sexta-feira, 20 de novembro de 2009

AUGUSTO FREDERICO SCHMIDT

O GALO BRANCO




Muita gente tem em suas casas, animais de estimação. Mas nem sempre é fácil se introduzir um cachorro em um condomínio. Quando se mora em um edifício, e este edifício está localizado numa das mais caras avenidas de uma metrópole, existem regras para se ter seus bichinhos. Pois bem, Augusto Frederico Schmidt, era um homem acima das regras. Estas na realidade não foram escritas para ele. Um erudito que teve assegurado seu lugar na literatura brasileira e também na politica, principalmente pelos discursos que preparava para políticos, entre os quais Juscelino Kubitzcheck. Pois bem, ele tinha em plena Avenida Atlântica, um galo branco. Sim é isto mesmo, um galo branco. Aliás, um vistoso galo branco, de timbre forte, que acordava a todos em Copacabana, com o seu potente cantar na madrugada.

Uma das mais líricas peças de Augusto Frederico Schimdt, versa sobre a negação de Pedro em relação a sua amizade com Jesus. E tem como pano de fundo o cantar de um galo, durante a noite, não propriamente na madrugada. Vejam como este grande poeta descreve a cena e tira dela sua conclusão:

O episódio de Pedro, a acusação do Galo soando como a consciência na hora da negação e do medo, é um episódio culminante, um instante dos mais intensos no mundo. Entre a fidelidade ao eterno e ao amor e os poderes da terra, o grande apóstolo, o escolhido para fundar o novo templo, o que era Simão e passou a se chamar Pedro, a alma ardente de Pedro hesitou na surpresa, e nesta hesitação e nessa pausa, nessa agonia (agonia que significa combate), a fragilidade venceu, o temor do sacrifício e do castigo venceu o homem escolhido entre todos para ser o mais forte. Então, meu Galo Branco, foste tu, foi teu antepassado sem dúvida, um outro Galo Branco, prisioneiro e guarda do templo, que cantou no escuro da tragédia cristã, lembrando ao pescador  a profecia da negação e do desconhecimento. – Antes que o galo cante duas vezes, tu me negarás três vezes – dissera Jesus ao apóstolo. E o galo cantara pontualmente. Cantara de noite. Então, saindo, Pedro começou a chorar. E chorou ao canto do galo.

Tua voz, meu Galo Branco, feriu a fonte de lágrimas ocultas no coração de Pedro; lembrou-lhe a palavra e principalmente o olhar do renegado anunciando que despertarias quando o medo tivesse dominado o amor. E deixando o fogo, que o aquecia, a ele e a seu medo, o grande Pedro, saindo para a noite chorou. E desse choro que a tua voz fez brotar no coração arrependido, nasceu a confirmação de um destino; e dessas lágrimas, desse amolecimento do ser pela revelação da consciência, dessas lágrimas que a tua voz, Galo Branco, fêz rolar pelo rosto áspero do pescador do Mar da Galileia, nasceu realmente Pedro em Simão e o endurecimento, de que resultou a projeção, a grandeza, a força do apóstolo.

Era o mito do Galo Branco que acompanhou Augusto Frederico Schmidt até a sua morte em 1965.
E o Galo Branco? Pois é, um dia sem que ninguém possa imaginar o que aconteceu, ovíparo se suicidou. O quem sabe foi suicidado. Ninguém realmente pode garantir a veracidade dos fatos. O certo é que despencou do apartamento de Augusto Frederico Schimdt e foi se esborrachar na calçada da Avenida Atlântica.

Com o galo ou sem o galo, Augusto Frederico Schmidt escreveria o que escreveu, pois, era de grandes frases, curtas e cheias de longos sentidos. Analisem algumas destas.

Forçava o silêncio, como verdadeira penitência.

Adquiriu a grande serenidade dos que creêm.

Antegozando com volúpia o nada.

Eu penso comigo mesmo me auscultando.

Dualidade entre o desejo de me confessar e o temor de que o meu segredo fosse conhecido.

Encantou-se definitivamente com ele ao vê-lo conversando com o anjo da guarda.

Tinha uma consciência como que divinatória.

Infelizmente, a calúnia não escuta os injuriados.

Ela tinha a pressa da juventude.

Seria mais aconselhável o silêncio a nós que temos o destino desgraçado de não guardar jamais, o que pensamos e sentimos.


Mente vazia, celeiro do demônio.

Infelizmente calunias são como penas jogadas ao vento; pode-se até  conseguir pegar algumas, ma nunca se vai conseguir se recuperar todas.

Nosso povo é o triste resultado da fusão de três raças igualmente tristes.

O Brasil é o único pais do planeta onde o empregado trabalha onze meses e recebe treze.

A esperança foi o legado que recebemos para atravessar o tempo e enfrentar esta inacreditável aventura terrestre.

Não creio em nenhuma forma de paraíso terrestre sem Cristo.

Ainda é cedo para se julgar, mas já é Tempo para alertar.

Saudades de Augusto Frederico Schmidt, não de seu galo branco...