sexta-feira, 13 de novembro de 2009

O NOVO FUTEBOL

O FIM DA FOME NO FUTEBOL






Falei muito de futebol esta semana. E muita gente deverá estar me acusando de saudosista. Confesso que não sou. Pareço, mas não sou. Mas sempre admirei coisas do passado. Não acho que se faça futuro, ou viva-se bem o presente, sem pleno conhecimento dele. Leio biografias tanto de Jesus Cristo, quanto de Napoleão ou de Garrincha. Mas de uma coisa tenho certeza: nos anos 60, 70 e 80, os times tinham uma personalidade e um perfil fáceis de serem distinguidos, até por crianças de 8 anos de idade.

Hoje, quem, em sã consciência, seria capaz de escalar seu próprio time e tê-lo na ponta de sua língua? Desafio a quem o faça, pois, sei que ninguém o há de fazer. A cada jogo existe uma nova escalação. Afinal, não temos mais técnicos de futebol e sim estrategistas. Tudo a partir do Cláudio Coutinho e do Parreira, mudou por aqui. Nossos jogadores deixaram de ser vituosos para se tornarem saudáveis como vaca premiada. Um Gerson, um Garrincha e mesmo uma enciclopédia como o Newton Santos dificilmente seriam o que foram nos tempos atuais. Não sei como ainda não contrataram ex-funcionários do pentágono e membros dos mariners, para exercer funções de comando e preparação física em nossos times.

Neste tempo a que me refiro, qualquer torcedor podia dizer a escalação de seu time. Do seu time e o dos outros. Eu sabia de cor e salteado não só a escalação do Flamengo, como a do Fluminense, a do Vasco e a do Botafogo. Por um certo tempo até a do Bangu. Esta penúltima, me deixava com insônias. Porque? Você, como todo rubro negro ia ao Maracanã ver o Flamengo jogar com o Botafogo, sabedor que o Manga já tinha gastado o bicho e o Garrincha iria fazer, o doce e bom Jordan, de gato e sapato. E o principal, Jordan não usava o ante jogo para parar o Garrincha. Naquela época o virtuoso era respeitado. Hoje caçado.

Por sua vez, não havia vitória imerecida. Toda e qualquer vitória de seu time era merecida e comemorada com gritos lancinantes, os mesmos de Atila – aquele huno que não tinha senso de humor - ao avistar sacerdotes em cidades por ele conquistadas.

O futebol é o futebol desde os tempos que o Bismark falsificou aquele desgraçado daquele telegrama. Nada mudou até que as pesetas, os euros e os petro dólares passaram a se interessar por nossos craques, em maior volume no final dos anos 80. Você ia para o Maracanã como se fosse a Quinta da Boa Vista. Com família, carteira no bolso e rádio de pilha. Hoje se tentar fazer o mesmo, é capaz de restar apenas a família, antes do apito final do juiz. Até no cachorro quente do vendedor ambulante, se podia confiar. E você tinha fé. Nada de palpite. Era fé mesmo. Você acreditava que aquele jogador amava a camisa que usava. Hoje o Fred lança com as mãos seu coração à torcida tricolor a frente de mais de 66,000 pessoas. O Carlos Alberto - que a exceção do Flamengo já jogou em todos os times - na véspera fizera gesto similar, à frente de mais de 82,000 pessoas com a confirmação do Vasco estar de volta a primeirona. Mas no final do campeonato uma proposta melhor os fazem trocar de clube. Errados não estão. Todavia, falta sentimento.

Nelson Rodrigues uma vez escreveu, mais ou menos assim, que sem sentimento não se derruba uma bastilha muito menos se levanta um campeonato. A fé, o sentimento e o amor que o jogador tinha a seu clube removiam montanhas. Não havia outro time que Arthur Antunes Coimbra quisesse jogar, que não fosse o Flamengo. Não só ele, como todos os outros membros de sua família. Ele era o prodígio, então no Flamengo teria que ir jogar.

As liras o levaram para a Udinese, mas ele voltou dois anos depois a seu clube de origem. Os yens o levaram a seguir ao Sumitomo Metals e ao Kashima Antlers. Mas voltando ao Brasil foi no Flamengo em que ele se engajou, já fora das quatro linhas. Isto era o espírito do jogador daquela época. E desculpem-me, não estou falando da pré-história ou do tempo em que Napoleão mandava um mensageiro a sua amada Josephina, avisando que ele estaria de volta em 40 dias e pedia que ela parasse de tomar banho. Estamos falando dos anos 70 e 80. A era Zico.

Vi o Fred recentemente não comemorar dois de seus gols contra o Cruzeiro, o time que diz amar e torcer. Muitos acharam a atitude digna. Outros como uma traição ao time que hoje defende. Eu, particularmente, acho que isto é um direito que a assiste a ele.

Este é o novo futebol. Frio e profissional. Mas pelo menos onde os jogadores não morrem mais de fome.