domingo, 7 de março de 2010

DE COLOMBINA, NA BANDA DE IPANEMA



 EGO ARQUITETÔNICO

Você já foi arquiteto? Pois é, eu já fui.

Os arquitetos pensam de uma forma distinta. Muitas vezes não nos sentimos inseridos no mundo. pensamos que o mundo é que tem que se inserir na gente. Não é engraçado?

Temos um ego imenso. Grande. Do tamanho do Maracanã: 312,32m por 279,48m, para ser mais preciso. E normalmente somos egoístas. Egoístas até demais. As vezes me pergunto se a razão principal de não ter tido filhos foi por ser perfeccionista e pensar que poderia não gostar de minha obra genética. Coisa de louco, não?

Falo dos arquitetos de minha geração, a geração pós Brasília, que acreditou que no Brasil, tudo se possuía construir. Foi uma época de conquistas. Obras majestosas, algumas ligando nada a porra nenhuma como a transamazônica, que em anos desapareceram dominadas pela vegetação. Éramos moldados dentro de uma forma de prepotência atroz. Acreditávamos piamente que éramos os únicos que tínhamos olhos para ver o que os outros não viam. Que engenheiro era um pedreiro que deu certo. Que a função do cliente era pagar e não chiar. E que deus podia ser reconhecido como um outro arquiteto de certo talento.

Volto a afirmar. Éramos egoístas, egocêntricos e só queríamos ser adulados em nossos próprios egos. E veja no que deu. Hoje viramos engenheiros de luxo, e fazemos - via autokad - o que o cliente deseja, pois, ninguém mais quer mais uma obra de arte, uma casa feita sob medida para as suas necessidades, algo diferenciado. Hoje tem que ser barata e preferencialmente maior do que a do vizinho.

Mas creio que o arquiteto, por formação pode ser considerado um ser privilegiado. Ele tem senso de observação: olha e vê. Ele possui noção de volume e proporção. Dificilmente erra em excesso cromáticos. E tem uma noção de ordem e equilíbrio invejável. Todo este treinamento o leva a um refinamento de gosto e o tempo ao extremo bom gosto. É realmente uma profissão com detalhes fascinantes.

Saber balançar, cor, luz, volumes e diferentes materiais e formas necessita-se sabedoria e extrema visão espacial, talvez de um arquiteto. É o que a meu ver falta na atual gestão. A visão espacial de projeção do volume futuro. Vivemos de escândalo em escândalo sem uma perspectiva de melhora ou recuperação. Somos uma grande nau, impossível de ser colocada a pique, mas que sem um almirante, está dando voltas no oceano e não chegando a lugar nenhum. Não estamos interessados em avistar um farol e muito menos jogar as amarras em terra firme. Estamos apenas tocando o barco.

Porque estou falando disto agora? Não tenho a menor idéia. Talvez saudades da profissão que um dia exerci. Talvez por total falta de assunto. Talvez, ao contrário, por ser a coisa a ser falada neste exato momento, pois, em nossa lagoa, jacaré anda nadando de costas e mosquito se recusa a dar razante.

Sou e sempre serei contra a critica que não seja construtiva. Muita coisa foi feita nestes últimos 7 anos, mas como arquiteto que fui, digo que esta casa subiu, no momento em que na gestão anterior, alguém estabeleceu os alicerces. E o estabeleceu em um solo movediço, antigo, putrido, formado em décadas de descaso e abandono. Não precisamos de um assaltante de banco, ou de mais outro político demagogo que só fala para recolher votos. Precisamos alguém com o espirito de um arquiteto. Alguém me disse que Deus chegou a ser consultado, pelos tucanos, mas ele se negou. Foi sincero. Lá só vou uma vez ao ano, fantasiado e para sair apenas na banda de Ipanema, onde a maioria de meus companheiros de profissão desfilam.

Dizem as mais línguas que sempre vem de colombina...o que para mim é intriga da situação...