terça-feira, 30 de março de 2010

DIÁRIO DO PANTANAL - 4 - UMA LUTA DESIGUAL

Pantanal - Renato Gameiro  e seu primeiro peixe 

O MEU PEIXE DE CADA DIA

Quando nos deparamos com algo inaceitável ou excessivamente repulsivo, a reação normal de um ser humano relativamente normal pelo parâmetros vigentes é a de reagir contra a ação que o abomina. E quando em situação análoga somos surpreendidos com algo aceitável ou excessivamente adorável? Qual seria  a nossa reação dita como previsível. Abraçarmo-nos a ela?  Deveria ser assim, mas nem sempre o será, pois, nos julgamos normais, mas nem sempre o somos.

Nunca havia pescado em minha vida. Isto dito por um cara que completa este ano 60 anos, pode parecer uma situação esdrúxula. Puxa, o cara não teve infância como o nosso amantíssimo presidente. Coitadinho, votemos em mais um filho de Brasil, afinal minha mãe igualmente nasceu analfabeta. Só foi alfabetizada a partir dos quatro anos de idade...

Outrossim, defendo-me. O urbano, como eu, acostumado ir a peixaria quando necessita de peixe, acaba por se afastar daquilo que é uma ação normal, diária, principalmente para aqueles que necessitam da pesca ou da caça, como meio de sustentação. E até mesmo por meros motivos de  recreação.

Existe toda uma temática na pesca do pantanal. Áreas preservadas, tamanho de peixes escalonado por espécies, fiscalização constante por parte das autoridades, cadastramento dos pescadores, coisa que me deixou perplexo pela forma como é levada. Levada a  sério na teoria, mas não muito na prática, por ambas as partes: Seria digno de palmas, pois a ideia básica seria a da preservação de certas espécies. Todavia, muito peixe foi pescado, pelo grupo que participava e 80% voltou ao rio, por não estar dentro das normas exigidas. É religioso. É cumprido a risca. Mas determina, ao mesmo tempo denuncia a escassez do viável a se pescar. E aquelas reservas ditas como proibidas a pesca, foram invadidas por dezenas de barcos provenientes dos 5 ou 6 grandes barcos atracados na região.

Por isto talvez, esteja difícil de se achar peixe grande. Ou eles adquiriram experiência e fogem das iscas, ou estão raros de se encontrar, pois foram pescados a revelia. Não tenho conhecimento de causa, para afirmar.

Em um barco com o Ronaldo Cristiano, o Barnes para o Afonso, nosso barão comodoro, seguimos com um guia, o Barata, aquele que conhece todos os meandros do rio. Saímos a procura numa tarde muito abafada de peixes, para mim qualquer um servia, desde que nadasse. É impressionante como o barqueiro se embrenha nos braços do rio e acha a região onde se encontra infestada deste ou daquele peixe.

O dado curioso, o rio se move, e com ela a vegetação formada por verdadeiros cachalotes que nele bóia. Assim a planta baixa de nossa expedição, modifica-se. Aquilo que era entrada, pode estar bloqueado segundos depois, como num cidade em que as mãos das ruas e seus acessos pudessem mudar a cada hora. Mas Barata conhece as estrelas do céu, os picos das serras adjacentes, enfim os aromas e sabores locais. Sem pensar, o moleque da terra sempre acha o seu caminho, por isto neles confiamos e colocamos em suas mãos a esperança de achar o peixe procurado.

A pesca é um jogo de gato e rato, onde o rato tem a vantagem de estar invisível. E o gato de ser o ser pensante. Dentro das necessidades normais de ser paciente e ter o tato em seus dedos de sentir o toque da presa, que se esgueira entorno da isca esperando saboreá-la sem ser capturada pelo traiçoeiro anzol. São minutos que podem se transformar em horas, pois, as piranhas estão em todos os lugares a delapidar sua isca, e Barata é o primeiro a pedir. Não fisgue, é piranha.

De repente você sente aquela pressão mais profunda. É hora de dar um pouco de linha. Deixar aquele que quer capturar sentir-se mais seguro. Um pressão um pouco maior de alguém que está se deleitando com o quitute oferecido. Hora de fisgar e recolher e inicia-se a luta entre o homem e o peixe. A figura do velho pescador de Hemingway me vem imediatamente a mente.



Peixe grande seu Renato, incentiva  Barata. Vai fundo que este é teu, completa o Ronaldo. É a sensação da primeira conquista, como a primeira namorada, o primeiro beijo, o novo emprego que se inicia. Você pisa em terreno desconhecido, mas tem a nítida noção que está no caminho certo. Finca os pés no fundo do barco, sente o caniço querer sair de suas mãos, fisga novamente e recolhe a linha. A vara se verga, luta para sair de suas mãos. Você sente um pouco de dor. Mas aquela dor gostosa. Você mantém, a serenidade, não se deixa levar pela ansiedade. Passa a ser um jogo de xadrez. Novamente fisga e recolhe. É o inicio de uma luta entre homem e peixe. Depois de segundos, retém a vara e não mais fisga, apenas recolhe. Sobe a vara e quando a desce recolhe, num movimento rítmico atraindo o peixe para seu barco. Você tem a sensação que a presa está em suas mãos. Mas a luta está em sua metade. Vencida em seu primeiro round. O dos pontos. Mas você necessita do Knock out.

Todos a sua volta torcem por você. O pobre do peixe não tem torcida ele apenas luta para morrer de forma digna, sem rendição. Resta trazê-lo para o barco e não deixar que a linha se rompa ou o caniço se vá. Fisga, recolhe.

A luta se intensifica. Cada segundo que você recolhe mais difícil se torna fazer o molinete trabalhar. E aí vem a sua mente, é Pacu que gosta de ir ao fundo do rio? É Pintado que tenta se livrar ziguezagueando de um lado a outro do barco. Dourado que pula? Araia que se planta no fundo? Ou o pobre do Cachará? Piranha não é, pois, a pressão não é forte. Recolhe, recolhe. A luta continua, mas suave a seu favor. E então a visão de sua presa aparece. A luta está ganha, resta trazê-lo para bordo sem machucá-lo ainda mais. Cansado ele dá adeus a seu mundo e ao barco se dá.



Foi meu primeiro pintado. 65 centímetros, 15 abaixo do permitido para se pescar se não for para ser comido. Minto, não o comerei, mas meus amigos sim e o retenho no barco, com jubilo em meu ser. Egoísmo de iniciante. Sina de predador que todo home o é.

À pobre criatura foi dado o veredicto da morte. De oponente passa a troféu e isto confesso que me incomoda. Êle estava lá em seu mundo e eu fui desafiá-lo para que terminasse no meu. Minha mente imediatamente absolve-se tomando consciência, que ele aceitou o desafio por que quis. Se não fosse eu, seria um outro, talvez mais experiente no dia seguinte. Ou quem sabe no ano que vem, quando tivesse o tamanho para ser pescado, sem direito a habeas corpus ou julgamento milimétrico.

Venci uma pequena rusga, na verdade por mim iniciada. Fui provocar a quem nunca mal me fez. Tive a vantagem do cérebro, meu inimigo o da invisibilidade. Foi uma boa luta. Outras terei. Não sei se as ganharei, mas depois de meu primeiro peixe, que depois descobri não ser pintado e sim um cachara, posso dizer a plenos pulmões: sou pescador.

segunda-feira, 29 de março de 2010

DIÁRIO DO PANTANAL - 5 - AS SANDÁLIAS



AS MINHAS SANDÁLIAS HAWAIANAS.

Bom dia amigos, aqui estou eu de malas e bagagens, pulando de avião em avião, e voando sob as asas da TAM. Aeronave vazia, que não é normal, a ser servido por aquilo que oferecem abordo.

Todos sabem que comida de avião, é plástico com um pouquinho de sal, mas ninguém recusa o agrado. Os que dormem, como eu, logo que o trem de pouso abandona a pista, são gentilmente acordados pela aeromoça, que com aquele sorriso padrão de modelo de pasta de dente, perguntam o que deseja tomar. A sua frente com a mesa por ela gentilmente baixada, está o embrulhinho, uma verdadeira caixa de surpresas: um sanduíche de queijo com presunto? Um omelete derretido? Umas torradas com queijo Polenguinho? Não importa, o que vier, por incrível que pareça, você automaticamente traça, pois, faz parte de sua viagem, como o celular previamente desligado, de forma obrigatória sob o olhar reprovativo de uma menina, que tem a idade de sua neta. Não tenho neta, mas se tivessem poderiam estar beirando aquela idade. Talvez com um pouco de exagero...

Na verdade sem exagero, porque a TAM, parece buscar suas aeromoças, em um berçário. Ou diretamente vindas frescas da fazenda. E aqui no Brasil o carrinho do lanchinho passa duas vezes. Você tem direito a repetir, principalmente em vôos vazios.

Você só nota isto, quando mora como eu nos Estados Unidos e viaja por companhias como a Jet Blue e a Southwest, as chamadas companhias amendoins, porque na verdade são as únicas coisas que distribuem em seus vôos e quase sempre sem direito a repetição.

Confesso que até os snacks norte-americanos – aqueles que você nunca seleciona em um supermercado - eu traço. Mas apenas quando  estou sozinho, pois, minha esposa, a Cristina, os barra, pelo excesso de sódio e sal, quando presente.

Viajar em trechos curtos, lhe obriga a ler ou a escrever. Pelo menos isto é o que acontece comigo. Em Porto Alegre pouco antes de embarcar, tomei conhecimento de um comentário da amiga do facebook Gorete, em que ela comenta sobre uma foto que publiquei de uma menina ribeirinha, cuja expressão me cativou. No comentário a Gorete afirma que a sintonia que aquelas pessoas tem para com a natureza, que descrevi em minha cronica, o Ribeirinho, está no fato da vida quase que inteira do pé no chão. Imediatamente saquei que era aquilo que faltava na minha dissertação.

O pé no chão. O contato entre a superfície, fria ou quente da terra batida com aquele ponto que é a única parte de seu corpo em contato quase que em tempo total com a natureza: a palma de seus pés.

Felizes aqueles que na infância puderam brincar descalços  aproveitando sua infância, mergulhando nos rios, subindo nas árvores, jogando amarelinha ou mesmo bola ou bulica, com o nariz colado ao chão. Não tive este ensejo. O asfalto do Rio de Janeiro era muito quente, e as areias de Ipanema, mais ainda. Cresci provido de sandálias havaianas. Acho até que trouxe as primeiras do ventre de minha mãe. Elas me separavam dos dejetos caninos e dos cacos de vidro de garrafas de cerveja. Tive-as de todas as cores. Diferenciando ano a ano apenas no tamanho.

Poucos, eram os ribeirinhos que notei estarem usando qualquer tipo de sapato. Os poucos que não estavam descalços, usavam alpargatas (para ser bem paulista, pois, meu destino hoje, é Sampa). Sapatos, deviam estar reservados e limpos para Sábado e Domingo. Na missa e no arrasta pé ao som de uma sanfona.

Sou um admirador da natureza, não um participante dela. Na verdade eu toco o mundo com a ponta de meus dedos e minhas centelhas de imaginação. Nunca fui tocado por ela, pois as havaianas obstruíram esta interação. As havaianas e minha mãe, que sempre me preveniu que o chão era sujo, e sujeira tinha que ser mantida fora de casa. Todavia trazia nossos cachorros para casa, o que aumentava a chance de poluição ambiental de nosso lar, já que eram quatro patas ao invés de duas. Não importa.

Nunca tive um corpo livre, daqueles que vislumbrei as margens do Rio Paraguai, povoados de imaginação, conectados direto com a terra batida e a lama da margem Corpos abertos a todas possibilidades, desassociados de medo ou receio de uma furtiva formiga, ou de um espinho solto de uma planta. Corpos sem comprometimento com o futuro, pois, vivem e sentem o presente, pois facilmente esquecem o passado. Corpos que sonham como nós, mas possuem personagens menos dramáticos. O cão amigo, a árvore protetora, o sol que sempre dá as caras, os raios que o emudecem, o cheiro do peixe frito pescado pela manhã, a fragrância do manjericão plantado, a visão dos turistas idiotas que, a toda semana os fotografam de suas grandes embarcações. Enfim, sonhos que o fazem esquecer, por horas as agruras do dia a dia.

Mas sonhos sem morgages para pagar, prestações a se saldar, crianças a se preocupar, preocupações de problemas que só você mesmo tem a capacidade de criar. Coisas, que a dita civilidade, o vicia a viver.

A sintonia que faltava do pé do chão com a natureza, levantada pela Gorete, e faltante em minha crônica de ontem, agora aqui esta explicada e exposta.

Se sou um urbano, e nunca me senti tocado pela natureza, a culpa evidentemente que é de minhas sandálias hawaianas. Elas podaram a minha conexão com o real, o factível. Hoje sou um escravo dos sapatos. Sem eles me sinto nu.

sábado, 27 de março de 2010

O DIÁRIO DO PANTANAL - 3 - O RIBEIRNHO



O RIBEIRINHO

Outras comunidades ribeirinhas encontrei pelo caminho traçado pelo capitão de nossa embarcação. As fotografei, uma a uma devassando sua intimidade. Expondo seus prazeres ao mesmo tempo que suas necessidades, com as lentes de minha camera. E ceio que um novo mundo surgiu a meus olhos, hoje muito viciado às grandes metrópoles e ao charme urbano.

Centenas de seres, invisíveis a quase todos nós foram por mim captados. Homens, mulheres crianças, jovens e até animais. Casebres, palafitas, barcos e roupas no varal, atestaram sua vidas, seus amores, seus desencantos e dissabores. Tudo preto no branco, embora fotografado a cores.

Uns me sorriram, outros me acenaram, alguns olharam-se com indiferença, muitos me ignoraram. Mais houveram também os que demonstraram surpresa e timidez. Eu era na verdade a paisagem. Eles a vida. Eu apenas a paisagem passageira, que em nada iria mudar suas vidas ou maneira de pensar.

Nunca gostei de tratar pessoas como cenário. Sei que a cada olhar, a cada sorriso, a cada aceno ou mesmo a cada indiferença, existe alguém que levou anos para se formar. Alguém que talvez não verei jamais, mas que será visto por milhares se as fotografias publicar. Seria justo expor vidas que não lhe pertencem, pelo simples prazer de desnudar uma outra realidade?

O ribeirinho parece estar alheio a política, a economia e mesmo aos destinos de uma nação. Se vota o faz por obrigação, pois, sabe que depois de eleito, aquele que seja, não olhará por seus interesses, pois, ninguém até aqui o fez. Porque mudaria? Dona Dilma? Sei lá quem é. Serra? Pelo menos este deve servir para cortar árvores. Esta duvida não toma a mente deles um minuto sequer. Embora as cestas famílias, aqui fartamente distribuídas, o façam lembrar que foi o cara que deu.



O ribeirinho tem uma coisa em comum: ele luta pela sobrevivência. Todo dia sai a cata de seu peixe. Como aquelas duas mulheres a beira do rio a limpar o seu Pintado. Existiriam opções para eles? Não sei. Assentá-los em outro lugar, mais produtivo? Impossível. Eles aprenderam a dominar seu mundo. São brasileiros de caras diferentes, mas de mesma constituição. Para que transformá-los em membros de movimentos sem terra? Para lhes torcer o perfil, esculpido em anos de existência? Moram onde poucos querem morar. Servem a região. São felizes consigo mesmo, acredito eu, pelo que senti em suas expressões.

Dali com sorte um sai e se transforma naquilo que rotulamos, para nossos egoístas padrões, de alguém. Ele não precisam sair e vencer fora de seu território em comunidade maior, para provarem que são alguém Eles o são. Você pode ver isto em seus olhares. Na maneira com levam a vida. Eles nascem, eles vivem, eles amam e eles morrem. Como todos nós. Porque diferenciá-los? Porque rotulá-los? Porque deixar que apenas a imagem seja captada? Porque não adotá-los? Isto é que um governo decente deveria fazer, antes de pensar em adotar o Haiti ou outro pais qualquer que lhe renda um voto a presidência da OEA.

O Brasil é grande demais. Cada dia descubro mais dele. Ou melhor, ele se deixa descobrir. Não sei hoje se  sou o afortunado por ter nascido em família de médio poder aquisitivo no Rio de Janeiro. Teria tido uma infância mais feliz que aqueles meninos que brincam a beira do rio, pegando jacaré no Arpoador? O meu Rio e o rio deles, também tem algo em comum: estão infestado de piranhas. A piranha não ataca a gente não, diz José, tímido, envergonhado, de trocar algumas palavras com aquele estranho. Só quando muito famintas e em bando. O perigo é o sangramento. Ai ela vem que nem tubarão. Gelei, pois, minha gengiva de vez em quando sangra, qunado a escovo...



Sinto-me um expedicionário português a ter contato com um mundo em que nunca pisara antes. Trocarei espelhinhos por algo que possa me interessar como souvenir? Não. Isto não farei. Olho aquele bando de meninos a cair de um cipó preso a uma árvore, cujas raízes beiram a margem. Aquela jovens que se banham no rio, barrento, para lavar seus cabelos. Vejo olhos curiosos, outros ariscos e até zombeteiros. Sinto a expressão de preocupação na senhora gorda e mais velha, que já entregou seu corpo a seu destino, sem uma preocupação, sem nenhuma vaidade. Os filhos criou, os netos há de criar. Para que pensar em outra coisa qualquer?

Analisei seus olhares, suas expressões e descobri que são gente como a gente. Alguns mais orgulhosos até do que sou. Cientes de sua nobreza. Não se vergam ao cunho daqueles que ali vem para esquecer de seu trabalho ou pelo simples prazer de conviver com seus amigos e pescar. Nós somos a paisagem. Passageira, fútil, mutável e perecível. Facilmente substituída por outra, em um outro barco na semanaseguinte. Outras câmaras, outras caras, outras curiosidades. Como são bobos estes turistas...

Eles não. São matéria viva. Donos de toda aquela paisagem, por direito e daquele chão por posse. O rio, as árvores, o céu, as rochas e tudo que nela vivem, a eles pertencem. Cabe a nós, agradece-los de nos deixar usufruir por dias de seu mundo, sem concreto e trânsito.

Quando vejo esta gente, tanta vontade me dá de ter um poder de neles pensar. Não mudá-los, não tentar melhorar a vida dos mesmos, que não conhecemos, apenas imaginamos. Eles podem estar felizes com o que tem e desfrutam. Precisaríamos chegar e apenas dar o nosso cartão deixando claro, que a qualquer necessidade estaríamos presente. Um ar condicionado numa escola de teto de zinco? Um posto de saúde equipado e de mais fácil acesso? Um financiamento para o desenvolvimento de um artesanato local. Um bolsa de estudos para aqueles que quisessem sair mundo afora? Não sei. Porém, é melhor que esmola em troca de voto. Este que assim estivesse preocupado, e para tal fora eleito, tinha que ir lá, sentar, e ouvir. Mas do que falar, que nunca na história deste pais...



O brasileiro na verdade não necessita sequer de adoção. Ele tem fibra, ele tem garra e Deus nos deu a maleabilidade, que muitos confundem erroneamente como jogo de cintura, que para mim combina mais com malandragem. O brasileiro ribeirinho tem noção de sua força em sua arte de sobreviver. Luta todo o santo dia com garra, por seus sustento. E não fracassa em sua luta, momento algum. Mata um leão a cada dia e sorri a passagem dos barcos. 

O encara de cabeça levantada e seu sorriso não é pérfido. Trás a humildade e a honestidade, daquele que sabe de seu valor. Precisa apenas ser ouvido e ajudado de uma forma digna. Repito, não com esmolas para vender o seu voto. Pois, para mim ele funciona como peixe impossível de ser pescado.

DIARIO DO PANTANAL - 2 - A FELICIDADE DE UM MUNDO PRÓPRIO




MATE COM LEITE

Você já experimentou mate batido com leite, gelo e bem pouquinho açúcar? Eu nunca até então, pois é, eu experimentei e amei. Coisas de Campo Grande, assim como o mate verde geladinho de Corumbá: o mate Chimarrão Libra. E eu que pensava que chimarrão era coisa só de gaúcho.

Sei que São Paulo tem, mas Rio de Janeiro não tem não. Hallandale, nem pensar!

Esta tipicidade local, são coisas que o afastam da monotonia de seus dia a dia. E não há coisa melhor numa viagem com fins recreativos do que você por 7 dias abolir tudo aquilo que o escraviza em sua faina diária.

Pois saibam, existem muitas coisas que a gente não conhece, mesmo achando que está num estágio que sabe tudo. Eu por exemplo achava que tinha uma boa idéia do Brasil. Tenho, não vou negar. Viajei por quase todos os estados brasileiros e conheci muito de cada lugar. Mas depois de conhecer o pantanal, cheguei a conclusão, que conhecia apenas uma parte, e que esta região de nossa nação, tem também seus aromas e sabores. Peculiares, porém que impressionam até um cara urbano como eu, que achava que peixe nascia na peixaria. E eram ali criados desde que eram pequenininhos.

Estar ilhado em um barco, subindo o Rio Paraguai, mesmo que este barco tenha todas as amenidades que a gente com idade exige, mas sem internet e ligação celular, me pareceu nas primeiras horas, um filme de terror sem precedentes. Daqueles que a gente morre de tendo seu sangue sugado, bem devagarinho lá no final da película, pelos caninos do Drácula.

Acordar no primeiro dia e ver o nascer do sol no pantanal só têm uma definição: nada igual. Ele nasce embaçado, tímido, bem pequenininho como não quisesse interferir ante o gigantismo da natureza a quem vem acalentar.

Digo e repito, pois, repetitivo sou. Sou um cara urbano, que não acampa, não anda em trilha, que adora um chuveiro quente e uma cama macia. E, acima de tudo,  dotado de uma inexequibilidade perante um mosquito ou uma onça pintada. Não tenho cacoete de Indiana Jones. Isto é flagrante. E meu 18 companheiros de viagem, descobriram isto em minutos. Impossível que fosse o contrário. Assim, contra todos os meus princípios, fui obrigado a pescar. Mas esta é outra história.

Sempre tive em mente que a mais valiosa natureza é a morta, por isto ela esta sempre acima das mais imponentes lareiras do planeta. Mas a viva, que eu pouco conheci e estou vivendo aqui, é bárbara e impossível de descrevê-la. Mas descrever o indescritível sempre foi o meu forte, pois trabalho com cavalos de corrida, logo vou tentar de alguma maneira, fazê-lo.

A medida que você sobe o rio e se afasta da civilização, tanto a água quanto a vegetação, regeneram-se. Ou melhor mostram o viço, que com a desculpa de um pseudo desenvolvimento, o homem a fez perder. Tudo se torna cristalino, mais verde, natureza viva, que mexe com sua carne, pois, nada aqui, parece imputrecido”. Tudo tem aquela cara que a gente gostou de ver em Avatar.

James Cameron deve ter passado pelo pantanal, para ter a inspiração de montar um mundo como o de Avatar. Nós brasileiros o temos aqui, bem pertinho, e nos recusamos a visitá-lo e conhecê-lo. A bem da verdade é mais barato se ir a Miami do que penetrar neste mundo que é o pantanal. E não seria uma ironia afirmar que o mall de Bal Harbour é substancialmente melhor que o mercado boliviano de Puerto Aguirre e sua casa China. Mas isto são outros quinhentos...

O dia cresce, esquenta mas não o afugenta. Ao contrário o atrai, o escraviza no deck da embarcação a vislumbrar uma paisagem constante, mas que se refaz a cada minuto. A medida que as coisas cristalizam-se à sua frente, você tem a nítida noção que aquele é um outro mundo. E quando depara com uma mãe e uma filha, ribeirinhas, sentadas a beira do rio a limpar o seu pintado, completamente alheias a humanidade que desfila à sua frente em um grande barco, você assimila sua inexequibilidade. Uma verdadeira porrada na testa! Aquela mulher e aquela criança dentro de seu mundo, podem ser mais felizes do que eu e você. Pois, elas são donas de seu próprio mundo.

Um mundo que dominam, já que conseguem em seu dia a dia o sustento de seu dia. Seres humanos que compreendem as mudanças de um céu anil para um plúmbeo, que aqui acontece em questão de segundos, pelo simples soprar do vento. Não precisam de uma menina bonita e com treinamento de voz, para lhe dizer a temperatura do dia seguinte, ou se você deve levar de casa consigo, um guarda chuvas para o seu trabalho. Seres humanos que não se pasmam com a natureza como eu, por fazerem parte dela. Que aceitaram alhear-se de uma civilização que as tratam em estado de ausência, enfrentando as adversidades de uma vida a sós. E que não se sentem seres viventes em extinção. Pois, não são matéria física, perecível, apenas mutável e integradas a ambiência.

Seus limites não são placas ou advertências, são árvores, rios e pedras. Pontos da natureza que determinam sua posição na infinitude de seu entorno. Que as presentificam. Que as ornam.

Talvez não tenham uma televisão para saber a que contas andam as crises financeiras mundiais. E se tivessem, que diferença isto faria a elas? Possuem o seu próprio mundo e a ele dominam. São as administradoras de sua própria existência. 

Adorei fotografá-las, embora por um segundo senti que aquelas duas mulheres pudessem pensar tratarem-se apenas de algo interessante em uma natureza, e não se sentissem bem de serem tratadas como paisagem. Não responderam ao aceno de quem a meu lado estava. Compreensível.  Quantos barcos por aqui passaram? Quantos de seus passageiros não sentiram o momento e o eternizaram em uma foto? Não tenho idéia. Não são muitos que olham e vêem. E isto a mim não importa. Eu, vi, senti e fotografei. E para mim isto é que importa. Isto e o mate batido com leite, gelo e um pouquinho de açúcar.

quinta-feira, 25 de março de 2010

DIÁRIO DO PANTANAL - 1 - UMA LIÇÃO DE VIDA




UMA MALA QUE SE NEGA 
A SER DESPACHADA ANTES DA HORA

Sempre que entro num avião ou da Gol ou da TAM, tenho a nítida sensação que acabei de penetrar em algo semelhante a um destes sitios de relacionamento. Você, por exemplo, para ir do Rio de Janeiro para Corumbá, tem que baldear em São Paulo e Campo Grande. Imagine o pobre coitado que tem que ir de Porto Alegre a Belém? Ele será capaz de conhecer no barato, 10 a 12 pessoas diferentes, basta ter boca e ouvidos. E boca e ouvidos são coisas que o brasileiro normalmente tem.

Pois é, e ainda com a vantagem que dentro de um avião, muitas pessoas se revelam. Falam mais do que o normal, ouvem mais do que o fazem em um dia normal, fora deles. Porque? Porque muitos não se sentem bem dentro de uma aeronave, mais ainda agora que os aviões andam abarrotados de passageiros. Mas não se trata apenas disto, a altitude e o confinamento já está provado, que inibe ou ao contrário, solta a franga que alguns tem dentro de si.

Eu me divirto olhando como as pessoas interagem ao medo, ao cansaço ou até mesmo a monotonia de um vôo. Uns lêem, outros dormem, tem os que rezam e os que emudecem pálidos em suas poltronas. Todavia, existem a maior gama: a que tenta conversa com seu visinho de poltrona. Aceito que a interação social é imprescindível a sobrevivência, principalmente para um ou outro que se sente enlatado dentro de um avião. Outrossim existem papos que extrapolam as raias da razão. Outros altamente instrutivos.

A fatuidade intrínseca de alguns, diálogos, cria em muitas oportunidades, verdadeiros halos de inexpressividade, ou quem sabe de inexplicabilidade que deixam o queixo caído a aquele que observa, de uma forma mais critica, como normalmente faço, em situações como estas. Confesso que adoro me fixar em uma situação e analisá-la, imaginando que são e o que fazem os interlocutores. Por isso acho o avião, depois do jornal, a maior fonte de inspiração para aquele que quiser escrever crônicas e romances do dia a dia.

E quando o avião balança? Aliás nem é preciso, basta o comandante com aquela impostação de voz de Cid Moreira dos ares, anunciar que irão passar por áreas sujeitas a turbulências e que os cintos se mantenham afivelados, que a turma se agita. Até os descontraídos que mantinham um diálogo normal, emudecem, como que sua palavras estivessem, de alguma forma, desequilibrando a harmonia do vôo.

E eu estava naquele “mood” especial de que o caísse na rede era peixe, afinal estava indo para uma semana de pescaria no pantanal de Mato Grosso. Logo, mantive minha audição em sistema de rastreamento. Não precisei muito tempo, para captar algo interessante.



No trecho de São Paulo a Campo Grande tomei conhecimento de uma conversação levada a  efeito às minhas costas, entre uma jovem de seus 18 anos e de um senhor de maior idade. Possivelmente entre os 70 e 80. Não saberia dizer para que lado desta faixa etária, ele tenderia. Pela voz ela me parecia uma universitária e ele um velho mascate. Que daria para ser avô, ou bisavô da moça.

Embora o envelhecimento em minha opinião deva ser apenas uma coisa de aspecto exterior, que pode ser minimizado, ou melhor dito, adiado pelo controle constante na  alimentação e assiduidade para com os exercícios físicos e mentais, vejo como pior envelhecimento, o interno. Aquele que faz a pessoa se sentir velha, as vezes até inútil e com certeza alienada de uma vida, vivida a sua volta.

Aceito, embora não concorde, que poucos são aqueles que gostam de conversar com uma pessoa idosa. Eu particularmente não, adoro o contato, afinal já passei também o cabo da boa esperança. Desde jovem, sempre vi o idoso, como uma enciclopédia de vida. Alguém que pode lhe dar uma visão experiente de coisas acontecidas e uma opção harmônica do que poderá acontecer. Um minimizador de erros futuros.

O diálogo chegou a um ponto que me interessou quando a menina perguntou ao senhor, como era chegar a aquela idade com tal jovialidade. O exemplo que ele deu, me calou sobremaneira.

Ele disse que quando se chega a aquela idade, você se sente como um balão de gás, que a tudo observa mas a uma certa distância. E cujo gás está acabando. Que em casos como estes, o balão continua a subir, mas sem a leveza anterior e sem mais a certeza de se chegar a seu destino. E em sendo sabedor que não se pode mantê-lo em equilíbrio e numa rota amena, a melhor saída seria se abrigar em amigos, pois qualquer forma de afastamento, o fará dele apenas um expectador de sua própria decrepitude.

Achei a definição lógica e sana. O que para muitos pode parecer triste, o é, porém igualmente real. Todavia, pronunciada por alguém que certamente ainda não envelheceu por dentro. Apenas por fora e que acima de tudo tem a noção que não pode ser um peso na vida de quem quer que seja, mas longe de aceitar ser uma mala, encostada a uma parede, pronta para ser remetida, quando a hora é chegada.



O vi descer, caminhar para o terminal de forma rítmica e perder sua companheira de vôo que jovialmente distanciou-se dele. Duas vidas que por menos de duas horas se mantiveram unidas, pelo sorteio da vida, mas que agora se separavam, para sempre. Diminuí meu ímpeto de fugir ao sol causticante, pois tinha curiosidade de ver melhor aquele senhor. O vi tomar propriedade de sua mala e seguir seu caminho. Olhei sua mala. Mala que devia tê-lo acompanhado em muitas de suas viagens. Tinha muito dele em aspecto e constituição. Estava puída mas conservava altivez. Segui-o com os olhos até que ele desapareceu na multidão. Voltou a ser uma lembrança, uma marca em minha existência, daquelas que você dificilmente voltará a ver, mas que estará para todo o sempre em algum cantinho de minha memória a lembrar-me que quando sentir o escape de meu gás, tenho que sentar as amarras de meu balão em braços amigos, pois minha mala só será despachada no minuto final de minha derradeira viagem.

O MELHOR LIVRO DA LITERATURA BRASILEIRA


A ARTE DE NÃO LER E MUITO MENOS ESCREVER



A ARTE DE NÃO LER E MUITO MENOS ESCREVER

Não me levou muito tempo para figurar aquilo que eu era, 
o que poderia ser e como chegaria a transformar meus sonhos em realidade. 
Não porque eu fosse dotado de um talento especial, 
mas pelo simples fato de ter pleno conhecimento de minhas limitações.

Senti de cara que não seria um músico famoso, nem sequer um esportista consagrado. Minha professora de piano deixou isto bastante claro como também minhas incursões no futebol, ténis voleibol e Jiu-Jitsu objetivaram que eu poderia sobreviver, mas nunca luzir. O pavor da constatação de uma gota de sangue por sua vez inviabilizava a medicina e uma carreira policial. A  falta de sociabilidade o comércio, a eterna vergonha na cara, de ser politico, a falta de tato de ser um RP, a  incompatibilidade pelo calculo, de ser um engenheiro, o compromisso com a verdade de ser advogado, a total inabilidade manual de me transformar num pintor, escultor, desenhista ou mesmo massagista. E assim por diante.

Desfolhando a margarida, poucas opções me sobraram, entre elas o jornalismo e a arquitetura. Meu pai não gostou. Para ele, homem que cresceu no trabalho, jornalismo era sinonimo de pobreza e arquitetura coisa de veado. Decoração de interiores nem pensar. Era coisa de veado desvairado! 

Mas quando se é jovem, a primeira coisa que o incita na vida é discordar de seus pai. Ele era Vasco, logo fui torcer pelo Flamengo. Assim sendo entrei na Universidade Santa Úrsula de Arquitetura, exatamente na época que o simples fato de ser estudante já o fazia um inimigo potencial aos olhos do presidente Medici. Estranho nome este. De um despotismo acerbado durante toda a história da humanidade...

Sobrevivi a revolução, pois minha apatia para com a politica serviu de antídoto à insanidade reinante. Mas a vontade de ler e escrever nunca se afastaram de minha forma de ser. Compartilharam minha existência até aqui e creio que seguirão meu destino até os dias finais do mesmo. Que espero que não estejam tão próximos.

Li de tudo. De Iben a Jorge Amado. De Balzac a Nelson Rodrigues. De Rimbauld a Rubem Fonseca. E o resultado? Tudo que um ser humano dotado de um QI acima de símio, possa realmente imaginar. Impressionei-me, escandalizei-me, emocionei-me, exasperei-me, apaixonei-me, diverti-me, discordei, concordei, abandonei, me tornei escravo, chorei, ri e o mais importante de tudo, aprendi a respeitar a opinião e a maneira de ser de todo e qualquer ser humano.

Ai, ouro dia em uma palestra, foi-me perguntado qual foi o livro de autor brasileiro que mais havia me cativado. Perguntazinha capciosa. Seria como tentar quantificar qual a dor que mais o afligiu, ou o beijo que mais lhe trouxe prazer. Tem certas coisas que não se quantificam ou qualificam. Entre elas a literatura.

Mas apertado, respondi a pergunta: A Crônica da Casa Assassinada de Lúcio Cardoso.
Só então neste momento tomei conhecimento que este fora o livro da literatura nacional que mais me impressionara, tal a sua textura e forma de apresentação. Leitura difícil, mas prazerosa. Prende a atenção e o faz ficar ligado pela forma pela qual é descrito. Desde  montagem do personagens, até a forma como eles vão se inserindo em um contexto que inicia de seu fim e chega ao começo.

Sempre tento imaginar o que o escritor tem em mente quando escreveu aquilo que estou lendo. Neste livro, não consigo imaginar, pois, ele é escrito de uma forma distinta dos demais. Como a obra de um pedreiro, colocando tijolo sobre tijolo, sem conhecer a planta final do projeto que está construindo. Para mim trata-se de um obra de arte. A descrição dos sentimentos de cada personagem é uma viagem ao intrínseco âmago de cada um. Um livro que todos deveriam ler e meditar. Para mim, habita minha cabeceira.

Quando escrevi O SUBMARINO DA LAGOA RODRIGO DE FREITAS procurei, criá-lo colocando tijolo por tijolo sem um projeto definido. O livro foi fluindo, esgueirando-se e encontrando seu próprio caminho. Foi uma tarefa árdua, pois, minha formação de arquiteto bramia por uma linha de ação determinada. E foi o que nunca aconteceu. 

Acho que ler é um hábito que se adquire e um requinte que enobrece a todos. Pena que como Chico Anysio descreveu no prefácio de meu livro, muitas obras estão destinadas ao esquecimento nas prateleiras. Somos um povo que lê pouco, escreve menos ainda, mas fala muito, principalmente por falar ser de graça e não dar muito trabalho as cordas vocais.

Não quero puxar a sardinha para a minha brasa. Mas a literatura brasileira é a meu ver riquíssima. Paupérrimos, infelizmente, são aqueles que se dedicam a ela. Como eu...

quarta-feira, 24 de março de 2010

PARAÍSO OU INFERNO?


UM PARAÍSO ILUMINADO, ABENÇOADO, MAS ABANDONADO...

Um paraíso iluminado, abençoado,
mas abandonado...

Numa troca de idéias no Facebook, deparei com esta válida afirmativa de Stela de Albuquerque: Todo lugar no mundo existe luz e trevas ...
O importante são os seres que habitam, estes espaços!
O Brasil é uma terra Iluminada e abençoada.

Imediatamente respondi a ela desta forma: Stela, Adoro o Brasil. Vivi aí até 1987. Mas hoje gosto mais de visitar. Como você mesmo disse, são os seres que habitam. Ai me lembro do Jânio, dos presidentes militares, do Sarney, do Collor, do Lula... haja espaço...

Pois é a insanidade política no Brasil vem de longe. Omiti outros de similar insanidade. Afinal, desde Dom Pedro I, passando pelo domínio político café com leite (São Paulo-Minas Gerais) na primeira republica, Getulio Vargas até o Marechal Dutra, foi um desatino constante... espera aí, o Dutra foi dose!

Dutra foi aquele que veio com a infeliz idéia de acabar com o jogo no Brasil. Diria mais. Diria que esta administração cumpriu com aquilo que prometera, isto é absolutamente nada. Foram anos de fechamento de cassinos, falso pudor em relação a devassidão da Lapa e acima de tudo de importações de materiais após guerra de pouca ou nenhuma utilidade para o mercado brasileiro. Com isto escoaram-se as divisas ganhas durante o conflito mundial e a perda salarial por parte dos trabalhadores ficou difícil de ser reparada. Antes do referido marechal, o Rio de Janeiro era uma cidade de mais de um milhão e meio de habitantes, sendo então a mais populosa do país. E certamente a de maior importância política e social. O dinheiro rolava a rodo pela capital então considerada maravilhosa e os cassinos eram um fator além de turístico significativamente importante no tocante a arrecadação de divisas.

Chamada de a Monte Carlo da América do Sul, a industria do jogo que a movia, era responsável quase 50,000 pessoas em empregos diretos e indiretos. Trocando em miúdos: quase 3% da população da cidade.

Mais de trezentos milhões de cruzeiros 
eram ganhos anualmente com o jogo 
no Distrito Federal e no Estado que o circundava, 
o do Rio de Janeiro.

Não sei o valor disto hoje, já que nosso país passou por diversas moedas, esquecendo-se que ela é, como a bandeira, o hino, o idioma e as leis, um dos símbolos de nossa herança cultural. Outrossim, afirmo que na época era grana para ninguém colocar defeito. Pois bem, envolto no falso manto dos bons costumes e na defesa da família cristã, no último dia do mês de Abril, valendo-se de um forte reportagem do Jornal o Globo sobre o volume de dinheiro que corria por aquelas casas noturnas, Dutra deu o cutelo final e em decreto proibiu o jogo no país.

Muitos foram aqueles que  passaram a exigir a cranioscopia do presidente Dutra, já que ele demonstrava amplos traços de insalubridade mental e não foram poucos os que se rebelaram com sua ações impensadas e destituídas de base política. O fechamento dos cassinos, não arrefeceu o interesse da cidade em esbanjar seu dinheiro em outras plagas ou de seguir os preceitos cristãos. Mas afetou a renda per-capta de um capital.
Hoje continuamos a ter carência de empregos e mais de duas dúzias de tipos de jogos oficializados, que não rendem ao estado, o que os cassinos rendiam. E muito menos empregam o mesmo número de pessoas. Mas a insanidade do ato do marechal nunca foi reparada. E pensar que ele foi um dos seres que habitam, estes espaços...
Mas em um pais que deputado alagoano já pediu pela lei da gravidade, estes seres se proliferam em nosso pais. 

Vejam vocês. De repente beber se tornou uma arma mortífera para com a sociedade.  Particularmente, sempre acreditei que exagero, o excesso, sempre pecam mais que a falta. Posso falar isto de alma lavada, pois, não bebo qualquer tipo de álcool. Nem cerveja. Agora confundir um chefe de família que toma um cálice de vinho, com aqueles que entornam litros de whisck, é dose. Estes últimos sim, aumentam as estatísticas de acidentes fatais nas estradas e vias urbanas. Pensar de maneira distinta, isto sim é caso de cegueira. Determina também a solércia do caráter de quem assim se confunde.
Mas existem seres como estes que também habitam nossos espaços...


QUERO DEIXAR CLARO QUE ACEITO O FATO 
QUE BEBER, DIRIGIR E GOVERNAR 
NÃO COADUNAM.

Quando você mora em qualquer lugar, acaba se acostumando com o modus-vivendi. E acredita que tudo que acontece na circunvizinhança é normal. Você não acha que a cidade está suja, que o trânsito não é tão ruim, que cachorro correndo nas areias das praias não traz doenças, que a violência só acontece fora de seu bairro, que nossos políticos não devem ser levados a sério e que o por do sol o faz relevar toda e qualquer  desventura de habitar um paraíso iluminado, abençoado, mas abandonado...