA VEZ FLAMENGO, SEMPRE FLAMENGO
Quem diria? Não é que o Flamengo está chegando lá. Na moita, sem muito alarde, o Flamengo de Andrade anda colecionando pontos e agora está a dois pontos do São Paulo, outro que foi pouco a pouco construindo o seu caminho.
Dizia minha avó Adelina que o cachorro acabava tomando o jeito do dono. Pois é, os times de futebol também. O Flamengo de hoje tem a cara do Andrade, um jogador que não era visto durante a partida, mas que na verdade dominava o meio campo. Ele tinha a mesma escola de dois outros jogadores que andaram por ali no Flamengo. O Carlinhos e o Nelsinho.
Quem se arriscasse a afirmar, ali pelo final do primeiro turno, que o Flamengo pudesse ser campeão, no mínimo seria taxado de louco. O time estava mais para lá do que para cá, demonstrando um ano mais a fragilidade de um futebol carioca, onde os times são mal administrados e vivem endividados até o gogó. Veio o velho Pet, desacreditado, apenas aceito para o pagamento de uma divida, firmou-se e sem que ninguém notasse a emenda saiu melhor que o soneto. Querendo ou não o Flamengo chegou lá, e se tiver um pouco de paciência e sorte ainda ganha este campeonato.
Acho difícil, pois, o São Paulo é osso duro de roer. Tem aquilo que os outros times ainda não conseguiram ter, o cacoete de campeão. O tricolor paulista acredita que vai ganhar. Entra em campo certo da vitória e ela acaba acontecendo. Como o Flamengo de Pet, o Palmeiras de Marcos e o Atlético Mineiro de Ricardinho, é balanceado por um outro veterano, o Rogério Ceni, que do gol coordena tudo e quando sai do mesmo para bater uma falta, dificilmente perde a viagem. Mas voltemos ao Flamengo.
Tem o melhor time? Não.
Tem o melhor conjunto? Longe disto.
Tem a melhor performance? Deixa disto Zé Mané.
Então o que fez o Flamengo chegar lá? Eu diria que o de sempre: o coração.
Acredito eu, que este coração é o que difere o Flamengo dos demais times, principalmente os cariocas. Diziam os velhos radialistas, que o Flamengo não envergava uma camisa. Envergava sim um manto sagrado. Acho que eles não estavam errados. Pois, não acredito que o Flamengo seja melhor do que ninguém, mais como o Salgueiro, ele é, e sempre foi, diferente.
É o time carioca que detém mais campeonatos, embora tenha surgido depois dos seus mais sérios rivais. É o que mantém em seu curriculo o maior número de tri-campeonatos e se não me falha a memória, o único time do Rio de Janeiro a sagrar-se campeão do mundo. O fez na era Zico, a mesma de Andrade.
Logo, tem história, mesmo nunca demonstrando ter a estrutura administrativa de um Cruzeiro, de um Internacional ou de um São Paulo. Mas ele possuí um tesouro maior: sua torcida. A maior do Brasil e quiçá do mundo.
Aonde você for verá alguém com a camisa do Flamengo. Do interior do Acre a Tóquio. Do mais esfarrapado pedinte ao sofisticado homem de negócios. Em um jogo de futebol na várzea, a um Olimpíada na China. Parece que o flamenguista brota da terra. Ele existe em todos os lugares. Mas o que faz este time ter esta tão apaixonada torcida?
Eu diria que sofrer como um rubro-negro sofre, poucos sofrem, mas em contrapartida se lambuzar de alegria e júbilo em uma vitória como um flamenguista, não existe alguém que o consiga. Eu diria que o Flamengo, como o Rio de Janeiro é um estado de espírito.
Neste campeonato o Flamengo veio de mansinho, que nem Andrade como jogador e foi desarmando cada um de seus adversários como seu treinador o fazia quando em campo. Parecia estar querendo chegar apenas a Libertadores. Assim diziam seus jogadores com humildade. Hoje, a três rodadas do final do campeonato está a dois pontos do líder. Enquanto isto o Botafogo e o Fluminense passaram o campeonato inteiro tentando não ir que nem o Vasco da Gama para a segunda divisão. Aliás, ambos a ela um dia pertenceram. Experiência esta que só o Flamengo, entre os times do Rio de Janeiro, ainda não conheceu.
Lamartine Babo, escreveu quando elaborou seu hino, que um vez Flamengo sempre Flamengo... seja na terra seja no mar... Pois é, o velho torcedor do time do Andaraí, soube sentir a flama e a garra que o time nascido de uma cisão no Fluminense, sempre trouxe para campo e para as arquibancadas.