quinta-feira, 3 de junho de 2010

AQUI MAIS UMA VEZ QUEREM QUE VOCÊ PASSE PELO PALHAÇO



 A FUGA DO CONTROLHE


Talvez, o presidente Lula, ao invés de ter sua atenção apenas nos gibis de figurinhas, devesse tomar conhecimento de depoimentos como estes. Eles são publicados em vespertinos de grande circulação, outrossim poucos os lêem e parece que ninguém se preocupa com o fato.  Duas frases de efeito, e nosso presidente vende seu peixe, mesmo fedido e facilmente detectado com já estragado. Na verdade, sonha com o cheque sueco do Premio Nobel, ou a presidência da OEA. Fato iniludível, acima de qualquer dúvida racional e acima de qualquer sofisma que possa vir a ser vendido pelos PTralhas.


Como publiquei anteriormente, Nelson Rodrigues assim escreveu em 1968: "nas almas menos nobres, a razão pode subir a cabeça em forma de vil embriagues. E os piores sentimentos, e as crueldades mais secretas e inconfessas, e todos os demônios do orgulho são liberados". E vocês sabem a opinião de Proust sobre estes orgulhos...


Conheço o Sergio Guerreiro, desde o tempo que dividíamos um banco no ginasial e no cientifico do colégio Santo Ignácio, ali em Botafogo. O que ele escreve, não é dito por alguém que acha ou tem impressão. E por alguém que vive o problema e sabe exatamente do que se trata. 


EXISTE UMA TENTATIVA IRANIANA DE FUGIR AO CONTROLE, E FUGIR AO CONTROLE É ALGO QUE NOSSO PRESIDENTE PARECE CONHECER E PRATICAR, MUITO BEM.


Sei que infelizmente as unanimidades decidem por nós no Brasil, e nosso presidente não parece aquela pessoa ligada aos pequenos detalhes. Gosta da big picture. Por isto afirmaria que um camelo vendedor de pilhas recicladas é mais ouvido por ele, que um técnico em assuntos complexos.


PRIMEIRO CADERNO - 01/06/2010
Por que o Irã foge do controle
SERGIO GUERREIRO RIBEIRO
Nos últimos acontecimentos envolvendo a questão do programa nuclear iraniano ficou a impressão, equivocada, de que a única maneira de se produzir a bomba nuclear seria através do urânio enriquecido em níveis superiores a 90%. E, portanto, a pretensão do Irã de chegar a 20% de enriquecimento só poderia ser para fins pacíficos.

Das duas bombas lançadas sobre o Japão uma era de urânio (little boy) e a outra de plutônio (fat man).
A maneira mais fácil de se chegar à bomba é através do isótopo do plutônio com massa atômica 239 (Pt-239). Não só por serem necessários apenas cerca de 8kg, ou até menos, de plutônio contendo 93% de Pt-239 (contra cerca de 25kg de urânio com enriquecimento superior a 90% de U-235), mas por ser de obtenção mais fácil em reatores específicos para este fim.

O plutônio, não está presente na natureza em quantidades significativas. É obtido a partir do U-238 (isótopo do urânio que constitui a maior parte, 99,3%, do urânio natural encontrado nas minas), pela captura de um nêutron em um reator em funcionamento.
O urânio 238 é abundante na natureza e mais abundante ainda em instalações de enriquecimento de urânio, que produzem uma fração mais rica em U-235 e outra com quase 100% de U-238 — base para a produção de plutônio.

Os primeiros reatores plutonígenos eram de urânio natural (enriquecimento zero) moderados a grafite e resfriados a gás. Para minimizar as perdas de nêutrons pelas superfícies eram de grandes dimensões. O primeiro reator nuclear, montado pelo gênio italiano Enrico Fermi, foi a “Pilha” de Chicago também a urânio natural/grafite, assim como o reator plutonígeno de Oak Ridge (hoje um museu) — protótipo para o reator de Hanford, que produziu plutônio para uma das bombas nucleares lançadas no Japão, e foi construído em apenas onze meses.
De maneira geral, quanto maior o enriquecimento de urânio menor pode ser o tamanho do reator, de modo que com 20% de enriquecimento e água leve pode-se atingir a “criticalidade” em reatores de pequenas dimensões e rápida construção.
Com água pesada, outra área de pesquisa em que o Irã está envolvido, pode-se construir um reator com enriquecimento zero ou algum enriquecimento nas dimensões reduzidas.

A produção de plutônio para artefatos nucleares (weapon grade) difere daquela usada em reatores (reactor grade) quanto ao teor do isótopo Pt-240 que é produzido a partir do Pt-239, quando este captura um nêutron se não for retirado logo do reator após sua formação. O Pt-240 é considerado um contaminante para a produção de bombas, pois se fissiona espontaneamente emitindo grande quantidade de calor — o que iria derreter os componentes necessários para a detonação da bomba (explosivos).

Portanto, o plutônio para armas (Pt-239) deve ser removido rapidamente do reator após sua formação, geralmente poucas semanas — com teor de Pt-240 menor do que 7%. Isto apresenta enorme vantagem no manuseio do Pt-239, pois o Pt-240 é muito mais radioativo e exige grande complexidade para seu manuseio, enquanto o Pt-239 pode ser manipulado apenas com a utilização de luvas grossas.
O plutônio produzido em reatores de potência apresenta cerca de 60% ou menos de Pt-239 — não se presta diretamente à produção de artefatos nucleares, necessitando operações complexas de reprocessamento para elevar o teor (de Pt-239) para weapon grade ou maior que 93%.
Em um reator plutonígeno, enriquecido a 20% de U-235, pode-se também — para “disfarçar” — produzir isótopos para uso em diagnóstico médico: a única maneira de se detectar a produção do plutônio weapon grade é através do controle total do inventário de material nuclear do reator através da AIEA (Agência Internacional de Energia Atômica).

Apenas como exemplo, as usinas brasileiras têm as entradas e saídas de material nuclear lacradas pela Agência que controla todo o movimento juntamente com a Comissão Nuclear de Energia Nuclear (Cnen).

Assim, o acordo nuclear que Irã, Brasil e Turquia assinaram só seria aceitável se o Irã renunciasse a continuar enriquecendo urânio a 20% ou aceitasse inspeções completas da AIEA. E, como isso o Irã não aceita, está dizendo ao mundo que tem a intenção de construir artefatos nucleares.
O Brasil corre o risco de ficar desmoralizado ao defender um acordo que pode render dividendos políticos a curto prazo, mas terá efeitos graves especialmente num mundo constantemente ameaçado por regimes extremistas.


SERGIO GUERREIRO RIBEIRO foi meu companheiro no Colégio Santo Igácio, e é al\em de engenheiro mecânico também nuclear, foi pesquisador da Comissão Nuclear de Energia Nuclear (Cnen) e é pesquisador da Coppe/UFRJ.