O OSVALDO, SEM W E D MUDO
OU O ENCONTRO DE VELHOS AMIGOS
OU O ENCONTRO DE VELHOS AMIGOS
Sempre li muito e confesso quem mais me impressionava, entre os que escreviam na minha época de impressionar-me com tudo, eram os cronistas. Aquele que tinha uma coluna diária no jornal, era para mim um ser especial. Acostumei-me mal, Castelo, Nelson Rodrigues, Sabino, Paulo Mendes Campo, Antônio Maria, Stanislaw Ponte Preta, Cony, Rubem Braga, e tantos outros que se citados em sua integra, encheriam o espaço que aqui tenho para expor esta minha tentativa de crônica.
Porque eles causavam-me tanta impressão? Pelo simples fato de acreditar que a arte de ser cronista é a de dizer aquilo que vem a sua cabeça diariamente. O que pode passar a desapercebido por alguém, não pode nem deve passar por aquele que se propõem a ser um analista do cotidiano. Um caricaturista do momento. O olho critico da história.
Creio que de tanto ler e depois escrever, acostumei-me com este fato e ao menor detalhe as vezes me vem um desarquivamento de uma informação que parecia perdida naquela parte obscura de seu cérebro. Vamos a um fato destes.
No dia 25, entrou para o meu rol de amigos, no facebook, o professor João Beserra da Silva, que como todo homem vivido, como eu sou, não têm receio de colocar seu ano de nascimento na sua parede de apresentação. Ele é de 36. Sou de 50. E imaginem que existe muita gente de 1975 para cima, que já se acha velha...
Isto mesmo Beserra com S, e não com Z, como muita gente poderia esperar. Mas o nosso bom professor Beserra com S, parece ser um ser motivador, que não se arrepende de sua existência e que parece tê-la vivido intensamente. Prega coisas bonitas como este seu projeto de vida: “O meu maior projeto de vida é VIVER, motivar as pessoas a amarem cada vez mais a vida. O meu grande propósito é demonstrar a empresários, a liberais e a todas as pessoas que elas podem aumentar os seus anos de vida, vivendo cada dia...”
Quando se passa dos 80, muitas vezes a gente exala empatia, dificilmente simpatia. E o nosso Beserra me parasse ser uma pessoa in. Para cima. De bem com a vida. Que exala simpatia. Como todo ser respirante deveria ser, pois, não há coisa mais gratificante do que estar vivo e simplesmente vivendo a sua vida.
Estar bem com todo mundo é uma arte que ainda não consegui dominar, embora minha esposa Cristina, seja uma catedrática nesta questão. É capaz de fazer amizades em um elevador, se mais do que três andares tenha que ser vencido. Mas não é este o caso.
Pois, é a grafia do nome do professor Beserra me fez lembrar de um amigo, que não vejo há muitos anos, o Osvaldo. Para os mais novos, na época que o Osvaldo nasceu, chique era ser batizado como Oswald. Com W no meio e D mudo no final. E creio que esta grafia off-broadway para a época o afetou em muito. Pois, em meu modo de ver, ele sempre tentou ser aquilo que nunca foi preparado para ser.
Quando se é criança, normalmente se é cruel. O mendigo sem braço bate à sua porta para pedir um prato de comida e você indaga onde ele perdeu o membro. Novamente aos mais jovens, da década de 50 lembro que era normal que quem morava em casa, como eu, recebesse a visita de pessoas que necessitavam de ajuda. Minha mãe tinha o menu do mendigo e sempre um ou dois pratos de comida junto ao forno. Hoje recebemos a visita do ladrão e temos que ter pronta a carteira do ladrão, aquela que tem os trocados que não lhe fazem falta.
Mas voltemos ao nosso Osvaldo, com V, no meio e O, no final.
Seu apelido era Vavá. Logo querer ter a pretensão de ter o W era por se dizer inútil, já que ninguém pode ser chamado de Wawá. E ademais que quando jogávamos bola na rua, e isto já nos situa no final da década de 50 e inicio da de 60, o grande centro-avante brasileiro se chamava Vavá. Que não era Osvaldo e sim Edvaldo Izidio Neto.
Não é a toa que o nosso Vavá, era um péssimo centro avante, mas aquilo parecia ser o que ele queria ser, pela similitude de apelidos. Embora como lateral batesse uma bola bem acima da média. O mesmo aconteceu em sua vida profissional. Ele tinha um talento bárbaro para as artes. Desenhava bem, mas seu pai, um nativo de Trás dos Montes, que de tamanco atendia seus fregueses em seu bar, queria que seu filho fosse doutor e em médico nosso Osvaldo se formou a contragosto. Casou cedo, com uma contra parente por iniciativa das famílias e foi assim que o perdi de vista
Um dia, por volta dos anos 90, li que o nosso Osvaldo estava expondo pela primeira vez em uma galeria na zona sul do Rio. Fui lá. O encontrei o abracei e lembramos dos velhos tempos. Ele deixara a medicina e se divorciara da prima de terceiro grau. parecia um menino em um parque de diversões. Faltava-lhe algo como pintor, mas o importante é que o vi, pela primeira vez, feliz. Pleno de si.
Descobri que o velho amigo, finalmente conseguira ser aquilo que o destino o privara no início de ser. Sua assinatura no canto inferior esquerdo de sua obra, tinha finalmente a grafia que ele merecia; Oswald.