ANGUSTIA
Vocês por acaso, em alguma fase de suas vidas tiveram a oportunidade de ler um romance baixo astral assinado pelo escritor alagoano Graciliano Ramos intitulado Angustia? Se não fiquem cientes que trata-se de uma muito bem contada história de um funcionário publico preso a seus pensamentos mórbidos e absorto em seu próprio mundo de alucinações e penúrias.
O romance o prende, de seu inicio a seu fim, pois o citado funcionário público, vai se consumindo internamente, pelo amor a uma vizinha que engravida de um cara a quem ele despreza e seu irredutível desejo de matá-lo. Tudo isto descrito em um cenário de pobreza, podridão e muitos problemas existenciais.
Creio que Graciliano Ramos, quando o escreveu na década de 30, vivia os seus próprios problemas existenciais, acusado que era, de ser comunista. Pois, bem passaram-se mais de 70 anos e vejo que encontro pessoas como este funcionário público rondando nossas vidas com seu pessimismo crudelíssimo.
Tenho um amigo, que me dou o direito de preservar seu nome, que é o próprio Hardy Ha Ha, aquela hiena personagem do cartunista Hanna Barbera, que vivia se lamentando a seu amigo otimista leão: “que dia que mes, que ano, nós nunca sairemos vivos daqui “. Ele é o pessimista encarnado na pele de um ser humano. Mas afora isto, um grande cara.
Pois bem, ele anda sorrindo, com os dentes arreganhados, com a possibilidade do mundo poder terminar em 2012, como o calendário Mais assim o prevê. Não que a desgraça possa trazer felicidade a si. Mas pelo simples fato de provar o seu ponto, já que sempre foi um eloqüente defensor do mico rei e emérito amante das baleias.
Fundador do partido verde e temente a qualquer tipo de profecia, sejam elas Maias ou oriundas de Nostradamus, ele ainda tem algumas características que o fazem a viver tormentos como o personagem de Graciliano Ramos em Angustia. Aliás, cabe-se não deixar a desapercebido, que este é um de seus livros de cabeceira, assim como as profecias de Nostradamus. Mas existiram outros pontos que o ajudaram a formar seu perfil e seu caráter. A começar que sempre morou no Grajaú e se tornou, desde garotinho, um inveterado torcedor do America, o rubro carioca. Esteve presente, ainda muito pequeno naquela final entre America e Flamengo, que deu o tricampeonato ao último, mesmo seu time tendo vencido, se não me engano, de 5 a 1 a segunda partida e aclamado favorito da última. E para completar este quadro de desolação é dono de uma casa funerária.
Este meu amigo provavelmente tenha uma afeição ao America por terem como símbolo o diabo, já que sempre odiou samba e no carnaval desfilasse nas grandes sociedades – creio eu que já extintas e colocadas fora de moda – pelos Tenentes do Diabo. Politicamente ele votava no Enéas, até encantar-se pelo Gabeira e seu partido verde.
Em minha rápida passada pelo Rio de Janeiro, semana passada, o convidei para almoçar. Tinha vindo de um jantar na noite anterior com amigos de Recife e criadores de cavalos da raça mangalarga, dentro de um clima de alto astral, com muita champanha e cordialidade. Nos encontramos ali no Garcia e Rodrigues do final do Leblon.
Para minha surpresa não o via tão alegre e bem disposto. Perdera momentaneamente aquele ar sorumbático de final de último ato de Sheakespeare. Evidentemente que sua primeira anunciação foi: “eu não disse?” Evidentemente se referia a possibilidade do mundo acabar em três anos. Mas na realidade descobri, no decorrer de nosso papo, que muita coisa diferente havia acontecido em sua vida. Casara-se de novo, mesmo sexagenário, foi brindado com o aparecimento de um novo filho e estava seguramente muito bem em seus negócios.
Todavia, a razão de seu súbito e surpreendente contentamento, advinha do fato do Romário ter trazido de volta o América para a primeira divisão do campeonato carioca. Fez questão de pagar o almoço, encharcar-se de cerveja e não parou de falar um minuto sequer. Tornou-se de uma hora para a outra, a versão do Sílvio Santos.
Penso como mudanças, as menores que sejam, como podem se transformar em forças locomotrizes em sua vida. Como elas podem trazer um novo ânimo, um diferente alento para a sua vida. Um renascer constante em sua existência. Todo e qualquer ser humana necessita de mudanças. Ele não pode permanecer em seu mundo imutável. Precisamos enfrentar os desafios de novas conquistas. Precisamos viver as novidades de um novo amanhecer. Nunca devemos viver atolados em nossas mesmices. E nisto, creio que o Brasil ajude a qualquer um, já que nada em nosso pais, pode ser considerado igual ao acontecido no dia anterior. Somos um poço de mudanças e incertezas. O mensalão do senhor Arruda de hoje, é distinto do mensalão do PT de anos atrás. Os Valeriodutos são distintos, de distantas cores e desenhos. Mudam-se as cuecas, as meias e até as desculpas esfarrapadas de gente de nossa politica. Um mar de novidades.
Eu, que vivo aqui em Miami, me sinto obrigado a visitar, sempre que for possível, o Brasil, para recarregar minhas baterias. Agradeço a Deus, lá ter nascido.