quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

NADA COMO CONHECER O MEDEIROS


O AMIGO DO MEDEIROS






Chegar ao destino é sempre uma alegria. Será? Acredito que nem sempre? Nada posso dizer das autoridades de imigração dos principais aeroportos brasileiros. São rápidos para conosco brasileiros e nos atendem bem. A passagem é pouco penosa. O chato é o tempo de espera pelas malas, somado as cabulosas insistências das mocinhas que o tentam convencer a gastar seu rico dinheirinho no Free Shop. Que de Free só tem o nome.

De posse de suas malas, você dirigi-se a policia federal responsável pelas imposições da leis alfandegárias. Rapazes engravatados com sorriso de pasta dental. Completamente alheios a qualquer sentimento que não o seja de deixá-lo irritado Deste vez eu quase perco a paciência. Imaginem que três mulheres a minha frente, unidas com um total de 12 malas, nem foi parada pelo inspetor que acenou para que elas saíssem direto. Eu e minha pequena mala de mão tivemos que entrar na fila dos inspecionáveis.

Mas isto não nada se levar em consideração que na terra da garoa caía um pé d’agua e evidentemente n’ao havia taxis suficientes. A espera em uma fila que dava a volta no quarteirão é indescritível, pois, pessoas agem à irritação de forma distinta. Um casal de britânicos pouco a minha frente liam em pé. Uma nordestina possivelmente advogada e certamente muito mal humorada prometia processar a companhia responsável pelo transporte afirmando que eles tinham uma reserva de domínio e não os carros suficientes para prestar o serviço assinado em contrato. As crianças, sentam aonde querem e dormem. Dois jovens se beijavam e um grupo de japoneses não entendia nada do que estava acontecendo. Impressionante o fato de onde você for ou estiver sempre encontrará um grupo de japoneses. Eles nunca estão sozinhos, sempre em grupos e com máquinas fotográficas. Lembrei-me de Lubec, ao norte da Alemanha, quando ao visitar a casa de um de meus escritores favoritos, Tomas Mann, deparei com um três ônibus, infestados de japonêses a invadi-la. Foi uma cena tão chocante que nunca mais a esqueci.

E falando em cenas chocantes, no domingo, cedo pela manhã estava eu no aeroporto de Guarulhos, a caminho de Porto Alegre, quando um grupo de sãopaulinos a caminho de seu jogo contra o Goiás tomaram conhecimento que a agencia que havia lhes vendido os tickets, de alguma forma tinha os cancelados junto a TAM. Havia um em especial, que dizia que iria quebrar tudo se não assistisse a aquele jogo. Tinha cara de babaca, estava uniformizado que nem um babaca e com o correr do tempo provou ser um babaca. Aglomeraram-se. Deviam ser no mínimo uns 50. Todos, como o babaca, uniformizados e irados com a situação. Aterrorizavam as atendentes.

Um chegou com o telefone dizendo ter o dono da agencia na linha e que garantira a ele, o problema ser da TAM. Não da agencia. A supervisora dizia que nada poderia fazer. Se a turba quisesse comprar novos bilhetes, teriam que se sujeitar a disponibilidade no vôo. Foi um caos. Juro que se não tivesse um compromisso em Porto Alegre com um cliente que estava a minha espera no aeroporto, teria adiado minha passagem para assistia o final daquela pantomima. Nunca tive instintos suicidas, mas juro que me deu uma vontade imensa de gritar Flamengo e ver a merda que iria dar.

Minha malinha teve que novamente viajar na seção de cargas do avião. Não havia violoncelos desta feita, mas gente com malas maiores que a minha. Sentei-me ao lado de uma senhora que possuía uma pesada, que a ajudei a colocar no compartimento sobre nossas cabeças, e não conseguindo mais controlar minha curiosidade, perguntei como ela havia conseguido embarcar com ela.

Ela me olhou e respondeu: Conheço o Medeiros. Pois é, eu não sei quem era o Medeiros, mas quando você viajar pela TAM e precisar fazer algo que é proíbido a todos os outros passageiros, procurem o Medeiros em Guarulhos. Ele é capaz de resolver o seu problema. Aliás, isto é uma pratica usual no Brasil. Em meus tempos de balada, aprendi que sempre era melhor conhecer-se o porteiro e o garçon da boate do que propriamente o dono da mesma. Era sempre o paulista da mesa ao lado que pagava parte de minha conta e nunca precisei esperar em fila para entrar.

Guardei o nome. Medeiros. Dá próxima vez quando coibirem de minha pequena mala viajar comigo, estufo o peito e brado: sou amigo do Medeiros