UMA VOZ PUNGENTE EM TOM PLANGENTE
O Brasil é um pais complicado. Eu acho que disse isto ontem, ante ontem e creio que a três dias atrás. Pois é, volto a dizer hoje. E não estou exagerando, nem sendo repetitivo, embora repetitivo eu sempre tenha demonstrado ser.
Mas sempre o fomos e parece que ainda continuaremos a ser, se o continuísmo se implantar pelos seguintes quatro anos. A mudança de todo o contexto em relação ao cidadão Luis Inácio Lula de silva – de presidente de um republica a de cidadão comum, sem as luzes e os microfones à sua inteira disposição, que o cargo lhe propiciava – dará o tempo necessário para que nosso ex-presidente tente equilibrar sua personalidade, que neste último ano oscilou de forma não muito coerente e deveras comprometida com situações e personagens pouco criveis aos olhos do resto da humanidade.
Em caso de uma derrota de sua herdeira, o cidadão Luis Inácio Lula da Silva estará então momentaneamente destituído dos instrumentos que propiciavam seus métodos demagogicamente coercitivos a funcionar nestes últimos 8 anos, e as novas circunstâncias o levarão a aceitar a nova ordem hierárquica. Só não acredito que ele como o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso – que voltou a lecionar – volte a exercer a sua profissão, a de torneiro mecânico ou líder sindicalista. Seu novo guarda roupa não combina com suas antigas funções. Até seu cabelo e sua barba sofreram um novo tratamento. Enfim, o sindicalista e trabalhador foi extinto de forma permanente na mente do subseqüente presidente com aspirações frustradas de um dia poder se considerar um estadista. E como frustou-se, irritou-se!
O exercício burguês da acumulação, seus interesses inconfessáveis de estar sendo sempre o centro das atenções, suas tendências dinásticas, terão que ser arrefecidas por um breve período. A necessidade quase doentia de desterritorializar suas raízes, qual Macunaíma, de viajar de forma exagerada, de abrir embaixadas em paises de quem ninguém ouviu falar, de reconstruir paises que foram destruídos por suas próprias administrações que ainda se mantém no poder, da heroização de lideres que o mundo repudia, de participar de encenações de diplomacia internacional, de abster-se de reconstruir o próprio pais, de nunca tentar valorizar a erudição e o bom gosto, terão que ser recicladas. O mundo se recicla. Os dirigentes do mesmo o terão que igualmente fazer. As cicatrizes internas e externas deverão ser então sanadas de forma definitiva. As lutas fratricidas, abolidas. O individualismo amador, rejeitado. Enfim o caroço tem que se encaixar na fruta e não de forma inversa.
E o que nos sobra? Tentar conviver com uma herdeira despreparada e ali colocada para satisfazer vaidades pessoais? Nos resignarmos ao quietismo por mais 4 anos? Quiçá, 8? De nos mantermos a rejeitar a realidade? De aceitar o anarquismo do Movimento dos Sem terra? De ignorar os escândalos constantes em todos os nossos três poderes? De sorrirmos perante as gigantescas imposturas? De vermos brasileiros morrerem nas filas e nas salas de espera de nosso hospitais? De compactuarmos com a construção de favelas em morros de lixo? De ver 200 brasileiros morrer por dia vitimas da insegurança que nos permeia, sem contar as vitimas de desastres, como se estivéssemos vivendo uma cruenta guerra civil? De a qualquer chuva participarmos de desgraças em um pais que pretende sediar uma Copa do mundo e uma Olimpíada? E para tal sermos obrigados a lamber o silêncio da cumplicidade? De nos mantermos insuscetíveis ao espanto? De compactuar com o clima folhetinesco que a camada menos abonada de nossa população teve seu poder aquisitivo aumentado, se ele na verdade paga apenas o juros e nunca o principal? Teremos que eternamente exercermos esta inexcedível cegueira biltre, para não vomitar o café da manhã?
Desculpe, aqueles que me lêem neste momento, mas não podemos nos proteger eternamente à sombra da unanimidade. Não podemos achar que nosso pais é uma empresa, onde apenas os lucros são importantes, não exatamente aqueles que fazem esta empresa chegar ao ponto em que se encontra. Precisamos de aqui por diante, de alguém que administre, que trabalhe, que coíba os gastos públicos, não apenas viaje e fale. Precisamos de alguém que prepare o Brasil para um possível tsunami. Não temos barcos e bóias suficientes se isto um dia vier a acontecer.
Se Deus - que é dito como brasileiro - nos der a graça da interrupção deste continuísmo politíco nestas próximas eleições de Outubro, não nos deixemos levar por revanchísmos e sim por otimísmo. levantemos a bandeira do Love More. Hate Less!
Aqui termino com uma lembrança. Uma voz pungente em tom plangente sussurrou os ouvidos de Nelson Rodrigues em 1968 e acredito que o incentivou a escrever que “o brasileiro se incorpora a qualquer grupo de mais de 5 pessoas. De mais a mais temos fascinação do escândalo”.
E ele não estava errado..s