domingo, 25 de abril de 2010

O SAFO



O PERFIL DO POLITICAMENTE CORRETO.

Ele acabara de perder a memória, assim como havia perdido um dia a vergonha e a uma década, todo o dinheiro herdado de sua família. Resumindo, nascera rico, vivia hoje como pobre e Deus sabe como morreria: possivelmente qual um indigente. Mas um dia a sorte mudou.

Fora imposto ao mundo como uma solução aos problemas de infertilidade de sua mãe. Nascera do consenso de enumeras tentativas frustradas. Quinze anos de espera. Todavia, quando finalmente foi parido, passou a ser visto e imaginado como a solução de todos os problemas daquele casal que já avançava em suas idades. Mas na realidade, desde pequeno demonstrou ser um problema insolúvel.

Nunca na história da família brasileira, houve um filho como aquele. Seu passado prenunciava futuro algum. Era inútil, supérfluo, inanimado, dilacerado pelas dúvidas, outrossim, possuía uma qualidade: era capaz de dar a volta por cima, qualquer que fosse a situação que se apresentasse à sua frente. Mas justamente esta sua única “qualidade” foi o turning point de sua existência. Ela o fez entrar na politica.

Não como político, mas como asponi. Isto mesmo, asponi, aquele famoso e invisível assistente de porra nenhuma, mas que ligado aos políticos, é capaz de se tornar peça de suma importância na engrenagem da corrupção. Como todo ser que leva algum por serviços prestados, mesmo sendo invisível, tinha que ter uma denominação, para o livro do caixa 2. E assim ele foi rotulado de marqueteiro.

Marqueteiro: profissional de marketing; indivíduo oportunista que se utiliza do marketing para projetos e interesses pessoais. Quem não já ouviu esta frase em uma festa de gente rica; a campanha do fulano foi idealizada por um excelente marqueteiro.

Aí, quando o dito politico é eleito, o então marqueteiro, imediatamente é promovido para um outro patamar, superior ao anterior. A esta nova gama é dado o rótulo de lobista. Um profissional de abertura de portas, de acerto de comissionamentos e de eliminação de pegadas dos passos inerentes a ação levada a efeito fora das vistas oficiais.

Pois bem, o individuo de quem lhe falei, passou por todos estes estágios. Amaziou-se” com a secretária feia de um politico –justamente com aquela que não se deitava com o chefe e por isto era a única que trabalhava - e aos poucos se tornou conhecido como seu marqueteiro.

O então vereador, passou a deputado e de deputado estadual a federal. Aí agora em Brasília, o politico, passou a ter a necessidade de ter seu marqueteiro full time, e aquele que é o objeto de nossa dissertação assumiu de bom grado o cargo e para lá se mudou.

Iniciando com pequenos projetos que só traziam grandes aborrecimentos, logo, logo, este nosso amigo decidiu ir para o setor de grandes causas, e aborrecimentos zero. Aquela que a grana entrava fácil, solta e em grande quantidade. A que agradava a gregos, troianos e a toda a torcida do Flamengo. E para qual a vista grossa era necessária.

O senado foi o degrau seguinte para seu chefe. Ele tinha todos os quisitos. Era escorregadio, não dizia nada com nada, bajulava aos que estavam a seu lado e acima e mais do que tudo, era politicamente maleável: estava sempre com a situação. E o deputado federal se tornou senador por um estado, que nunca antes tinha visitado. Mas com seu marqueteiro-lobista a tira colo, chegou ao ponto onde deveria ter iniciado, vinte anos antes.

Mas houve um problema. Depois de uma queda em sua motocicleta, nosso personagem principal bateu com o crâneo em paralelepípedo e perdeu a sua memória. Desespero geral. Afinal ele era o homem que conhecia as portas, as fechaduras e acima de tudo, as pessoas que estavam do outro lado, prontas para serem corrompidas. Instalou-se o caos. Como as coisas iriam funcionar dali para frente?

Até que descobriram que embora ele tivesse perdido a memória, não tinha perdido sua capacidade de dar a volta por cima, qualquer que fosse a situação que se apresentasse a sua frente. Todos os membros do alto e do baixo clero político, o queriam então. Tinha ainda a capacidade nata, de fazer as coisas acontecerem, não tinha consciência das falcatruas anteriores, assim sendo, não tinha passado, o que lhe abria um futuro politico brilhante à sua frente. Do congresso foi imediatamente chamado ao Palácio do Planalto e lá foi rotulado como assessor de ministério. 


Não cabe a nós aqui revelar a que ministério este personagem foi alocado. Muito menos sua identidade, ou a que governo ele serviu. O importante de tudo é que descobriu-se que o Brasil, além de ser o pais das grandes oportunidades, era também o depositário das esperanças dos inúteis, dos supérfluos, dos inanimados, dos dilacerados pelas dúvidas, que possuíssem uma só qualidade: a de ser capaz de dar a volta por cima, qualquer que fosse a situação que se apresentasse à sua frente.

Este é um dos perfis, do politicamente correto em nosso país: o safo! Para o inicio do processo, precisa apenas achar a secretária feia do politico ambicioso. E o destino se encarregará do resto.