quinta-feira, 15 de abril de 2010

O PRAZER DE NOTAR OS OUTROS E SER NOTADO



A FORÇA DE UM BOM DIA

Todos vocês, naturalmente, em alguma oportunidade, assistiram ao filme de Spielberg, E. T., o extra terrestre. Pois bem, este filme teve uma grande peculiaridade: a de colocar a câmera a altura dos olhos do monstrinho que baixou na terra e assim determinar o ângulo e o parâmetro que ele tinha de nosso mundo e de nós mesmos.

Todos nós enxergamos o nosso entorno da mesma forma. Dentro de nossos parâmetros. Outrossim, existem dois parâmetros dentro de nós. Não apenas um: o visual e o espiritual. Mesmo tendo certa altura e qualquer que seja nosso grau de miopia ou astigmatismo, nós as vezes em nosso parâmetro visual deixamos que certas coisas se tornem invisíveis às nossas vistas. Passamos por elas, sem as notar, esquecendo-nos, que elas nos notam e sentem a indiferença.

Ninguém gosta de se sentir indiferente. Ninguém anseia ser invisível perante a seu semelhante. Ninguém crê que possa a ser apenas um dado estatístico na multidão.

Eu moro num edifício de muitos apartamentos. O complexo composto de três torres, chega a ultrapassar o número de 1240 apartamentos. Existem 7 ou 8 tipos de plantas, atraindo diversas gamas de investidores, investidores estes das mais diversas nacionalidades. Logo, trata-se de uma pequena cidade multi racial e de dos mais distintos patamares financeiros. Resumindo, gosto para tudo.

Evidentemente para que este complexo sobreviva, existe uma gama de empregados, cada um com a sua função. Todos uniformizados cada um com o seu crachá de identificação, pois, seria impossível saber se o cara era um penetra ou não, sem este sistema. Nós, os moradores para irmos a qualquer lugar temos cartões Magnéticos para abrir as portas. Enfim, um sistema que tenta evitar que estranhos convivam com as vantagens que o complexo trás a seus moradores.

Mas não é propriamente sobre isto que estou afim de me ater. Todos os dias cruzo com empregados que estão varrendo, passando aspirador ou polindo alguma coisa. Eu e Cristina temos o hábito, que me parece bem brasileiro de cumprimentar e falar alguma coisa além do bom dia. Sinto que os empregados gostam e um dia comentei com um deles que o achava sempre de bom humor. Ao que ele respondeu que nem sempre, pois, eu e minha mulher eram dos poucos que sequer o notavam. Aquilo me chocou, pois, alem dele não ser invisível, era grande e forte. Um cara difícil de não se notar.

E como tudo que me choca eu testo, para pelo menos tentar entender o porque da anomalia. Um dia, depois de ter descido para recolher minha correspondência, prontifiquei-me a ficar sentado na portaria num ângulo que podia vislumbrar este empregado fazendo a sua tarefa diária, bem na entrada do corredor que nos leva aos elevadores. Em 30 minutos, contei nada menos de 28 moradores cruzaram com ele e apenas quatro o cumprimentaram.

Extasiei-me, o cara para a grande maioria era um poste. Um artefato do edifício. Um ser invisível. Levantei-me, passei por ele e comentei: você tem toda a razão. As pessoas ignoram o que está a sua volta”.

Ao que ele discordou: “não, elas apenas ignoram aquele que faz um serviço, que elas não gostariam de fazer, por achar inferior”.

A objetividade de sua discordância me fez vez, quão cruel muitas vezes nos tornamos, absortos em nossas preocupações diárias. Eu e Cristina, na verdade mais ela do que eu, sempre nos preocupamos em cumprimentar os empregados e quando é possível trazer a eles um agrado. Um pedaço de bolo, um chocolate e as vezes até algo mais expressivo, principalmente para os que trabalham na portaria nas altas horas da noite. Nunca consideramos aqueles que nos servem, elementos invisíveis. Eles são parte de nossa vida, não porque nos servem, mas pelo simples fato de coabitarem o mesmo mundo que vivemos e dividir conosco o ar que respiramos.

Concordo que o ser humano muitas vezes não é valido, mas deve ser considerado inocente até que provem ao contrário. Nunca invisível ou visto como parte do mobiliário. Até que você dê mais valor a seu cachorro, o seu igual tem que ter uma chance de mostrar quem é. Depois, decida por qual dos dois...

Faça do encontro com o seu gari, seu porteiro e seu padeiro, um bom e sonoro, dia. Deseje a ele o melhor que possa ter. Demonstre prazer em seu cumprimento e no seu como vai você. Todo mundo tem uma lição em sua vida a dar. Todo mundo é feliz e triste como você. Todo mundo anseia viver aquilo que você igualmente ansiaria.

Hoje temos uma situação complicada com a possível eleição de dona Dilma, que não deve dar bom dia, sequer a seu semelhante mais próximo. Como estamos a meses da eleição e hoje esta senhora é oficialmente a candidata sucessória, ela vai começar a dá-lo, mesmo com nojo ou com desprezo. Mas o seu partido, o PT, estes oito anos fez o seu trabalho. Não dando bom dias, pois, embora não saibam o povo para eles ainda é um numero estatístico, mas, pelo menos, distribuindo cestas básicas, bolsas famílias e outros programas de captação demagógica de votos. Todavia, que fez o brasileiro do interior do pantanal, saber que foi notado. E isto irá fazer a diferença., pois, para estes, tanto faz como tanto fez Serra ou Dilma. Nenhum dos dois, a principio irá mudar a sua vida. Mas ser notado e afagado pelos correligionários de um, com o erário de nossos impostos, os fez se sentir notados.

Um bom dia para todos.