terça-feira, 10 de novembro de 2009

UBALRILDA OU DOLOREMÁRIO?

Mário Pernil Mortandela Gonçalves






Uma das grandes coisas da modernidade são os nomes próprios. Sim os nomes. Aqueles que ganhamos em nossos batísmos, escolhidos por nossos pais, sem que nossa opinião seja levada em conta. Pelo menos, os nomes modernos, em alguns casos, descomplicaram-se.

Eu acho que deveríamos, ao nascer, sermos numerados e teríamos a opção, até os 18 anos - ano em que seríamos obrigados a tirar a carteira de identidade, pelo menos era assim no meu tempo - para escolher o seu próprio nome próprio. Todos assim seriam felizes em conviver com nossos nomes.

Mas porque estou falando nisto? Por causa de uma troca de informações. Uma de minhas avós, a da parte de meu pai, se chamava Adelina. Um nome não muito comum. Aí a amiga facebook Maria Luiza Severo, uma brasileira que mora em New México, alertou-me que sua avó também se chamava Adelina, o que para nós pareceu ser uma grande coincidência. Seu avô atendia pelo nome de Olegário. Outro nome não muito popular para os dias de hoje. Todavia o de meu avô não era mais popular: Lindolfo. Aí me veio a cabeça que talvez, sequer existam mais Adelinas, Olegários e Lindolfos. Estes nomes extinguiram-se no tempo e pertencem a um passado pré histórico como Policarpo, Minervina, Aderaldo, Beribela, Eleutério, Juvêncio, Leôncia, Marivalda, Felisberta, Genoveva  e Epaminondas. Hoje todo mundo é Sérgio, Luiz, Cristina ou Ronaldo.

Conheci um Mário Pernil Mortandela Gonçalves. O pai era um português, vindo de trás dos Montes, que tinha uma quitanda e pelo jeito amava por demais, seu trabalho. Eu chamava, o pobre coitado do meu amigo de MPM e muita gente achava que teria algo haver com o movimento da Música Popular Brasileira. Ele não cantava nem compunha nada, mas era melhor que as pessoas assim pensassem. O apelido colou e meu amigo gostou. Tudo para ele era melhor do que se lembrar de seu nome.

Houve uma época que era moda se dar nome de gente importante. Vocês lembram, Alan Delon, Yuri Gagarin, Alan Kardec, Dalva de Oliveira. Conheci até um Lev Yashin, preto retinto e sem um dente na boca. Acredito que havia uma crença na época da possibilidade das pessoas herdarem as qualidades de seus homônimos. Roberto Carlos devem existir milhões.

Uma outra moda da época, que perpetuou-se, em menor escala até os dias de hoje, era a de se compor os nomes do pai e da mãe em um só. Foi assim que apareceram verdadeiras dissonâncias auditivas. Conheci a três delas: Ubalrilda, era senhora que me serviu como empregada doméstica durante minha permanência em Belo Horizonte. Descobri ser ela filha de um senhor chamado Ubaldo e de uma senhora batizada como Marilda. Eu a chamava carinhosamente de Ubá, já que era mineira.

Um garagista de um prédio de escritório que trabalhei atendia pela alcunha de Cacildóro. Algo assim não pode ser considerado sequer um nome. É, mesmo uma alcunha, mesmo sendo ele filho da dona Cacilda e do senhor Onório.

E o terceiro, não dá nem para acreditar. Imaginem: Doloremário. Era uma senhor muito inteligente para quem trabalhei quando ainda dava meus primeiros passos como arquiteto. Um dia não aguentei mais a curiosidade e perguntei pela origem de seu nome. Ele confessou, era filho de Dolores Duran, não a cantora, mas a filha de uma fâ e o senhor Mário.

Nome é coisa séria, mas que nem sempre é levado a sério. Tenho uma amigo meu, de humor negro e estado de espírito cinza plumbeo que infelizmente tenho que convir que para certas coisas – ou muitas - é um reacionário. Para ele esta situação de nome complicado só acontece com gente pobre. Discordo. Primeiramente para mim, não existe gente rica ou gente pobre. Existe sim gente. E em segundo lugar, até gente que frequenta e presidiu a Academia Brasileira de letras possui nome estranho. Ou Austregésilo não lhes parece estranho?

As vezes não é apenas o nome próprio. São as continuações dos mesmos. Dos Prazeres, das Dores e do Perpétuo Socorro foram uma trilogia dramática que muitas mulheres da minha geração e de gerações anteriores tiveram que carregar em seu calvário. Não estamos falando de uma ou duas senhoras. Estamos falando de centenas, talvez milhares. E o que dizer de Oliveira Quatro, de Minha Paixão, do Amor Perpétuo, e da Alegria de Todos nós. Pois é, existiram. Eram mais do que sobrenomes. Eram afirmativas peremptórias, não de muito bom gosto. Os peguei, há muitos anos atrás, de um apanhado feito por um tio meu que trabalhava junto ao órgão que emitia carteiras de identidades no Rio de Janeiro. Não me lembro de todos, mas o que aqui escrevi, são inesquecíveis

Hoje se dá nome até por numerologia.