segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

RESPOSTA A UMA AMIGA




AÇÃO CIRÚRGICA

Ninguém escreve para si próprio. Existe algo por trás de alguém que faz uso de sua pena, que o impele a tentar incitar no interior de todo o seu leitor, uma reação. Seja ela do âmbito que for. Em meu caso, quanto mais serena, melhor.

Não sou colunista político, mas não consigo ver a vida sem a ingerência da mesma, afinal ela normatiza nossas ações. Louvo verdadeiramente aqueles que tem fé. Para aqueles que demonstram acreditar, uso uma frase de Augusto Frederico Schmidt que uma vez me calou fundo. A mesma que usei para a leitora Lucia May: você adquiriu a grande serenidade dos que crêem”.

Lucia May escreveu o honesto texto abaixo, que tomo a liberdade de transmitir à aqueles que aqui lêem, provando ter esta serenidade e mais do que isto a capacidade de rever seus conceitos e escolhas. 

Lucia May Da Silveira December 18 at 2:32pm
Renato, votei no FHC duas vezes. Na primeira eleição do Lula, votei Serra. Talvez você diga que é imagem, tudo bem. Mas o Lula não é um Hugo Chávez. Mas daqui vê-se os movimentos de Brasil com voz alta no mundo, o que foi incapaz de fazer o FHC, apesar de ser um homem que admiro, universitário, etc (e se de um lado fujo da televisão com as declarações do Lula no Brasil, confesso que o acesso à dentadura do pobre não me aparece como muito diferente).
De outro lado, a imprensa, o que parece uma contradição está muito mais livre com o Lula do que no passado. A cultura começa a florir. Não sei pode ser falsa esperança, mas tenho a impressão que o Lula foi mais capaz de iniciar um movimento. Por exemplo, porque os presidentes sempre foram escolhidos por uma minoria? Me desculpe, mas acho importante isso. Acredito que as coisas só podem mudar, mesmo pagando o preço dos erros, se todos começarem a participar.
Vou no Brasil de 26 de dezembro a 2 de janeiro, e suas palavras queixosas vou senti-las quando a TV Globo (não tudo) começa com seu nhanhanha, ou os tacos de meu salto alto se enfiarem num buraco, ou o que é mais grave, pessoas sem teto, crianças de três anos pedindo esmola, e os maiores cheirando cola.
Bem, são só elocubrações, sem em contato (espero, para me enriquecer), beijo, Lucia.

 São pontos pessoais e válidos, embora eu ainda acredite em minha avó Adelina que uma vez me alertou para com as minhas n’ao muito descentes companhias: dize-me com quem andas e eu te direi quem és”. Nunca esqueci. O encontro em Copenhagem à portas fechadas de Chávez, Morales, nosso presidente e este senhor que ora comanda o Irã, levado a efeito esta semana, para mim responde muitas perguntas. E suscita algumas dúvidas, tais como, estaríamos participando de um bloco sui-generis? Se assim o for, eu prefiro , por razões de lealdade, me manter com a da banda de Ipanema.

As atuais leis em relação a imprensa que passaram ou tentam ser passadas no congresso e no senado, parecem tolher em significativa escala a ação da imprensa brasileira. Logo, discordo em relação a afirmativa de que, “...de outro lado, a imprensa, o que parece uma contradição está muito mais livre com o Lula do que no passado”.

Concordo que a cultura possa estar florindo, mas não com a ajuda do governo que nada faz neste sentido. Quanto ao voto popular, diria que historicamente os presidentes no Brasil sempre foram escolhidos pelo povo. Concordo que por minorias e dentro de uma politica de cabresto. Não vejo modificações na atual situação. Apenas um translado de currais políticos de alguns regionais coronéis, para um grande curral político de cunho presidencial, onde projetos são implementados para garantir o voto daqueles que por estes são privilegiados.

Não acredito que a grande voz popular foi ainda alcançada no Brasil, pois, ainda não conseguimos atingir os três pontos que fazem a verdadeira melhoria da vida daquele que necessita: saúde, educação e segurança. Existe hoje sardinha na mesa, mas ainda não muita vontade de disponibilizar as varas de pescar e muito menos os meios que possam os donos da mesmas se tornarem pescadores e responsáveis pelo sustento próprio e dos seus. Existe sim um paternalismo impetrado em um universo maior. Muito parecido com os dos tempos de Getulio Vargas.

Enquanto houverem ações paternalistas, os currais eleitorais se manterão em nosso pais. E não haverá mídia alguma – por mais forte e patrocinada que seja - capaz de fazer a mente daquele que recebe, sem esforço algum, o alimento em sua mesa. Este continuará a votar naquele que o alimenta. Não diria como um fiel cão, pois isto é rotular nosso irmão pouco afortunado de uma maneira pouco condizente, mas assumiria que a lealdade a aquele que o ajuda, sempre irá falar mais forte.

Lucia, crer é bárbaro, e eu como você, mesmo morando fora do Brasil, creio que um dia, as coisas se ajustarão em nosso pais. Estamos melhores do que 30 anos atrás. Não há dúvida sobre este fato. Talvez até estejamos no caminho certo. Não estou apto a assim dizer. Outrossim a meu parecer, ainda falta muito para chegarmos lá e os principais pontos da melhoria de vida de uma nação, não estão sendo ainda atacados, como deviam. Para uma economia que anseia ser a quinta do universo, estamos longe de atingir nossos objetivos básicos.

Volto a repetir, pois, repetitivo sou. Sem um ataque seguro a anomalias de nossa saúde, educação e segurança, tudo não passará de um paliativo. Não a homeopatia que no mínimo deveríamos estar administrando, em um pais que necessita na verdade, de uma urgênte ação cirúrgica.