segunda-feira, 15 de março de 2010

CRÔNICA DE UMA GRANDE SAUDADE


MEU RIO DE JANEIRO,
SEUS AROMAS, SEUS SABORES

Existem coisas na vida que deveriam ficar para sempre. Eternas, lúdicas, alegres como sensações infantis. Entre elas aromas e sabores.

Coisas etéreas a bem se dizer, mas que você não esquece jamais, como jabuticaba roubada da árvore do vizinho, ou o sorvete de frutas da sorveteria Moraes em Ipanema. E o que dizer  do cachorro quente do Genial, na madrugada de Ipanema ou o sanduba de pernil com abacaxi em Copacabana, no Cervantes? O Beco das garrafas, o da fome, a canja do Sergio Mendes a espera da primeira barca que o levaria de volta a Niterói, a Fiorentina da Zélia Hoffmann, o Antonio’s, o chocolate quente do Esquilos, o primeiro desfile da banda de Ipanema, os cartões postais do Hugo Bidet, o Veloso na Montenegro, o Castelinho, o Jangadeiros, o Zeppelin, o cine Pax, o cantar das cigarras anunciando um novo verão, o Le Bateaux do Castejá, o Regine’s, sou posterior ao Vogue e ao Sacha’s , logo destes pouco ou nada tenho a dizer… meu Deus como era bom… era bom demais. E o que dizer do requeijão poços de calda ou de um queijo catupiry com goiabada cascão na casa de sua vó. Melhor que sexo.

Pois é, talvez eu esteja até exagerando, pois corrida de submarino no Arpoador era coisa de louco. As visitas a rua Alice, as boates do Lido, os inferninhos da Lapa, as prostitutas da Vieira Souto. Pouca coisa sobrou. Coisas que você se recorda com prazer e chega até a sentir o sabor e o aroma..

Não tive o ensejo de curtir toda a época áurea do Rio de Janeiro, mas tive ainda a sorte de pegar seu finalzinho. Haviam bailes de 15 anos e de formatura no Copacabana Palace ao som da orquestra de Waldyr Calmon. Os bailes do Quitandinha, do Copacabana Palace e do Municipal, que eram verdadeiras festas de gala. Mulheres lindas, romances rápidos, lembranças inesquecíveis. E a pergola do Copacabana Palace. Imaginem se aqueles ladrilhos falassem...

E o cheiro do Rio? No meu tempo ele tinha cheiro. Hoje fede. Se foi o salitre, e até a maresia que a brisa trazia. Brisa aquela que nos tocava, mas que não conseguíamos tocar, como a mulher perfeita. Aquela que sabemos existir, mas nunca temos o ensejo de encontrar.

Não é a toa que o Rio foi batizado de cidade maravilhosa, numa época que São Paulo ainda parecia uma grande vila do interior. Coisas mudam. Hoje a cidade de São Paulo é a grande metrópole. O Rio, a vila. De há muito deixou de ser o centro cultural, social, econômico e político da nação. Brasília contribuiu em muito com isto. Hoje é apenas um dos mais belos balneários do planeta.

Copacabana, Ipanema, Leblon, este foi meu mundo, minha bolha, meu infinito, meu todo ser. Volto esta semana para revê-lo, meu Rio de Janeiro, sem querer comparar ou discuti-lo. Apenas curti-lo. E se Possível saboreá-lo. Sei que tenho que olhar para o céu, pois, hoje tem helicóptero sendo abatido, tenho que olhar para os lados, pois a marginalidade não respeita mais hora e local. E de ônibus, nunca mais. Eles viraram fogueiras de São João. Tem bala perdida e ausência sentida.

Sei que á água que molha meus pés aqui em Hallandale Beach e aquela mesma do meu amigo Atlântico, que viu fazer-me homem, passando pelos estágios de menino e rapaz. Águas que viajaram léguas e léguas, mas aqui estiveram, para uma vez mais, refrescar os meus pés e me lembrar que o velho amigo está sempre ali presente.

O infinito do oceano, sempre me mostrou que tudo a minha volta era pequeno. Ínfimos. Problemas, desilusões, infelicidades perdiam suas dimensões perante tanta imensidão.

Gostaria de ser poeta. De ter as palavras exatas para exaltar tudo que o Rio  me ensinou. Mas Deus, a mim não deu este dom. Mas pelo menos fica a resignação de nada precisar ser mais dito, já que Carlos Drumont de Andrade, que hoje senta no calçadão da praia de Copacabana para o todo sempre, o disse tudo.

Lembro de meu futebol de praia das tardes de Sábado, de meu por do sol no Arpoador na boléia de minha moto, das grandes tardes vencidas e perdidas no Maracanã, dos desfiles sofridos e admitidos ainda na Avenida, das macarronadas na segunda feira no Prive, dos festivais internacionais da canção no Maracananzinho, do réveillon nas areias de Copacabana, do jogo dE conversa fora... Ah meu Rio...

Já nem falo do Cristo, do Pão de Açúcar, dos Dois irmãos, das enseadas, do Jardim Botanico e da Floresta da Tijuca, pois, ai seria covardia.

Que mundinho pequeno, mas repleto de aromas e sabores que vivi durante 37 anos de minha existência. Hoje eles são outros. Não sei se melhores ou piores. Não cabe mais a mim, opinar. O Rio de Janeiro a mim não mais pertence. Ele é propriedade de outras gerações. Mas espero que semana que vem, possa tirar uma lasquinha de prazer, para saciar a eterna saudade que sinto de você.


RIO, COMO EU GOSTO DE VOCÊ...