domingo, 22 de novembro de 2009

COMO PERDEMOS UMA COPA EM 1950

Vira latas, seguidores de bandas e 
paradas de sete de Setembro.






Esta semana o último protagonista do desastre de 50, morreu vitima de sua precária saúde e de seu estado de empobrecimento. Triste realidade

Meses atrás, vi uma cara estufar o peito e bramir qual um Atila, após uma conquista de uma nova cidade: tenho orgulho de ser brasileiro”.  Evidentemente que o Brasil, acabara de golear a Argentina de Maradoninha. São exatamente nestas horas, que milhões de brasileiros se sentem genuinamente brasileiros e exalam toda a paixão contida. Infelizmente, na segunda-feira, voltam a realidade de seus salários mínimos e maldizem sua própria existências.

Ótimo para aquele que possa bramir este ato de puro nacionalismo. Pois, os ingleses igualmente assim o pensam, como os norte-americanos, os japoneses e os franceses. Cada um ama, o pais em que nasceu, cresceu e se fez como ser humano. Logo, ter orgulho de ser brasileiro, não é uma virtude e sim uma obrigação.

Mas houve época, que segundo o dramaturgo Nelson Rodrigues, agíamos como vira latas, seguidores de bandas e paradas de sete de Setembro. Aceitávamos a derrota com a doce e cândida expressão de um bem-te-vi. E o que aconteceu no Maracanã, naquela trágica tarde de 16 de Julho de 1950, é o mais eloquente exemplo daquele nosso estado de espírito.

Sambamos na azul celeste e de cabeça baixa, deixamos de ganhar o titulo que nos era merecido, dentro de nossa própria casa e ajudados por mais de 200,000 torcedores presentes ao maior estádio do mundo. Foi o maior silêncio até hoje ouvido, segundo meu pai e a frase do ex-seminarista, jornalista e escritor Carlos Heitor Cony, sobre o resultado da peleja, por si só define, o estado de espírito de todos:

“Deixei de acreditar em Deus quando vi o Brasil perder a Copa do Mundo no Maracanã.

O estádio em si, reforçava o imenso sentimento de brasilidade que os presentes naquela tarde traziam incrustados no fundo de suas almas. Era um exemplo gigantesco em concreto e ferro do que poderíamos ser capazes de construir, dali por diante. Venceríamos, pela primeira vez, algo. Algo de real relevo.  Algo que seria respeitado pelo resto do Universo. Mesmo em se tratando de uma Copa esvaziada, sem presença de argentinos, alemães e italianos. Todavia, não se iludam, não foi Obdúlio Varela, ou Alcides Gigghia que decretaram a nossa derrota. Foi sim, aquele nosso eterno defeito de cantar a vitória antes da hora, que na verdade, nos levou ao cadafalso.

Aquela vontade de faturar em cima do sucesso alheio que tanto caracteriza nossos políticos. O candidato a presidência Cristiano Machado, a velha raposa Adhemar de Barros  foram cumprimentar os jogadores em São Januário, na manhã da disputa e teceram discursos infindáveis. O Maluf, só não os acompanhou, porque naquela época era ainda muito pequenino. E o Lula nem nascido acredito que o era.

Dizem as más línguas, que a ordem do técnico Flávio Costa era de se jogar com extrema lisura, sem jogadas ríspidas. Aquele nosso eterno complexo de terceiro mundo. Queríamos demonstrar uma imagem civilizada, em uma guerra. Puro trauma de sociedades que se sentem inferiores. Moral perdemos o jogo, a moral e a guerra. E voltamos ao estágio de vira latas seguidores de bandas e paradas de sete de Setembro.


Bastava um empate. Um mísero empatezinho, mixuruca, sem graça, apenas necessário.... Chegamos ao meio do segundo tempo com uma vantagem de 1x0, mas nada disto foi suficiente. Estávamos fadados a entregar o ouro de mão beijada. Ao primeiro gol de Schiaffino, afinamos dentro de campo e na arquibancada. E esperamos pela degola, que não tardou a acontecer naquele chute cruzado de Gigghia.

Fim do sonho, reinicio de uma realidade. Éramos uns perdedores de carteirinha.

Perdemos aquela guerra, como o Reich de cem anos e que não durou mais do que década, o havia feito seis anos antes, pelo mesmo excesso de otimísmo. Enfrentamos o Uruguai, com a Alemanha a Rússia, achando que iríamos decidir a questão a nosso favor, a qualquer momento. Era a vontade divina, que nos fizera já campeões. Ledo engano.

Roberto Sander escreveu: “quanto é inglória a tarefa de conhecer a si mesmo e avaliar a extensão de determinadas escolhas”. Pois, tenham em mente que naquele 16 de Julho conhecemo-nos a nós mesmos. Ou melhor, descobrimos aquilo que sempre fomos, vira latas seguidores de bandas e de paradas de sete de Setembro.

Garrincha e Pele transformaram o vira lata em um dobermann, ganhamos 5 copas, mas nesta última. Perdemos uma disputa na Espanha, por excesso de zelo e aquela subdesenvolvida mania do fairplay em uma guerra: com sua devida vênia, posso lhe tomar a bola”.

E nesta última, recém disputada, com quadrados mágicos mirabolantes e sapatos altos que afundaram seus saltos na grama.

Somos o que somos. Mas vamos ver se ganhamos esta próxima Copa, como cachorros ferozes a roer qualquer tipo de osso.