sábado, 14 de novembro de 2009

NEW YORK, NEW YORK


A ÁRVORE DO ROCKFELLER CENTER






Vou escrever sobre uma coisa, que é de domínio público: o brasileiro é chegado a uma festa. Somos um povo festeiro, por isto feliz. Do Oaipoque ao Chuí, a gente se embala no ritmo que mais funcione na região em que você vive e assim do frevo, ao samba, do bumba meu boi as prazeres de uma dança de gaúchos, vibramos ao primeiro sinal assimilado por nossos tímpanos.

Nossos estádios são uma festa, nosso congresso é uma festa e até no velório do vizinho desaparecido existe a razão para uma festa. Esta é a nossa índole. Sinto falta deste clima descontraído, principalmente de meu tempo de carioca.

O tempo não passa mais rápido no Rio de Janeiro, mas nós o aproveitamos melhor. O tempo simplesmente não passa na Bahía, mas existe lugar mais maneiro do que lá? Recife é uma das cidades mais hospitaleiras de nosso imenso pais. Recife e creio que o norte e o nordeste inteiro. Você pede uma informação e quando vê está almoçando na casa daquele que a deu. Em New York é exatamente ao contrário. Você pede a informação e o cara nem se digna a parar. Finge que não ouve. E dependendo do lugar, da hora e se tratando de uma mulher, você pode até terminar com um spray de pimenta em seus olhos.

A criação do GPM foi a salvação daquele que a New York vai e não conhece bem a cidade. Mas existe uma coisa que o novayorkino têm em comum com o carioca. A curiosidade para qualquer coisa que tenha relevo.

Outro dia vi uma árvore gigantesca entrar pela quinta avenida em um caminhão. Era a árvore de natal do Rockfeller Center. Quem estava por ali parou. Pessoas das janelas e na avenida iniciaram uma salva de palmas. Lembraram-se que estavam a quarenta e poucos dias do natal e voltaram a ser seres humanos, pelo menos, por alguns minutos. Poucos mais necessários.

Em New York, você se automatiza. Aumenta sua velocidade média de andar, porque se assim não o fizer, alguém passará por cima e ainda reclamará de sua ineficiência. Imediatamente o confundirão com alguém de New Jersey, e aí a coisa pega. Você fica mal na parada. New Jersey é a Niterói de New York. Você abre a janela e vê New York. Esta é a grande vantagem de se viver do outro lado da ponte. Pelo menos em New Jersey.

Gosto de vir a New York. Uma cidade de contra senso. Hoje custa US$39 de avião para se ir de Miami a New York. One way. Ai você em Manhattan tem que pagar de US$300 para cima se a ideia e se manter em um quatro estrelas. Três estrelas em Manhattan é suicídio consentido. Suas chances de sobrevivência são mínimas. Logo, é uma armadilha. Você chega barato e morre no caro, porque os restaurantes e as diversões são igualmente custosas. 

Por isto acho o Rio de Janeiro uma cidade abençoada. Você se diverte a custo quase zero. Em Manhattan, de graça só o Central Park, mas até escurecer, pois depois que o sol se põe, se torna muito caro por ali passar. Pode lhe custar a vida.

Mas voltando a árvore. Na hora do almoço, todo mundo saiu de seus escritórios e veio saborear seu sanduíche olhando a árvore ser montada e para aqueles que arriscam seus movimentos no rink montado de gelo a frente do grande e portentoso edifício.

Até eu sentei e sorvi meu Capuccino do Dan Delucca, não me importando com o vento frio que açoitava minha face desprotegida. Sinto que a árvore mexeu com todos. Recebi sorrisos e alguns acenos de cabeça. Cheguei a conclusão que a sua simples presença trouxe de volta o espírito de natal. E não existe natal como o de New York. Já experimentei em diversas outras metrópoles e apenas a de Paris se aproxima da grandiosidade como esta festa é recebida e festejada em New York.

O novayorkino, não tem o senso de humor do carioca. Ele é cítrico e sem tempo para curtir o dia. Em New York se curte a noite. Outrossim, na atual época de crise, na verdade não se curte absolutamente nada.

Adoro o Rio de Janeiro e respeito New York. Duas formas distintas de sentimento, mas igualmente válidas.

A única vantagem que vejo na cidade norte-americana é que a árvore estará lá amanhã, quando por aqui passar. No Rio ela samba, também.