EGO ARQUITETÔNICO
Você já foi arquiteto? Pois é, eu já fui.
Os arquitetos pensam de uma forma distinta. Muitas vezes não nos sentimos inseridos no mundo. pensamos que o mundo é que tem que se inserir na gente. Não é engraçado?
Temos um ego imenso. Grande. Do tamanho do Maracanã: 312,32m por 279,48m, para ser mais preciso. E normalmente somos egoístas. Egoístas até demais. As vezes me pergunto se a razão principal de não ter tido filhos foi por ser perfeccionista e pensar que poderia não gostar de minha obra genética. Coisa de louco, não?
Falo dos arquitetos de minha geração, a geração pós Brasília, que acreditou que no Brasil, tudo se possuía construir. Foi uma época de conquistas. Obras majestosas, algumas ligando nada a porra nenhuma como a transamazônica, que em anos desapareceram dominadas pela vegetação. Éramos moldados dentro de uma forma de prepotência atroz. Acreditávamos piamente que éramos os únicos que tínhamos olhos para ver o que os outros não viam. Que engenheiro era um pedreiro que deu certo. Que a função do cliente era pagar e não chiar. E que deus podia ser reconhecido como um outro arquiteto de certo talento.
Volto a afirmar. Éramos egoístas, egocêntricos e só queríamos ser adulados em nossos próprios egos. E veja no que deu. Hoje viramos engenheiros de luxo, e fazemos - via autokad - o que o cliente deseja, pois, ninguém mais quer mais uma obra de arte, uma casa feita sob medida para as suas necessidades, algo diferenciado. Hoje tem que ser barata e preferencialmente maior do que a do vizinho.
Mas creio que o arquiteto, por formação pode ser considerado um ser privilegiado. Ele tem senso de observação: olha e vê. Ele possui noção de volume e proporção. Dificilmente erra em excesso cromáticos. E tem uma noção de ordem e equilíbrio invejável. Todo este treinamento o leva a um refinamento de gosto e o tempo ao extremo bom gosto. É realmente uma profissão com detalhes fascinantes.
Saber balançar, cor, luz, volumes e diferentes materiais e formas necessita-se sabedoria e extrema visão espacial, talvez de um arquiteto. É o que a meu ver falta na atual gestão. A visão espacial de projeção do volume futuro. Vivemos de escândalo em escândalo sem uma perspectiva de melhora ou recuperação. Somos uma grande nau, impossível de ser colocada a pique, mas que sem um almirante, está dando voltas no oceano e não chegando a lugar nenhum. Não estamos interessados em avistar um farol e muito menos jogar as amarras em terra firme. Estamos apenas tocando o barco.
Porque estou falando disto agora? Não tenho a menor idéia. Talvez saudades da profissão que um dia exerci. Talvez por total falta de assunto. Talvez, ao contrário, por ser a coisa a ser falada neste exato momento, pois, em nossa lagoa, jacaré anda nadando de costas e mosquito se recusa a dar razante.
Sou e sempre serei contra a critica que não seja construtiva. Muita coisa foi feita nestes últimos 7 anos, mas como arquiteto que fui, digo que esta casa subiu, no momento em que na gestão anterior, alguém estabeleceu os alicerces. E o estabeleceu em um solo movediço, antigo, putrido, formado em décadas de descaso e abandono. Não precisamos de um assaltante de banco, ou de mais outro político demagogo que só fala para recolher votos. Precisamos alguém com o espirito de um arquiteto. Alguém me disse que Deus chegou a ser consultado, pelos tucanos, mas ele se negou. Foi sincero. Lá só vou uma vez ao ano, fantasiado e para sair apenas na banda de Ipanema, onde a maioria de meus companheiros de profissão desfilam.
Dizem as mais línguas que sempre vem de colombina...o que para mim é intriga da situação...