quinta-feira, 1 de abril de 2010

DIFERENTES TELAS, O MESMO ARTISTA



O ESPETÁCULO DO ASTRO MAIOR, 
QUE NEM FAULKNER SERIA CAPAZ DE DESPREZAR.

Ter o privilégio de estar no Pantanal e assistir os espetáculos que o astro maior dá por aqui, me lembra um de meus grandes heróis literários: William Faulkner. Um homem que desprezava a tudo e a todos. Ele com propriedade dizia, “O passado nunca está morto. Ele nem mesmo passa!

Com todo respeito a meu nascer e a meu por do sol em Hallandale Beach, diria que o do pantanal é talvez um pouco mais carismático. E com certeza mais charmoso. Tem um allure especial. Ele o faz sentir não apenas um observador, mas creio que participante do espetáculo. Não vou chegar ao exagero de afirmar que mais bonito que o do Arpoador, do de Cancun ou do da janela de minha casa em Hallandale Beach, pois, o artista é o mesmo e ele sempre se excede em sua arte a cada dia, no lugar em que se proponha a aparecer ou desaparecer. Mas existe um “que maior por aqui, e creio que seja pelo o entorno que o recebe.


DIFERENTES TELAS, O MESMO ARTISTA!

Adoro praia. Para mim, depois da mulher e da Nhá Benta – a tradicional da Kopenhagen – a maior invenção que Deus nos brindou.  E ademais o Atlântico é o meu mais velho e querido amigo. Me viu crescer, me ajudou a me formar como jovem e acompanhou minhas primeiras incursões românticas. Volto a afirmar, acho a praia uma das coisas mais lindas do mundo, mas confesso que estar numa lagoa deserta, seja ela a Gaiva ou a Uberaba, com seu barco preso a um cachalote a espera da chegada e da despedida do astro maior, não é ruim não. É melhor que sexo. Diria mais, sem medo de estar cometendo uma inverdade, comparável apenas a fazer amor com a mulher que se ama.

Um detalhe difícil de se crer. A Uberaba, uma baía que acho que deve ser maior que a da Guanabara, até 1974, foi pastagem de uma fazenda. Mas as chuvas formaram um volume de água tal, que até hoje, ela não conseguiu deixar de ser o que é atualmente. Difícil de se crer, mas uma realidade que só o Brasil, um pais com a potencialidade hídrica que tem, é capaz de promover. Se isto ocorresse nos Estados Unidos, o dono da ex-fazenda estaria promovendo uma ação por perdas e danos ao TD – Todo Poderoso. Logo, Deus, é sábio. Sabe exatamente o que faz. Não mete sua mão em cumbuca...



Nunca tive a oportunidade de vislumbrar os distintos matizes que o céu toma, por aqui, à medida que o sol se levantava ou se ponha. Do azul de rara transparência, pois a poluição aqui ainda não descobriu o mapa, ao cinza plúmbeo, passando pelo laranja, o carmim, o roxo e o azul marinho, você participa da feitura de um quadro em que o pintor maior se delicia com suas pinceladas seguras e sutis. As nuvens funcionam como esculturas móveis, recebendo claridades por trás de si, transcendentais.  A cada segundo uma nova luz, uma nova imagem, um novo matiz. Tudo se modifica, se enobrece.

O  diafragma de sua máquina trabalha de forma incessante. Seu hard drive se enche e seu dedo não para de impulsionar o disparador. O som das fotos tiradas envolvido pelos dos pássaros criam um pano musical envolvente. São como o pulsar de seu coração e os acordes de sua mente pensante.

É aí que me dá aquela vontade de parar e me enternecer com toda aquela situação, que agora você se sente parte. Foi neste exato momento que o Joaquim, um barqueiro com alma de artista, que depois de tantos anos acompanhando o Sergio Araújo, pegou a veia de fotografo e me fotografou em mais de uma oportunidade. Agradeço a ele, pelos momentos que gravou, não só a minha imagem, mas tudo aquilo que estava sentindo.



Não perguntei ao Joaquim se ele era igualmente fotografo, pois, o vi tirar da água nada menos que 5 Pacus que davam medida e 7 que voltaram ao Rio, em menos de 30 minutos. E sem molinete, só na vara de bambu e anzol sem isca. Pois, me situei exatamente em um caso celebre de Faulkner. Em um safári com um diretor de Hollywood e o grande astro de sua época Clark Gable, ao ser perguntado pelo último, quem eram na opinião dele os três maiores escritores do cenário norte-americano, ele respondeu que Hemingway, alguém que não me recordo o nome e ele próprio. Gable que o conhecia apenas como roteirista, cometeu seu grande erro, ao comentar. Não sabia que o senhor era escritor. Sem perder a linha Faulkner deu o troco bem a seu estilo. Sou, e os senhor o que faz na vida?

Vou contar um segredo. Tenho ainda um hábito de menino. Rezo, ou melhor tenho o meu papo com o lá de cima. Coisa simples, sem muito me desculpe meu senhor por minha falta ou qual foi a tua ô cara que me meteu nesta fria? Faço sim um ligeiro ato de contrição, onde penso nas coisas boas e ruins que aconteceram e como devo lidar com elas em situações futuras e agradeço sim e muito, pelas coisas boas que sucedem em minha vida. Que graças a ele nunca foram poucas. Não sei nem ao menos porque.

Levo este papo normalmente quando me deito a cama. Pois é, transferi meu horário de bate papo com ELE, não por causa de diferenças nos fusos horários, mas sim pelo cenário que se descortinou neste meu período de vida. Aqui no pantanal estabeleci duas conversas: uma no amanhecer e outra no entardecer. Pois, tinha a nítida certeza que ele me ouvia, pois, acordado estava a pincelar aquelas coisa lindas que sobre minha cabeça emolduravam o cenário em que vivia. Afinal só ele, o conseguiria se expressar com tamanha harmonia e exatidão.