domingo, 13 de junho de 2010

UM BOCEJAR DE ALTO TÉDIO




DE UMA COMPLEXIDADE SHEAKESPERIANA

Brasileiro gosta de futebol. Sonha, se banha, come, trabalha, se diverte, sempre pensando em futebol. Quando assim não o é. Durante uma Copa, assim passa a ser. Até aquela grãnfina do Nelson Rodrigues - que um dia ao chegar ao Maracanã para assistir a seu primeiro Fla-Flu, perguntou: Quem é a bola? – o faz. Pois saibam, que atualmente ela é capaz de omitir opiniões e escalar sua própria seleção. Que nunca será aquela que o responsável pela mesma considera como a melhor que possa nos representar em campo.

O Brasileiro que concorda com o treinador de nossa seleção, não é brasileiro. Apenas mora no Brasil.

O inicio desta Copa me faz prever que ela será fraca. O melhor jogo, até o presente momento, foi o da Coréia do Sul contra a Grécia. E porque? Porque os asiáticos foram os únicos a demonstrar um padrão de jogo e uma vontade de vencer. Está certo que foi contra a Grécia, que nem em um campo de futebol é capaz de organizar-se e tinha um técnico que só faltava bocejar de tanto tédio de estar por ali.

Terminado o jogo, a Argentina que jogou um feijão com arroz, sem tempero e ganhou pela diferença mínima de uma espavorida Nigéria, parecia ter conquistado a Copa. Todos se abraçavam, urravam de alegria. Maradona, que naquele terno de US$50 dÓlares mais parecia um anão em primeira formatura, estava mais enlouquecido que no dia que tomara aquelas bolinhas pouco aconselháveis, para ganhar desta mesma Argélia, anos atrás.

A Argentina ganhou duas Copas. Uma goleando um Peru em condições até hoje não explicadas, mas plenamente entendidas, para se manter na mesma. E debaixo de metralhadores e em seu solo o fez, da mesma forma que a Itália o tinha o feito décadas antes, no conhecido sistema de opressão a la Mussoline. E outro onde a genialidade de Maradona se fez presente, mesmo nos gol feito com a mão.

A França provou porque entrou nesta Copa como um gol roubado. Não tem time algum. Não tem plano de jogo. E muito menos demonstrou vontade de jogar. Aliás, a França nunca foi de futebol. Houve uma era, a era de Zidane, em que tudo transformou. Mas passou. Ganhou uma única Copa em seu solo, também, em condições até hoje não muito bem explicadas, mas igualmente bem entendidas. Perdeu a última para uma ultrapassada Itália, no exato momento em que Zidane perdeu a sua cabeça. Seu jogo contra o Uruguai, cuja a chamada era o choque entre dois campeões mundiais, foi um nada. Um zero a zero, enfadonho. Mas o que esperar de um Uruguai, que ganhou duas Copas, no tempo que as pessoas usavam bigodes untados de brilhantina Fritz Markard & Co. e bebiam cerveja Zacherbrau Munchen para abater os males estomacais. Obdulio a ganhou em pleno Maracanã, pois o Uruguai não era um time, era um pátria.

Para se ter algo a se dizer sobre o jogo Inglaterra e Estados Unidos, a chamada comercial foi o jogo disputados entre estas seleções na Copa de 1950 e ganha surpreendentemente pelos Estados Unidos por 1 a 0. Falavam em ajuste de contas. Como, se os protagonistas do jogo de Domingo, nem haviam nascido, quando o comentado evento se fez verdade? E como foi o jogo? Como o de França e Uruguai, de uma exanguidez melancólica, de uma falta de imaginação de filme intelectual sueco. O melhor foi o frango do Green, que ficou verde depois de o ter papado.

Gosto de estatísticas. Depois que esta Copa se transformou em uma feira, com 36 nações, algumas que nem conhecidas são em mapas, a coisa vem caindo. Sei que para muitos o gol e a bola não possam ser importantes. Mas na verdade o é. Em 1998 tivemos 171 gols. Em 202 menos,  um total de 162 e na última, a patética que jogamos de sapatos altos e com excesso de peso, apenas 141. Pelo jeito, como as coisas estão se configurando até aqui, não passaremos de 120 nesta.

Um comentarista da Univision que consegue dizer mais besteira que o Galvão Bueno – sim é possível, eu acabei de tomar conhecimento deste fato - chegou a dizer, que o importante é a intenção. Meu amigo o importante numa Copa é ganhá-la, da forma que o for. A intenção fica na cabeça daqueles que nunca chutaram. Perdemos uma na Espanha, pois, tínhamos um grande time, mas com apenas boas intenções. Que nem faltas podiam cometer. Que com um empate classificatório às mãos, assim mesmo tentou ganhar o jogo e o Paolo Rossi nos liquidou sozinho na pequena área.

Acreditem com ações bélicas a Inglaterra não só conquistou metade do universo, como também ganhou uma Copa, em seu território, sem que a bola precisasse sequer entrar, naquele seu gol fantasma, o terceiro, na final contra o melhor time da Copa, a Holanda. Ninguém monta um império ou ganha uma Copa, sem estar embargado em cinismo e sadismo.

Em 1958, a Suécia, a dona da casa, deixou a sua diplomatica passividade de lado e quanto devorou seus adversários alemães em campo, para chegar a uma final contra o Brasil. Só não conseguiu fazer o mesmo conosco, pois, o Garrincha e o Pelé eram tão rápidos, que eles não tiveram a oportunidade.

Como diria Nelson Rodrigues: a mais sórdida pelada é de uma complexidade shakesperiana. Garrincha ganhou duas Copas para nós, porque ele não raciocinava. Ele agia. Nós raciocinamos, logo, sempre estaríamos um ou dois segundos atrasados em relação a ele. O instinto de garrincha era superior ao raciocínio do chamado normal, assim como o do tigre o é em relação a nós.

O futebol vai de mal a pior. As seleções perderam sua nacionalidade. A exceção de um jogador, o resto dos argentinos jogam fora de suas fronteiras. A exceção de três, todos os brasileiros igualmente jogam na Europa. Quando a França nos desclassificou na última Copa, tinha mais jogador brasileiro parabenizando o Zidane que seus próprios companheiros. O Robinho só faltou se ajoelhar e agradecer o grande craque tê-lo deixado compartilhar o mesmo campo em que reinou. Este subdesenvolvimento, confundido como civilidade, inverte tudo e nos prejudica.

João Saldanha, tentou mudar a nossa imagem em 1970, com suas feras, que na Inglaterra foram vistos como canarinhos e em campo foram trucidados. Espero que o Dunga, o faça como o Saldanha, a partir de terça-feira.