sábado, 12 de junho de 2010

PRECISAMOS AMANHACER



A AURORA DESTE MEU SÁBADO

Hoje eu acordei muito cedo. Talvez excitado por termos ontem passado a marca dos 2,600 amigos no Facebook. Eram quatro e meia da manhã e ainda estava longe de amanhecer. Pensei, dando traços as bolas, no que foram estes menos de dois anos tendo este mural aberto, numa conversa quase diária. Gente foi trazendo gente e o número hoje me fascina. Me arrepia, me envaidece... Como já que estava acordado, concentrei-me em meu trabalho, mas de repente uma força maior fez-me desviar-me do mesmo: a aurora.

Volto a repetir, a natureza lhe proporciona espetáculos diários. Como vocês já devem ter notado, o meu favorito é o por do sol. Amo-o e procuro não perder nenhuma de suas apresentações. Mas existem outros, tão belos quanto e grátis como ele, mas que por serem, encenados em horas inapropriadas, as vezes nunca, ou poucas vezes, temos a oportunidade de acompanhá-los. A aurora é um deles. Sapeca e alvissareira, mas que dar a cor de sua existência, quando a unanimidade "sonorífera", impera.

Para quem possa achar que a aurora seja uma vizinha, explico que trata-se daquele momento em que a noite ainda não se foi e o dia está pertinho de chegar. Trata-se de um momento de extrema beleza em transição, como o Outono o é na mudança de cores da vegetação que o cerca. Ah, meus amigos, pobres os brasileiros que não podem curtir o Outono, a mais bela estação do ano. Temos apenas alguns resquícios desta estação em alguns lugares do extremo sul de nossa nação. Mas afinal, não se pode ter tudo e diria que somos privilegiados em outros aspectos. Mas voltemos a minha aurora e deixemos para una outra oportunidade para nos atermos ao Outono.

Eu parei de trabalhar, lá pela 15 para seis e fiquei a admirar as mudanças que o céu me fazia apreciar. Um espetáculo difícil de se descrever. Foi então que me lembrei que Paulo Mendes Campos um dia o tinha feito. Não descansei enquanto não achei esta pequena obra de arte escrita, não sei bem quando. Mas tinha certeza que a tinha. Em algum lugar. Abaixo de qualquer coisa. E não estava errado.

A única coisa que diferenciava a aurora do Paulo com a minha era a cor. A minha foi púrpura a dele como pode ser notada foi assim:

“A aurora chegou vestida de rosa, passou pela vidraça, passou através de minhas pálpebras, acordou meus olhos. Mas não me acordou a alma, que ficou dorme-não-dormindo, boba e semi-iluminada. Depois, ela, a aurora, foi esvoaçar sobre os telhados, e era como se aquilo estivesse acontecendo no passado. Meus olhos ficaram espiando aquela aurora doida, que esvoaçava e se adelgaçava e deixava nascer de seu ventre róseo os primeiros passarinhos matutinos... Como a doçura da preguiça de uma criatura que amanhece é infinita! Como às vezes, ao surgir do dia, o homem se descobre miraculosamente perdioado de todos os crimes, crimes não, de todas as coisas feias que cometeu... o sofrimento se junta, vai se juntando dentro da gente, lacerando, doendo, até que um dia a dor é tanta que nos pune... Voltando a aurora, ela começou a sentir que morria. Ficou pálida... Ah, a aurora foi ficando palidíssima e morreu, morreu bem em cima de meus olhos, no instante em que as duas últimas estrelhinhas eram riscadas do show notuno. Amanhecia implacavelmente. Aí chegou a vez do enterro da aurora. O coche foi levado por andorinhas de sobrecasaca, foi levado para muito longe, para muito alem de um monte escuro, e desapareceu...”

Minha aurora é púrpura, ela não trás passarinhos, pois eles ficam lá embaixo da torre em que habito e não existe um monte escuro onde ela possa descansar,  sem que sua intimidade seja violada. Mas a beleza da mesma, é a mesma meu caro Paulo. O problema é que você tem que estar bem cedinho acordado, antes mesmo do canto do primeiro galo, para poder apreciar este momento de tanta beleza. Hoje tive a sorte de fazê-lo. Quando rapaz em várias oportunidades tive o ensejo de participar deste momentos, pois, na maioria das vezes, ia para a cama com o sol já levantado. O problema é que era jovem. E quando se é jovem, muitas vezes, não nos damos o direito de parar e apreciar aquilo que a natureza nos oferece todos os dias.

Foi então que fiz uma correlação entre a aurora que acabara de ver partir e o nosso Brasil. Acho que nestes últimos 16 anos, vivemos a nossa aurora. Depois de muitos anos de tremenda escuridão, duas gestões criaram a oportunidade de um dia amanhecer para nosso pais. Estamos bem pertinho. Muito cerca de ter um sol sobre nossas cabeças por décadas a fio. Depende agora apenas de nós. Outubro está aí Se votarmos com a cabeça e não com o coração ou porque alguém lhe indicou este ou aquele, teremos muito em breve um amanhecer glorioso. Não que tenha algo contra a aurora. Mas ela para ser o que é, tem que ser passageira. E nós como uma nação, precisamos amanhecer.

Um bom dia para todos.