A TRANCOS E BARRANCOS
Nelson Rodrigues, o homem a meu ver que sempre teve razão uma vez escreveu com extrema propriedade: “Nada nos humilha mais do que a coragem alheia”. E esta máxima, em se tratando de futebol, que a principio para muitos pode até parecer inatual, na verdade não o é. Vejam o caso do Maradona.
Maradona foi um craque. Diria que apenas inferior a Pelé e talvez Garrincha. Com a vantagem que possuí a sanidade mental que Garrincha nunca teve e um melhor discernimento que Pelé, que sempre teve melhores decisões dentro, do que fora do campo. Pois bem, Maradona foi quase apedrejado porque teve a insanidade de escalar três atacantes. Esta ousadia era um acinte, a todas demais nações que escalavam quando muito dois. Hoje a Argentina está nas quartas de finais com 10 gols em 4 jogos e o Messi, que muitos consideram o melhor jogador do mundo, ainda se dá ao luxo de não ter feito um misero, sequer. Imaginem, quando ele começar a fazer...
Outro fator que merece destaque. Maradona, dentro daquela sua vaidade leonina, trouxe para si a atenção de toda a imprensa. Ninguém mais fala dos jogadores. Todos falam dele. A pressão passa a estar em sua pessoa e não em seu time, que hoje parece estar jogando para ele. Com alegria e união. Dunga, com suas atitudes pouco educadas, igualmente parece ter trazido para si a atenção da mídia. Apenas que não vejo nosso time, até aqui, demonstrar a alegria que é necessária. Existe mais tensão do que tesão em jogar. Mas talvez isto seja o reflexo do que nosso treinador o foi quando atleta.
Dunga, não acredita no gol, pois, na verdade nunca teve uma afinidade maior com este ato. O de colocar a bola alheia dentro no gol adversário. Como a jogador, aprendeu a destruir, nunca a construir e muito menos marcar gols. Era um carregador de piano dentro de uma capa de xerife. Se impunha em campo não pelo respeito à sua arte de jogar e sim pelo estrago que as suas chuteiras poderiam fazer em relação as canelas alheias. Minha avó Adelina sempre me disse, que a ocasião faz o ladrão, da mesma forma que em outras ocasiões comentava que o velho chinelo se amoldava ao pé de seu dono. Creio que este é o caso de Dunga. Se acostumou a fazer um trabalho dentro de campo e agora como treinador não consegue imaginar outra coisa que não seja a sua forma de ser, quando jogador era. Há de se convir que Maradona, dentro das quatro linhas, era o oposto.
Mas mesmo assim eu acho que esta mão do destino – não estou me referindo a mão de Deus do Maradona contra a Inglaterra – que tanto tem ajudado a Argentina, que diga-se de passagem não precisa, finalmente chegou a seu final. Faltam três jogos para o time do Maradona chegar onde pensa ser o seu lugar de direito. Mas para tal terá que enfrentar a Alemanha, provavelmente a seguir a Espanha e se Deus provar ser brasileiro mais uma vez, penso que o Brasil. Como a defesa da Argentina tem muito cabelo, mas pouco futebol, pode tropeçar. Nós temos um futuro mais ameno. Holanda e provavelmente Uruguai.
A Argentina tem mais time que o México. Mas não foi isto que se viu nos primeiros 15 minutos, até que dois elementos do trio de arbitragem, resolveram dar um destino ao pais asteca. O impendimento de Tevez, além de cruel, foi de uma nitidez elefântica. Volto a frisar, enquanto a FIFA se preocupar com a única coisa que não precisa ser mexida, que é a bola, e não tentar adentrar ao século XXI, o futebol estará sujeito a erros inadimissíveis como o primeiro gol da Argentina, neste último domingo. Sou do tempo do rádio, onde toda bola passava raspando a trave e que todo time adversário fazia penalty em nossa seleção. A TV, um artefato sem qualquer imaginação, não sabe manter o lirismo dos locutores do rádio. Tem o escrúpulo da veracidade. Não nos descreve o lance. Simplesmente o mostra. E com a digitalização, hoje você os vê, com seus mínimos detalhes. Assim sendo, tenho a ousadia de afirmar, que quem vê pela televisão, tem um maior discernimento do que, quem está dentro do campo, e muitas vezes longe de onde as coisas estão acontecendo. A imagem televisiva está em cima, o juiz, na maioria das vezes não.
Temos que implantar no futebol o recall, como hoje existe no tennis, no basquete e em outros esportes como os jogados nos Estados Unidos. Principalmente para lances como o do primeiro gol de Tevez, e o gol de empate da Inglaterra, consignado legitimamente horas antes, mas que não foi visto nem pelo juiz, nem pelo bandeirinha. Dois patetas, como a dupla do jogo seguinte. Aliás, pior do que a bola. Pior do que as fracas atuações dos times. São na verdade as arbitragens. Simplesmente abaixo da critica. Erros apos erros. Muitos cruciais. A FIFA é a culpada, pois, inventa uma bola que ninguém parece aceitar e deixa que as coisas aconteçam, como os erros citados acima, erros estes que estão prejudicando nações em suas tentativas de se manter na disputa de uma Copa do Mundo. Aí em pergunto: Quem paga este prejuízo?